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Entrevista exclusiva com João Miguel

João MiguelNa última quinta-feira, foi a pré-estreia do filme À Beira do Caminho, aqui em Salvador, com a presença dos atores João Miguel e Vinícius Nascimento. O filme de Breno Silveira, que se inspira em músicas de Roberto Carlos, traz os dois como protagonistas de uma viagem de auto-descobrimento pelas estradas do Brasil. Dois mundos diferentes que se encontram e se igualam de uma forma emocionante.

Por causa da agenda de pré-estreias, ambos têm viajado muito e o vôo do ator Vinícius Nascimento teve um pequeno problema, fazendo-o chegar em cima da hora. Ainda assim, muito simpático, ele agradeceu a presença de todos, pediu desculpas pelo atraso e desejou um bom filme. Já João Miguel esteve disponível para a imprensa local antes da sessão. Um dos melhores atores de sua geração, João Miguel chega ao seu 13º filme com fôlego para muito ainda. Seu sucesso nacional aconteceu com a peça O Bispo, um monólogo intenso onde pode demonstrar todo o seu talento, que abriu portas para o cinema baiano e nacional. Desde então, ele não mais parou. Muito simpático, ele recebeu a equipe do CinePipocaCult e o resultado você confere abaixo.

Como você definiria o João?
O Breno Silveira define o João muito bem. Ele diz assim: "um homem reaprendendo a amar". Eu acho isso muito legal, porque é mesmo. Um personagem que começa o filme sem saída, num lugar dentro dele, muito obscuro, muito escondido, quase suicida. E quando ele encontra o menino, esse destino muda, suas memórias reacendem. E toda a impotência que ele tinha sob esse passado, ele resolve mudar, inclusive seguir o rumo para mudar a vida do menino também, em busca desse pai que ele procura. É um filme de estrada, um filme de personagens que estão perdidos e começam a procurar juntos um novo caminho.

João MiguelVocê já tinha sido carona de um caminhão em Cinema, Aspirinas e Urubus, agora é o motorista.
É, eu acho isso muito legal.

A experiência anterior ajudou?
Demais, está presente o tempo todo no filme.

Você precisou de aulas para dirigir o caminhão?
Eu fiz algumas aulas. Eu já tinha dirigido no Aspirinas, mas, eu fiz algumas aulas para entender aquele caminhão especificadamente. Mas, foi incrível esse jogo, porque eu estava do lado oposto do que eu já estive, que era o caroneiro. As piadas estavam comigo no Aspirinas, e nesse, a piada está com o “muleque”. Então, a sensação que eu tinha era que se fosse o vôlei, eu dava o passe para ele cortar. Isso foi muito bacana de ver, muito bacana mesmo.

Se você encontrasse um Duda na beira do seu caminho, o que faria?
Eu encontrei, né? Nesse filme eu encontrei um Duda de fato (risos). Esse Vinícius, que foi um presente enorme que me ensinou muita coisa, e inevitavelmente eu devo ter ensinado também. O Vinícius me confirma uma coisa que eu já pensava sobre o ofício, que vale a pena ser generoso. A cena para mim é sagrada, onde pode exercitar essa generosidade com o outro. E ganhar uma amizade como eu ganhei a do Duda e ele a minha. E o filme como um todo tem isso. Saio amigo do Breno, amigo da Patrícia. Um filme de tanto coração, que mexe tanto com tantas emoções humanas que nos pertence, que transcende o personagem em alguma hora. E aí eu começo a pensar nesses aspectos do afeto, de como é importante no mundo de hoje, onde as pessoas estão tão robotizadas, existe uma incomunicabilidade tão grande, as pessoas parecem que estão sem paciência umas com as outras. Eu percebo que os aspectos mais simples são os mais valiosos, como se permitir ver a diferença do outro. Essa é a grande revolução, a complementação da diferença. Eu não preciso ser igual a você, pelo contrário.

João MiguelComo foi construída essa relação com o ator Vinícius Nascimento? Vocês tinha se conhecido em Ó Paí, Ó mas tiveram algum preparo aqui antes, para construir melhor a química dos personagens?
A gente teve um mês de ensaio e, naturalmente, o convívio durante as filmagens cria essa cumplicidade. O tempo todo eu ficava brincando com ele, o tempo todo eu era o João, e ele, como é um ator maravilhoso, entendia muito bem isso.


Você participou também do roteiro do filme, como foi?
Eles são muito generosos quando falam isso. Eu, na verdade, participei três dias onde a gente dissecou o roteiro, onde foi fundamental para eu entender o João melhor, entender esse jogo melhor. O Breno e a Patrícia são generosíssimos. Eu tive essa pequena participação, então, como ator, eu pude colaborar com o roteiro.

Como você se relaciona com as músicas de Roberto Carlos? Já tinha alguma marcante em sua vida?
Roberto Carlos é um rei eterno, eu gosto muito. É impressionante a quantidade de músicas que esse cara fez  e como ele destrinchou o amor. Parece que são vinte e seis pessoas falando aquilo e é uma só. Então, é incrível. Essa música “amigo”, particularmente, eu tenho um envolvimento muito forte. Porque eu cantava muito ela quando era criança e foi a primeira música que eu cantei quando me apresentei como palhaço em um número em que eu simplesmente cantava essa música para 300 pessoas. E a maneira como o Vinícius canta no filme é parecida com a maneira como eu canto. Breno colocou isso que é o Paratiparatipara (João Miguel cantarola a música). Por isso que eu tenho muito carinho e afeto por esse filme.

João MiguelE a direção de Breno Silveira, como foi a relação? Ele ajuda ao trabalho do ator, te dá liberdade de criação?
Diretor maravilhoso, um amigo, um parceiro. Todo o tempo. A gente tem uma coisa parecida, que somos muito apaixonados pelo que a gente faz, então, foi muito flúido. Por mais que a gente soubesse que estava tocando ali em lugares difíceis, que não era fácil para mim, não era fácil para ele, não era fácil para o Vinícius, mas foi prazeroso o todo tempo. Um diretor apaixonado pelo trabalho do ator, que não tem medo da emoção, o filme que eu mais chorei na vida.

Como você vê o cenário do cinema nacional atual?
Eu acho que o cinema nacional tá conduzindo bastante, tem uma pluralidade de filmes, tem uma geração nova que tem vindo aí, muito grande. Eu acho que cada vez mais tem que existir uma política cultural, para que essa pluralidade exista de fato para o público. E aí tem uma questão muito séria de distribuição, de política cultural, de preço de salas de cinema que é um trabalho árduo de todas as artes para que possibilite que o público brasileiro assista aos filmes que são produzidos e não fique sendo simplesmente refém de alguns outros filmes que ficam precisando de um hiper sucesso estrondoso, porque não existe uma fórmula de sucesso. Tem que existir uma maneira que essa pluralidade seja vista pelo público brasileiro, vista e comentada para que cada um tire sua opinião sobre que tipo de cinema gosta, que tipos de cinemas gosta de ver, porque não existe um jeito só de se fazer cinema e se ver cinema.

João MiguelVocê atuou também em dois importantes longas baianos, Eu me Lembro e Jardim das Folhas Sagradas, como você vê a nossa produção atual?
E também Esses Moços de Araripe, que foi, na verdade, meu primeiro filme, onde faço o Bispo (Arthur Bispo do Rosário). O Bispo sempre abrindo as portas para mim (peça teatral que o consagrou nacionalmente), abriu as portas do cinema nacional para mim também. Eu sou fã do cinema baiano. Sou baiano, baiano mesmo. E eu acho que a gente ainda vai viver um momento baiano como Pernambuco viveu, na medida que se abrir mais para as trocas, as co-produções existam. Mas, eu admiro muito grandes cineastas como Edgard Navarro. Acho que tem uma geração nova surgindo como João (João Rodrigo, diretor de Trampolim do Forte), o Dantas (Henrique Dantas, diretor de Filhos de João) também. Tem uma galera que tá procurando, que tá buscando. Acho que quanto mais a gente se misturar, mais a gente vai encontrar nossa identidade.

Quais os projetos futuros?
Tem alguns filmes para serem lançados. A Hora e a Vez de Augusto Matraga do Vinícius Coimbra, tem também Era uma vez Verônica do Marcelo Gomes, que é o mesmo diretor do Aspirinas. Recentemente eu fiz o Éden do Bruno Safadi onde faço um pastor evangélico da periferia do Rio de Janeiro. E a gente filmou Periscópio do Kiko Goifman com o grande e maravilhoso Jean-Claude Bernardet atuando junto comigo. Então, eu acho que tenho tido a possibilidade de viver experiências no cinema variadas, de fazer personagens diversos também. E isso me interessa profundamente.

Fotos: Caiuby Menezes da Costa

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