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O Último Dançarino de Mao

O Último Dançarino de MaoBaseado na autobiografia de Li Cunxin, o filme O Último Dançarino de Mao é antes de tudo sobre superação e busca de sonhos. Um retrato do contraste entre dois mundos, a China comunista, com seu regime ditatorial, e os Estados Unidos da América como símbolo de liberdade.

Li Cunxin é um chinês típico, vivendo em sua pequena aldeia no interior do país, filho de agricultores, crente de que o sistema onde vive é o melhor e mais justo. É quando ele é selecionado para uma escola de balé em Pequim e conhece o outro lado do comunismo: a rigidez e falta de liberdade. Mesmo não suportando o local, Li Cunxin segue disciplinado e concentrado em aprender e fazer o melhor, é quando sua vida muda novamente e ele recebe um convite para um estágio na China. E agora, ele terá a oportunidade de desfrutar um pouco de liberdade e tomar suas próprias decisões de vida.

O Último Dançarino de MaoApesar de se basear em uma autobiografia e ter um cuidado em não menosprezar nenhuma crença ou regime, o filme de Bruce Beresford com roteiro de Jan Sardi pende visivelmente para o lado capitalista. Tudo bem que nem a China é mais socialista, o mundo mudou e só a ilha de Fidel resiste fiel aos ideais dos anos 60, mas o filme poderia ser um pouco mais imparcial em alguns pontos. Um bom exemplo é a montagem escolhida construindo em paralelo a infância de Li com sua viagem aos Estados Unidos, assim, o contraste fica mais claro e é possível fazer comparações irônicas como o pequeno chinês na sala de aula dizendo o quão ruim deve ser morar em um país capitalista para logo depois vermos ele se divertindo em uma boate norte-americana. Como se os Estados Unidos fosse mesmo a terra dos sonhos. O próprio personagem diz em um determinado momento que "Nos Estados Unidos, ele é livre" e isso influencia em sua dança.

O Último Dançarino de MaoNão é para menos, já que na China ele tem que dançar uma espécie de balé militar. O próprio mestre de Li não suporta a pressão do governo chinês, afinal, para ele, balé é arte e não panfletagem de uma ideologia. A forma como a escola de balé é construída nos dá mesmo a impressão de um quartel onde soldados estão sendo formados para uma guerra. Há uma espécie de lavagem cerebral, onde não é possível conhecer o outro lado para não se deslumbrar. Esse é o maior medo do partido quando têm que enviar Li para o Ocidente. O filme só esquece de mostrar os dois lados dessas pessoas. As torna máquinas bitoladas, sem outro pensamento, como a comandante que vai assistir ao balé. Será que eles não têm outros sentimentos? Não são pessoas como nós? Um vislumbre disso vem do professor que sempre pegou no pé de Li, e quando o garoto o enfrentou, passou a admirar sua coragem. Talvez o filme pudesse mostrar um pouco mais disso.

O Último Dançarino de MaoMas, ainda assim, O Último Dançarino de Mao nos envolve e emociona na trajetória de Li Cunxin. Seu drama só aumenta o nosso interesse por sua figura. Há poesia em sua construção de personagem chave, não apenas pelos momentos de dança, onde demonstra talento, graça e beleza, mas também por sua personalidade que vai descobrindo, aos poucos, o que lhe foi negado durante toda infância e a adolescência, a possibilidade de escolhas. É assim, sentindo-se livre, que ele vai se envolvendo com a garota Elizabeth Mackey e tudo que esta representa. O romance é desenvolvido de uma maneira natural, sem pressa, com uma ajuda em uma barra, algumas saídas, o primeiro beijo, o envolvimento emocional e a escolha que mudará sua vida. Pena que a partir daí tudo se torna muito rápido e elipsado. A gente quase se perde e fica confuso com o restante da vida sentimental de Li, sendo a cena final quase uma surpresa.

O Último Dançarino de MaoO filme tem também o trunfo de belos espetáculos de dança que encantam a plateia dentro e fora das telas. São boas escolhas, bons momentos, que não cansam, não saem da narrativa, mas ao mesmo tempo nos permitem admirar um pouco mais da arte de dançar e do talento do chinês. Aliás, só dançando Chi Cao nos convence como protagonista, já que sua interpretação fica muito aquém do drama vivido, sendo quase caricato. Falta expressão e emoção nas cenas chaves, como no drama no consulado, a cena do pesadelo e uma determinada cena no teatro feita para levar o público às lágrimas. Destaque para cena do sonho que nos deixa confusos a princípio se é verdade ou não, além da interpretação dos atores que fazem os pais de Li, estes sim, com uma carga dramática muito boa.

O Último Dançarino de Mao é então, um bom filme, que tinha potencial para mais. Levantando uma bandeira pró Estados Unidos como se o país e sua ideologia tivesse salvado um artista, ele nos leva por caminhos perigosos de julgamentos. Mas, talvez essa seja a visão do dançarino que foi levado pelo destino por boa parte de sua vida e depois resolve seguir suas próprias regras. Panfletário ou não, é um filme que sabe como nos emocionar, sem exagerar na dose. E isso acaba sendo o mais importante. Pelo menos para as grandes plateias.


O Último Dançarino de Mao (Mao's Last Dancer: 2009 / Austrália)
Direção: Bruce Beresford
Roteiro: Jan Sardi
Com: Chi Cao, Chengwu Guo, Wen Bin Huang, Bruce Greenwood.
Duração: 117 min.

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