Deixe-me entrar
Os americanos têm certa dificuldade de olhar para fora do próprio país. E para eles, cinema só o feito em sua terra. Essa é a única justificativa para a enxurrada de refilmagens que Hollywood vem fazendo com filmes recentes de outros países. Até de um vencedor do Oscar do ano passado, eles já estão com projeto de nova versão. Por isso, não vi com bons olhos a refilmagem desse belíssimo filme sueco, que encantou a todos pouco mais de um ano. Deixe ela entrar é daqueles filmes sensíveis, belos, tocantes e muito bem feitos que nos deixam felizes por existir cinema. Tinha medo que a versão americana estragasse a beleza da obra, transformando-a em terror barato. Graças a Deus pelo menos não fizeram isso. Tirando os melhores recursos para efeitos especiais que acabou mostrando um pouco mais dos ataques, o que tirou um pouco do charme de Abby. E tirando a necessidade de americano explicar tudo, como se estivéssemos vivendo em Idiocracia, o filme é uma cópia bem fiel do original.
A história é a mesma, só muda o nome dos personagens e o local. O garoto Owen (antes Oskar) vive apenas com a mãe em um pequeno bairro de uma cidadezinha do interior. No colégio ele é sempre perturbado por colegas maiores que batem e ameaçam o garoto de todas as formas. Sempre escondendo a verdade, Owen é solitário e calado, até que vê uma menina se mudar para o apartamento vizinho. Abby só aparece à noite e parece bastante misteriosa. Owen vai se aproximar dela aos poucos, sem saber o que há por trás daquela garota e do homem que a acompanha, que ele acredita ser seu pai.
É difícil analisar as escolhas de Matt Reeves seja como diretor ou roteirista, já que ele praticamente copia as escolhas de Tomas Alfredson e John Ajvide Lindqvist, aliás, o nome de Lindqvist está creditado em roteiro, porque é praticamente a mesma história que ele criou para o livro e para o filme original. As poucas diferenças acabam tirando um pouco do charme. Primeiro na fotografia, muito mais clara aqui do que na versão sueca, tira boa parte da questão sombria que nos deixava tensos o tempo todo. Há ainda a cena do hospital, muito mais dramática, com muito mais efeitos especiais. Mas, achei até realista, aquele fogo do primeiro filme tinha me incomodado. Segundo, a necessidade de deixar as coisas explícitas. Não basta sugerir que a garota seja um vampiro, ela tem que aparecer mordendo pescoços e tendo seu rosto e olhos transfigurados. Não basta sugerir o passado do guarda-costas, isso tem que ficar claro em algumas cenas. Ainda bem que não fica claro os sentimentos da garota em relação a Owen. Ela realmente tem a capacidade de se apaixonar? Muita coisa ainda fica subentendida.
A garotinha Chloe Moretz comprova que é mesmo uma grande revelação. Sua interpretação de Abby é convincente, forte, apesar de eu ter que confessar que tenho muito mais medo de Hit-Girl do filme Kick-Ass. Richard Jenkins está bem como o acompanhante de Abby, conseguindo uma boa tensão dramática daquela situação peculiar em que vive. Já o garotinho Kodi Smit-McPhee está bem, mas esperava mais dele, já que me surpreendeu em A Estrada. Talvez o olhar ingênuo do sueco Kare Hedebrant ainda esteja em minha mente. Realmente Oskar me emocionou mais que Owen.
A sensação que fica após a sessão é aquela de que já suspeitávamos. Um filme desnecessário. Não que seja ruim, mas nada acrescenta a uma obra tão recente e já tão bem realizada. Um remake tem dois motivos, ou a obra original é muito antiga e pouco acessível, ou uma nova roupagem que vá revolucionar nem que seja apenas algum aspecto da obra. Este não se enquadra em nenhum dos casos. É uma cópia extremamente fiel, quase um exercício de imitação. É um filme ruim? Longe disso. É uma grande versão de um grande filme. A força da história nos arrebata, mas nada nos acrescenta. Fica a pergunta: pra quê? Esses americanos...
Deixe-me entrar (Let Me In: 2010 / EUA, Reino Unido)
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves e John Ajvide Lindqvist
Com: Kodi Smit-McPhee, Chloe Moretz, Richard Jenkins, Elias Koteas.
Duração: 116 min
A história é a mesma, só muda o nome dos personagens e o local. O garoto Owen (antes Oskar) vive apenas com a mãe em um pequeno bairro de uma cidadezinha do interior. No colégio ele é sempre perturbado por colegas maiores que batem e ameaçam o garoto de todas as formas. Sempre escondendo a verdade, Owen é solitário e calado, até que vê uma menina se mudar para o apartamento vizinho. Abby só aparece à noite e parece bastante misteriosa. Owen vai se aproximar dela aos poucos, sem saber o que há por trás daquela garota e do homem que a acompanha, que ele acredita ser seu pai.
É difícil analisar as escolhas de Matt Reeves seja como diretor ou roteirista, já que ele praticamente copia as escolhas de Tomas Alfredson e John Ajvide Lindqvist, aliás, o nome de Lindqvist está creditado em roteiro, porque é praticamente a mesma história que ele criou para o livro e para o filme original. As poucas diferenças acabam tirando um pouco do charme. Primeiro na fotografia, muito mais clara aqui do que na versão sueca, tira boa parte da questão sombria que nos deixava tensos o tempo todo. Há ainda a cena do hospital, muito mais dramática, com muito mais efeitos especiais. Mas, achei até realista, aquele fogo do primeiro filme tinha me incomodado. Segundo, a necessidade de deixar as coisas explícitas. Não basta sugerir que a garota seja um vampiro, ela tem que aparecer mordendo pescoços e tendo seu rosto e olhos transfigurados. Não basta sugerir o passado do guarda-costas, isso tem que ficar claro em algumas cenas. Ainda bem que não fica claro os sentimentos da garota em relação a Owen. Ela realmente tem a capacidade de se apaixonar? Muita coisa ainda fica subentendida.
A garotinha Chloe Moretz comprova que é mesmo uma grande revelação. Sua interpretação de Abby é convincente, forte, apesar de eu ter que confessar que tenho muito mais medo de Hit-Girl do filme Kick-Ass. Richard Jenkins está bem como o acompanhante de Abby, conseguindo uma boa tensão dramática daquela situação peculiar em que vive. Já o garotinho Kodi Smit-McPhee está bem, mas esperava mais dele, já que me surpreendeu em A Estrada. Talvez o olhar ingênuo do sueco Kare Hedebrant ainda esteja em minha mente. Realmente Oskar me emocionou mais que Owen.
A sensação que fica após a sessão é aquela de que já suspeitávamos. Um filme desnecessário. Não que seja ruim, mas nada acrescenta a uma obra tão recente e já tão bem realizada. Um remake tem dois motivos, ou a obra original é muito antiga e pouco acessível, ou uma nova roupagem que vá revolucionar nem que seja apenas algum aspecto da obra. Este não se enquadra em nenhum dos casos. É uma cópia extremamente fiel, quase um exercício de imitação. É um filme ruim? Longe disso. É uma grande versão de um grande filme. A força da história nos arrebata, mas nada nos acrescenta. Fica a pergunta: pra quê? Esses americanos...
Deixe-me entrar (Let Me In: 2010 / EUA, Reino Unido)
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves e John Ajvide Lindqvist
Com: Kodi Smit-McPhee, Chloe Moretz, Richard Jenkins, Elias Koteas.
Duração: 116 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Deixe-me entrar
2011-02-22T08:15:00-03:00
Amanda Aouad
Chloe Grace Moretz|critica|drama|terror|
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