Grandes Cenas: Coração Valente
Apesar de todas as controvérsias em torno de seu nome, não podemos negar que Mel Gibson é um ator talentoso e um excelente diretor. Ele prima em suas imagens e na construção das suas ideias, ainda que algumas sejam bastante questionáveis como a visão anti-semita impressa em A Paixão de Cristo.
Coração Valente é o seu ápice. Quem viu o filme sabe o quão bela é a história do escocês William Wallace, interpretado pelo próprio Gibson. Um camponês pacífico que vê sua esposa ser assassinada no dia do casamento e se transforma no maior herói daquele povo. Mais do que ir contra ao exército inglês, Wallace luta pelo direito de ser livre. Uma motivação interna para mostrar que ninguém pode possuir a alma humana.
Quem viu o filme sabe que toda a construção estética, as batalhas, o roteiro são muito bem construídos e transformado em símbolos. E duas cenas são inesquecíveis dentro dessa premissa criada por Wallace: liberdade. A cena final com seu grito incapaz de ser calado e esta cena escolhida para aqui analisar que é a preparação para aquela. É quando ele diz que é melhor morrer tentando do que aceitar ser cativo.
Estamos no campo de batalha e os escoceses pensam em desistir. O exército inglês é muito maior. William Wallace surge com alguns de seus companheiros e faz um discurso emocionante sobre liberdade. "O que vocês farão sem liberdade?", ele pergunta. Porque o ingleses podem tirar-lhes a vida, mas nunca essa sensação interna de poder ser livre que como dizia Cecília Meirelles "não há ninguém que a explique e ninguém que não entenda".
É interessante analisar essa cena pelos olhos de hoje, acostumados a grandes batalhas construídas em computador. Coração Valente foi um dos últimos épicos realizados sem esse recurso. É preciso muito jogo de câmera para dar a sensação de multidão. Principalmente do exército inglês que deveria estar assustadoramente em maior número. A câmera está sempre muito fechada, quase espremendo os soldados de ambos os lados. Ela também nunca está parada, passeia pelos rostos da multidão, sempre muito ágil.
Quando William Wallace discursa, ele está montado em seu cavalo em movimento. Sempre circulando em pequenas distâncias. Há vários simbolismos aí. O cavalo está inquieto, pronto para a batalha, Wallace não pára a guerra para discursar, ele está sempre levando a narrativa para frente. Ele também está próximo de todos os compatriotas, não apenas de um grupo, já que passeia por todos eles buscando seus olhos, suas cumplicidades.
É tudo isso, mas é também um recurso fácil de mostrar a multidão sem detalhes, e com isso dar a sensação de um número ainda maior de pessoas. Percebam que, quando fala, Wallace está só em seu cavalo, com as lanças fazendo corta-luzes em uma divisão ainda de seu discurso. Quando a câmera dá o contraplano para as pessoas, tem duas possibilidades, uma com planos fechados, focando alguns atores, outra com ele em primeiro plano e a multidão atrás. Como ele anda, a câmera não precisa focar essa multidão, gerando a essa sensação de um maior número.
É possível perceber também a mudança de postura, no ponto do discurso em que Wallace fala de que eles podem fugir e viver sempre com a vontade de voltar a aquele ponto para mostrar aos ingleses que sua liberdade não está a venda. Apenas aí, há uma mudança de movimento de câmera, focando a primeira fileira meio de lado em um travelling que aproxima cada rosto por vez, como se ali, naquele ponto, ele os tivesse ganho e o discurso fosse ter resultados motivacionais positivos.
Tudo isso regado à bela trilha de James Horner. Apoteótica, em um crescente também motivacional, pontuando as ações. Isso sem falar no som típico escocês da gaita de fole. Sem dúvidas uma bela cena. Das mais marcantes do cinema.
Coração Valente é o seu ápice. Quem viu o filme sabe o quão bela é a história do escocês William Wallace, interpretado pelo próprio Gibson. Um camponês pacífico que vê sua esposa ser assassinada no dia do casamento e se transforma no maior herói daquele povo. Mais do que ir contra ao exército inglês, Wallace luta pelo direito de ser livre. Uma motivação interna para mostrar que ninguém pode possuir a alma humana.
Quem viu o filme sabe que toda a construção estética, as batalhas, o roteiro são muito bem construídos e transformado em símbolos. E duas cenas são inesquecíveis dentro dessa premissa criada por Wallace: liberdade. A cena final com seu grito incapaz de ser calado e esta cena escolhida para aqui analisar que é a preparação para aquela. É quando ele diz que é melhor morrer tentando do que aceitar ser cativo.
Estamos no campo de batalha e os escoceses pensam em desistir. O exército inglês é muito maior. William Wallace surge com alguns de seus companheiros e faz um discurso emocionante sobre liberdade. "O que vocês farão sem liberdade?", ele pergunta. Porque o ingleses podem tirar-lhes a vida, mas nunca essa sensação interna de poder ser livre que como dizia Cecília Meirelles "não há ninguém que a explique e ninguém que não entenda".
É interessante analisar essa cena pelos olhos de hoje, acostumados a grandes batalhas construídas em computador. Coração Valente foi um dos últimos épicos realizados sem esse recurso. É preciso muito jogo de câmera para dar a sensação de multidão. Principalmente do exército inglês que deveria estar assustadoramente em maior número. A câmera está sempre muito fechada, quase espremendo os soldados de ambos os lados. Ela também nunca está parada, passeia pelos rostos da multidão, sempre muito ágil.
Quando William Wallace discursa, ele está montado em seu cavalo em movimento. Sempre circulando em pequenas distâncias. Há vários simbolismos aí. O cavalo está inquieto, pronto para a batalha, Wallace não pára a guerra para discursar, ele está sempre levando a narrativa para frente. Ele também está próximo de todos os compatriotas, não apenas de um grupo, já que passeia por todos eles buscando seus olhos, suas cumplicidades.
É tudo isso, mas é também um recurso fácil de mostrar a multidão sem detalhes, e com isso dar a sensação de um número ainda maior de pessoas. Percebam que, quando fala, Wallace está só em seu cavalo, com as lanças fazendo corta-luzes em uma divisão ainda de seu discurso. Quando a câmera dá o contraplano para as pessoas, tem duas possibilidades, uma com planos fechados, focando alguns atores, outra com ele em primeiro plano e a multidão atrás. Como ele anda, a câmera não precisa focar essa multidão, gerando a essa sensação de um maior número.
É possível perceber também a mudança de postura, no ponto do discurso em que Wallace fala de que eles podem fugir e viver sempre com a vontade de voltar a aquele ponto para mostrar aos ingleses que sua liberdade não está a venda. Apenas aí, há uma mudança de movimento de câmera, focando a primeira fileira meio de lado em um travelling que aproxima cada rosto por vez, como se ali, naquele ponto, ele os tivesse ganho e o discurso fosse ter resultados motivacionais positivos.
Tudo isso regado à bela trilha de James Horner. Apoteótica, em um crescente também motivacional, pontuando as ações. Isso sem falar no som típico escocês da gaita de fole. Sem dúvidas uma bela cena. Das mais marcantes do cinema.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Coração Valente
2012-06-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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