Olho de Vidro
Como sempre falo, o CinePipocaCult gosta de prestigiar o cinema independente e os curta-metragens, principalmente de diretores iniciantes baianos que nos convidam a sessões especiais. A linguagem do curta-metragem é sempre um mundo de conhecimentos, experimentações, novidades e paixões exacerbadas pela sétima arte. E por isso, sempre nos surpreendem.
Assim, fomos acompanhar a pré-estreia do curta "Olho de Vidro", trabalho inaugural do jovem diretor Klaus Hasten. Colega nosso, já que é crítico do site SaladaCultural, Klaus declarou no bate-papo após a sessão que fazer filmes sempre foi um sonho. Algo que parecia distante em sua infância e adolescência de cinéfilo apaixonado, mas que ele nunca quis deixar morrer. Agora, com vinte anos e muita garra, ele conseguiu apresentar esse projeto que surpreende pela qualidade técnica. Ainda mais levando em conta que se trata de um curta-metragem sem verba e feito com toda uma equipe iniciante. Talvez o único profissional experiente nesta jornada, seja o preparador de elenco Fábio Araújo, que conseguiu boas atuações do casal protagonista, principalmente de Ana Luiza Moreira que nos traz toda sua angústia em cena.
Olho de Vidro é um projeto com boas pretensões. Preto&Branco e mudo, nos traz a construção paralela de duas pessoas que parecem ligadas por uma mesma emoção: a angústia. Ela que passa horas em frente à televisão e sonhando com ele. Ele que parece um rascunho dessa lembrança feliz, com barba por fazer e sem vontade de continuar. O encontro, o desencontro, o embate. Várias interpretações e sensações podem ser descritas e reescritas. Mas, que nos faz pensar e traz impacto. Nos envolve.
Mais do que a boa história com camadas a serem desvendadas, chama a atenção, como já disse, a parte técnica. A fotografia do filme enche os olhos, o tratamento melancólico do preto e branco, a precisão das imagens, os planos e os movimentos de câmera compõem com poesia aquela história. Ponto para Amenar Costa e para o próprio Klaus, que além de decupar muito bem a sua trama ainda assinou a montagem, que ajuda e muito nessa construção. O ritmo do filme ganha intensidade, os flashbacks em flashs são uma boa solução e a trilha sonora, tocada ao piano, dá um plus ao resultado.
As referências também nos parecem claras. Nos detalhes de Hitchcock, inclusive na participação do diretor em cena, mas principalmente na cena do espelho e no ralo. Na melancolia de Tetro, filme de Coppola, na estranheza do Expressionismo Alemão. O curta parece mesmo ter sido pensado, não tendo nada ali por acaso, o que demonstra maturidade em um diretor tão jovem e iniciante. E por isso, dá tanta vontade de elogiar. Conhecendo os bastidores, que foram explicados após a sessão, fica ainda mais fácil admirar o resultado, pois nos dá a sensação de que para fazer, basta ter vontade e acreditar no próprio potencial.
Mas, ao mesmo tempo, é importante alertar que não se pode achar que está tudo pronto. Klaus Hasten deu o seu primeiro passo, demonstrou talento e futuro. Ainda assim, não podemos dar a Olho de Vidro o status de obra-prima. É um bom trabalho, diante do objetivo e dos recursos disponíveis. Mas, sempre poderia ser melhor. Não traz inovações na linguagem, a história não supera a criatividade do já visto, mas também não precisava o ser. Como já foi dito, é apenas o primeiro trabalho de um jovem, que já começa com o pé direito e nos dá vontade de acompanhar sua história.
Espero que ele possa estar disponível para o público em breve. Segundo a produção, eles ainda farão outros eventos em Salvador, além que procurar percorrer festivais. Então, fiquem de olho.
Olho de Vidro (Olho de Vidro, 2012 / Brasil)
Direção: Klaus Hasten
Roteiro: Klaus Hasten
Com: Ana Luiza Moreira, Carlos Almeida, Joelma Stella, Jean Lopes
Duração: 15 min.
Assim, fomos acompanhar a pré-estreia do curta "Olho de Vidro", trabalho inaugural do jovem diretor Klaus Hasten. Colega nosso, já que é crítico do site SaladaCultural, Klaus declarou no bate-papo após a sessão que fazer filmes sempre foi um sonho. Algo que parecia distante em sua infância e adolescência de cinéfilo apaixonado, mas que ele nunca quis deixar morrer. Agora, com vinte anos e muita garra, ele conseguiu apresentar esse projeto que surpreende pela qualidade técnica. Ainda mais levando em conta que se trata de um curta-metragem sem verba e feito com toda uma equipe iniciante. Talvez o único profissional experiente nesta jornada, seja o preparador de elenco Fábio Araújo, que conseguiu boas atuações do casal protagonista, principalmente de Ana Luiza Moreira que nos traz toda sua angústia em cena.
Olho de Vidro é um projeto com boas pretensões. Preto&Branco e mudo, nos traz a construção paralela de duas pessoas que parecem ligadas por uma mesma emoção: a angústia. Ela que passa horas em frente à televisão e sonhando com ele. Ele que parece um rascunho dessa lembrança feliz, com barba por fazer e sem vontade de continuar. O encontro, o desencontro, o embate. Várias interpretações e sensações podem ser descritas e reescritas. Mas, que nos faz pensar e traz impacto. Nos envolve.
Mais do que a boa história com camadas a serem desvendadas, chama a atenção, como já disse, a parte técnica. A fotografia do filme enche os olhos, o tratamento melancólico do preto e branco, a precisão das imagens, os planos e os movimentos de câmera compõem com poesia aquela história. Ponto para Amenar Costa e para o próprio Klaus, que além de decupar muito bem a sua trama ainda assinou a montagem, que ajuda e muito nessa construção. O ritmo do filme ganha intensidade, os flashbacks em flashs são uma boa solução e a trilha sonora, tocada ao piano, dá um plus ao resultado.
As referências também nos parecem claras. Nos detalhes de Hitchcock, inclusive na participação do diretor em cena, mas principalmente na cena do espelho e no ralo. Na melancolia de Tetro, filme de Coppola, na estranheza do Expressionismo Alemão. O curta parece mesmo ter sido pensado, não tendo nada ali por acaso, o que demonstra maturidade em um diretor tão jovem e iniciante. E por isso, dá tanta vontade de elogiar. Conhecendo os bastidores, que foram explicados após a sessão, fica ainda mais fácil admirar o resultado, pois nos dá a sensação de que para fazer, basta ter vontade e acreditar no próprio potencial.
Mas, ao mesmo tempo, é importante alertar que não se pode achar que está tudo pronto. Klaus Hasten deu o seu primeiro passo, demonstrou talento e futuro. Ainda assim, não podemos dar a Olho de Vidro o status de obra-prima. É um bom trabalho, diante do objetivo e dos recursos disponíveis. Mas, sempre poderia ser melhor. Não traz inovações na linguagem, a história não supera a criatividade do já visto, mas também não precisava o ser. Como já foi dito, é apenas o primeiro trabalho de um jovem, que já começa com o pé direito e nos dá vontade de acompanhar sua história.
Espero que ele possa estar disponível para o público em breve. Segundo a produção, eles ainda farão outros eventos em Salvador, além que procurar percorrer festivais. Então, fiquem de olho.
Olho de Vidro (Olho de Vidro, 2012 / Brasil)
Direção: Klaus Hasten
Roteiro: Klaus Hasten
Com: Ana Luiza Moreira, Carlos Almeida, Joelma Stella, Jean Lopes
Duração: 15 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Olho de Vidro
2012-04-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema baiano|cinema brasileiro|critica|curtas|filme brasileiro|materias|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
mais populares do blog
-
Em um cenário gótico banhado em melancolia, O Corvo (1994) emerge como uma obra singular no universo cinematográfico. Dirigido por Alex Pro...
-
Matador de Aluguel (1989), dirigido por Rowdy Herrington , é um filme de ação dos anos 80 . Uma explosão de adrenalina, pancadaria e tensão...
-
Pier Paolo Pasolini , um mestre da provocação e da subversão, apresenta em Teorema (1968) uma obra que desafia não apenas a moralidade burg...
-
Em seu quarto longa-metragem, Damien Chazelle , conhecido por suas incursões musicais de sucesso, surpreende ao abandonar o território da me...
-
Ruben Östlund , o provocador diretor sueco, nos guia por um cruzeiro inusitado em Triângulo da Tristeza (2022), uma obra cinematográfica qu...