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Contágio
Filmes catástrofes existem aos montes. Ficção científica com vírus de potencial epidemia, então, nem se fala. O que chama a atenção no novo filme de Steven Soderbergh, no entanto, é o clima de realidade e a não concentração das atenções nos Estados Unidos, apesar de ficar boa parte ainda no país.
Contágio é um filme bem realizado, apesar de não empolgar em nenhum momento. A construção do roteiro de Scott Z. Burns opta por pincelar as situações sem se aprofundar em nenhuma delas. Temos histórias como as de um pai após perder a mulher e enteado tentanto proteger a filha. Dos médicos, investigadores da CDB, da médica investigativa de Genebra, do grupo de Hong Kong, do blogueiro desconfiado que quer chamar a atenção, mas não podemos dizer que nenhum seja exatamente o protagonista. Talvez o vilão seja o principal personagem, o vírus apelidado de MEV-1. É a trajetória dele que acompanhamos desde o primeiro dia, ou melhor do segundo. Criando assim uma expectativa quase tola para o que teria acontecido no primeiro dia.
Mas, antes mesmo da história, o que chama a atenção no filme é outra característica de Steven Soderbergh, reunir elencos estrelares. Aqui temos Matt Damon, em sua sexta parceria com o diretor, Jude Law, Marion Cotillard, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet, Laurence Fishburne e John Hawkes. Todos vencedores ou concorrentes ao Oscar, com atuações convincentes, mas nem por isso marcantes ou que mereçam maior destaque. Isso não por culpa deles, mas pelo roteiro que não se aprofunda em nenhuma das histórias. Ainda assim, vemos personagens bem desenvolvidos, com camadas psicológicas e peculiaridades em cada situação apresentada.
O filme segue esse ritmo recortado em uma mistura de suspense e ficção científica. Sempre detalhando o processo de investigação do vírus, as discussões sobre resoluções, construindo cenários mundiais, com conferências em vídeo e mobilização geral. Os Estados Unidos continuam no centro do mundo, é lá que surge o primeiro caso, apesar das pistas que levam a Hong Kong e do vídeo do homem no Japão. Aliás, a internet entra como elemento fundamental nessa construção de mundo globalizado. As possibilidades da web 2.0, da disseminação de informações, das teorias da conspiração, das incertezas e manipulações que só mudam de endereço. Steven Soderbergh consegue retratar esse clima de realidade, apesar de ter alguns exageros como, por exemplo, a preocupação apenas com uma vacina para o tal vírus, sem nenhum esforço para encontrar um tratamento ou prevenção do mesmo.
O clima de medo é bem construído. Soderbergh nos passa isso em imagens sempre em planos detalhes, com o vírus se espalhando a cada tosse, espirro, toque de mãos. Cenas como o rapaz no ônibus tocando em todas as barras de ferro ou o olhar de Marion Cotillard no banco de Hong Kong quando o rapaz fala dos sintomas da mãe são de deixar qualquer um paranóico. O desespero crescente vai piorando a cada caso de morte. As cidades vão sendo isoladas, os saques a supermercados e farmácias se tornam frequentes, o caos toma conta do dia-a-dia. O clima de tensão é retratado em cada nova situação, em cada atitude impensada, em cada nova perda. É essa onda progressiva que marca o filme.
Contágio é daqueles filmes de epidemia que nos fazem ter uma sensação de realidade pela forma como o vírus surge, as explicações científicas para sua construção, as relações com a gripe espanhola de 1918 que matou mais de 100 milhões de pessoas, a forma como os governantes lidam com a situação e os exemplos particulares que vão sendo destacados. Não traz grandes novidades cinematográficas, não nos empolga com emoções extremas, mas é eficiente em contar uma história e nos deixa alerta com a sensação de que aquilo é mesmo possível. Você pode sair do cinema paranóico com cada aperto de mão de um estranho. Aliás, a explicação para o surgimento desse gesto é uma curiosidade interessante do filme.
Contágio (Contagion: 2011 / EUA)
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Scott Z. Burns
Com: Matt Damon, Jude Law, Marion Cotillard, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet, Laurence Fishburne, John Hawkes, Bryan Cranston.
Duração: 105 min.
Contágio é um filme bem realizado, apesar de não empolgar em nenhum momento. A construção do roteiro de Scott Z. Burns opta por pincelar as situações sem se aprofundar em nenhuma delas. Temos histórias como as de um pai após perder a mulher e enteado tentanto proteger a filha. Dos médicos, investigadores da CDB, da médica investigativa de Genebra, do grupo de Hong Kong, do blogueiro desconfiado que quer chamar a atenção, mas não podemos dizer que nenhum seja exatamente o protagonista. Talvez o vilão seja o principal personagem, o vírus apelidado de MEV-1. É a trajetória dele que acompanhamos desde o primeiro dia, ou melhor do segundo. Criando assim uma expectativa quase tola para o que teria acontecido no primeiro dia.
Mas, antes mesmo da história, o que chama a atenção no filme é outra característica de Steven Soderbergh, reunir elencos estrelares. Aqui temos Matt Damon, em sua sexta parceria com o diretor, Jude Law, Marion Cotillard, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet, Laurence Fishburne e John Hawkes. Todos vencedores ou concorrentes ao Oscar, com atuações convincentes, mas nem por isso marcantes ou que mereçam maior destaque. Isso não por culpa deles, mas pelo roteiro que não se aprofunda em nenhuma das histórias. Ainda assim, vemos personagens bem desenvolvidos, com camadas psicológicas e peculiaridades em cada situação apresentada.
O filme segue esse ritmo recortado em uma mistura de suspense e ficção científica. Sempre detalhando o processo de investigação do vírus, as discussões sobre resoluções, construindo cenários mundiais, com conferências em vídeo e mobilização geral. Os Estados Unidos continuam no centro do mundo, é lá que surge o primeiro caso, apesar das pistas que levam a Hong Kong e do vídeo do homem no Japão. Aliás, a internet entra como elemento fundamental nessa construção de mundo globalizado. As possibilidades da web 2.0, da disseminação de informações, das teorias da conspiração, das incertezas e manipulações que só mudam de endereço. Steven Soderbergh consegue retratar esse clima de realidade, apesar de ter alguns exageros como, por exemplo, a preocupação apenas com uma vacina para o tal vírus, sem nenhum esforço para encontrar um tratamento ou prevenção do mesmo.
O clima de medo é bem construído. Soderbergh nos passa isso em imagens sempre em planos detalhes, com o vírus se espalhando a cada tosse, espirro, toque de mãos. Cenas como o rapaz no ônibus tocando em todas as barras de ferro ou o olhar de Marion Cotillard no banco de Hong Kong quando o rapaz fala dos sintomas da mãe são de deixar qualquer um paranóico. O desespero crescente vai piorando a cada caso de morte. As cidades vão sendo isoladas, os saques a supermercados e farmácias se tornam frequentes, o caos toma conta do dia-a-dia. O clima de tensão é retratado em cada nova situação, em cada atitude impensada, em cada nova perda. É essa onda progressiva que marca o filme.
Contágio é daqueles filmes de epidemia que nos fazem ter uma sensação de realidade pela forma como o vírus surge, as explicações científicas para sua construção, as relações com a gripe espanhola de 1918 que matou mais de 100 milhões de pessoas, a forma como os governantes lidam com a situação e os exemplos particulares que vão sendo destacados. Não traz grandes novidades cinematográficas, não nos empolga com emoções extremas, mas é eficiente em contar uma história e nos deixa alerta com a sensação de que aquilo é mesmo possível. Você pode sair do cinema paranóico com cada aperto de mão de um estranho. Aliás, a explicação para o surgimento desse gesto é uma curiosidade interessante do filme.
Contágio (Contagion: 2011 / EUA)
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Scott Z. Burns
Com: Matt Damon, Jude Law, Marion Cotillard, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet, Laurence Fishburne, John Hawkes, Bryan Cranston.
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Contágio
2011-10-29T09:01:00-02:00
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