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Amor é Tudo o Que Você Precisa
Amor é Tudo o Que Você Precisa
Após vencer o Oscar de filme estrangeiro com Em um mundo melhor, a dinamarquesa Susanne Bier demonstra que o melodrama lhe conquistou nessa comédia romântica inofensiva. E a distribuição brasileira quis carregar ainda mais o tom ao escolher o título Amor é Tudo o Que Você Precisa para aquele que originalmente se chama: "A Cabeleireira Careca".
A ironia no título original apresenta o drama da personagem principal Ida, vivida pela atriz Trine Dyrholm. Cabeleireira na Dinamarca, ela perde os cabelos em seu tratamento contra o câncer de mama. Para completar os problemas, descobre que seu marido a está traindo com uma mulher muito mais jovem. Aparentemente, sem se abalar tanto, Ida embarca para a Itália, onde sua filha irá se casar com um jovem que conheceu a três meses. E no caminho, ela conhece o pai do noivo, o charmoso Philip, vivido por Pierce Brosnan. O resto é previsível, mas nem tanto.
Antes de falar do filme em si, é interessante ressaltar a pequena Torre de Babel que Susanne Bier construiu ao chamar o astro Pierce Brosnan para o papel. O filme se passa entre a Dinamarca e a Itália, mas em muitos momentos a língua falada é o inglês. Mais do que isso, há diálogos inteiros onde Pierce Brosnan fala em inglês e as funcionárias de sua empresa respondem em dinamarquês. Isso sem falar na casa da Itália onde as três línguas se misturam em perfeita harmonia. É estranho, mas não chega a atrapalhar a narrativa.
A trama central de Ida e Philip é clichê, mas interessante. Há uma certa aproximação madura, sem tantos encantamentos a princípio. Começa com uma batida de carros. Ambos não estão preocupados em conquistar um ao outro, simplesmente vão se acostumando, sentindo-se a vontade com a presença. Apesar de não existir uma química perfeita entre os dois atores, tudo ali fica crível. E claro, tem o entorno. A cunhada, eterna apaixonada, o ex-marido com a amante, os filhos, o casamento. A sombra da doença, a sombra da esposa falecida de Philip. E há o drama secundário do jovem casal.
Com tanta informação e pouco tempo, o roteiro acaba não aprofundando muita coisa. Principalmente, a questão da doença e como uma mulher pode lidar e superar isso. Fica parecendo que o adendo do câncer na personalidade da personagem é apenas para criar a situação tragicômica da peruca e a questão da mastectomia que nem é muito explorada. A própria relação submissa de Ida com o ex-marido é pouco desenvolvida.
Mas, o que fica de paraquedas mesmo na trama é a relação do jovem casal. Patrick e Astrid parecem apenas a desculpa para Ida e Philip se conhecerem. Tudo é muito solto. Eles se conheceram há pouco tempo, juram se amar, mas há sempre algo estranho, uma dúvida, uma não-intimidade. Fora a figura de Alessandro, que desde o início dá pistas de algumas complicações. Porém, isso nunca é aprofundado, nem desenvolvido de uma maneira que justifique sua aparição.
Ainda assim, Susanne Bier conduz a trama com habilidade. Sem perder completamente sua origem de Dogma95, dá ao filme um tom cru, realista, com poucas maquiagens ou construções. Há um respeito ao tempo da narrativa, sem nada mirabolante. E cenas belas, como a que Philip flagra Ida nadando no mar, ou quando ele encontra o filho em uma gruta. O mesmo não pode-se dizer da montagem, que se constrói de uma maneira estranha, com cortes bruscos injustificáveis e quebras descontínuas que não encontro explicação na estética adotada.
De qualquer maneira, Amor é Tudo o Que Você Precisa é um filme com qualidades. Pesa no melodrama, com diversos momentos feitos para chorar, mas traz uma perspectiva de amor fora do comum. Lembrei vagamente de Mama Mia, onde o casamento da filha é também o estopim para uma história de amor da mãe, guardadas as proporções. Mas, tudo poderia ser melhor explorado. Uma história tocante, envolvente, mas que falta algo mais para se tornar realmente bela.
Amor é Tudo o Que Você Precisa (Den skaldede frisør, 2012 / Dinamarca)
Direção: Susanne Bier
Roteiro: Anders Thomas Jensen e Susanne Bier
Com: Pierce Brosnan, Trine Dyrholm, Kim Bodnia
Duração: 116 min.
A ironia no título original apresenta o drama da personagem principal Ida, vivida pela atriz Trine Dyrholm. Cabeleireira na Dinamarca, ela perde os cabelos em seu tratamento contra o câncer de mama. Para completar os problemas, descobre que seu marido a está traindo com uma mulher muito mais jovem. Aparentemente, sem se abalar tanto, Ida embarca para a Itália, onde sua filha irá se casar com um jovem que conheceu a três meses. E no caminho, ela conhece o pai do noivo, o charmoso Philip, vivido por Pierce Brosnan. O resto é previsível, mas nem tanto.
Antes de falar do filme em si, é interessante ressaltar a pequena Torre de Babel que Susanne Bier construiu ao chamar o astro Pierce Brosnan para o papel. O filme se passa entre a Dinamarca e a Itália, mas em muitos momentos a língua falada é o inglês. Mais do que isso, há diálogos inteiros onde Pierce Brosnan fala em inglês e as funcionárias de sua empresa respondem em dinamarquês. Isso sem falar na casa da Itália onde as três línguas se misturam em perfeita harmonia. É estranho, mas não chega a atrapalhar a narrativa.
A trama central de Ida e Philip é clichê, mas interessante. Há uma certa aproximação madura, sem tantos encantamentos a princípio. Começa com uma batida de carros. Ambos não estão preocupados em conquistar um ao outro, simplesmente vão se acostumando, sentindo-se a vontade com a presença. Apesar de não existir uma química perfeita entre os dois atores, tudo ali fica crível. E claro, tem o entorno. A cunhada, eterna apaixonada, o ex-marido com a amante, os filhos, o casamento. A sombra da doença, a sombra da esposa falecida de Philip. E há o drama secundário do jovem casal.
Com tanta informação e pouco tempo, o roteiro acaba não aprofundando muita coisa. Principalmente, a questão da doença e como uma mulher pode lidar e superar isso. Fica parecendo que o adendo do câncer na personalidade da personagem é apenas para criar a situação tragicômica da peruca e a questão da mastectomia que nem é muito explorada. A própria relação submissa de Ida com o ex-marido é pouco desenvolvida.
Mas, o que fica de paraquedas mesmo na trama é a relação do jovem casal. Patrick e Astrid parecem apenas a desculpa para Ida e Philip se conhecerem. Tudo é muito solto. Eles se conheceram há pouco tempo, juram se amar, mas há sempre algo estranho, uma dúvida, uma não-intimidade. Fora a figura de Alessandro, que desde o início dá pistas de algumas complicações. Porém, isso nunca é aprofundado, nem desenvolvido de uma maneira que justifique sua aparição.
Ainda assim, Susanne Bier conduz a trama com habilidade. Sem perder completamente sua origem de Dogma95, dá ao filme um tom cru, realista, com poucas maquiagens ou construções. Há um respeito ao tempo da narrativa, sem nada mirabolante. E cenas belas, como a que Philip flagra Ida nadando no mar, ou quando ele encontra o filho em uma gruta. O mesmo não pode-se dizer da montagem, que se constrói de uma maneira estranha, com cortes bruscos injustificáveis e quebras descontínuas que não encontro explicação na estética adotada.
De qualquer maneira, Amor é Tudo o Que Você Precisa é um filme com qualidades. Pesa no melodrama, com diversos momentos feitos para chorar, mas traz uma perspectiva de amor fora do comum. Lembrei vagamente de Mama Mia, onde o casamento da filha é também o estopim para uma história de amor da mãe, guardadas as proporções. Mas, tudo poderia ser melhor explorado. Uma história tocante, envolvente, mas que falta algo mais para se tornar realmente bela.
Amor é Tudo o Que Você Precisa (Den skaldede frisør, 2012 / Dinamarca)
Direção: Susanne Bier
Roteiro: Anders Thomas Jensen e Susanne Bier
Com: Pierce Brosnan, Trine Dyrholm, Kim Bodnia
Duração: 116 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Amor é Tudo o Que Você Precisa
2013-03-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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