E em tempos de Homem de Aço no cinema, lembrei do documentário Look, Up in the Sky! The Amazing Story of Superman, acho que o documento mai completo sobre o personagem idealizado por Joe Shuster e Jerry Siegel. O filme em si traz a estrutura básica televisiva, mas são tantas informações condensadas em suas quase duas horas de duração que vale a pena, até para entender o mito do Super-Homem.Aliás, o documentário começa nos explicando exatamente isso, que a ideia inicial da dupla surgiu de Nietzsche e seu conceito filosófico sobre um super-homem no livro Assim Falou Zaratustra. Tanto que o primeiro traço do personagem era bem distinto do atual. Era um vilão, com poderes telecinéticos que queria dominar o mundo. Depois, eles pensaram melhor e resolveram construir um herói com poderes físicos. Mesmo assim, ele ficou na gaveta alguns anos, até que a dupla apresentou-o à empresa em que trabalhavam na época, a National Allied Publishing, hoje conhecida com DC Comics. Era o início de uma jornada de sucesso, que ficou mais forte quando o personagem foi para o rádio.
Foi na rádio, inclusive que o Super-Homem que conhecemos hoje se transformou. Ele começou a voar lá, antes eram apenas saltos gigantes, que aliás, o filme de Zack Snyder de certa maneira homenageia ao fazer o personagem saltar antes de começar a voar. Foi lá também que surgiu a Kriptonita para deixá-lo mais fraco. E, claro, expressões famosas como: "É um pássaro? É um avião? Não é o super-homem". E o grito "para o alto e avante".Nos quadrinhos, desde o lançamento em 1938, Super-Homem também sofreu transformações. Coisas criadas na rádio foram para as páginas das comics e outras variações a depender da época também. Quando começou, ele enfrentava a Grande Depressão que assolava os Estados Unidos. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, o personagem passou a combater nazistas, o que tornou a fantasia mais evidente, já que na vida real a coisa não funcionava bem assim.
Porém, antes dos Estados Unidos entrarem na Guerra, o Super-homem teve sua época áurea. Em 1939, um clube foi criado, onde os participantes colecionavam selos e outras raridades do personagem. Ele e Mickey Mouse eram os únicos personagens-produtos da época. Em 1941, Superman teve o seu primeiro desenho animado. Com uma qualidade técnica impressionante que o fez chegar ao Oscar, o desenho mostrava o personagem voando pela primeira vez, em uma aventura em que combatia Lex Luthor. Luthor, por sinal, foi outro que se modificou com o passar do tempo. A princípio era um cientista maluco, depois se tornou um empresário ganancioso. Sempre se adaptando a atualidade e os momentos do país. 
Com a popularização da televisão, um seriado de sucesso foi criado, tendo o ator George Reeves no papel principal. Antes, ele já tinha interpretado o Superman em um filme de 1951 e se tornou um ícone do personagem, tanto que, com a sua morte, o programa morreu junto, não dava para chamar outro ator. Assim, surgiu o seriado Superboy. Uma das curiosidades do documentário é falar sobre um projeto anterior ao Superboy, uma ideia meio estranha de lançar o Superpup, com bonecos de cães, mas nunca chegou a ir ao ar. Nos quadrinhos, a coisa também não ia tão bem. O personagem começou a perder espaço para outro quadrinho da DC: Batman. Algumas modificações começaram a ocorrer, tentando transformar o personagem mais próximo da realidade. Primeiro, a roupa não era mais indestrutível, podíamos ver Superman com a capa rasgada, com a roupa suja. Depois, foi explorado o drama de um extraterrestre super no mundo. Ele poderia ser um de nós? Casar, ter filhos, viver? Sem conflito era impossível fazer um personagem crescer.
Nesse hiato, no entanto, quadrinhos e televisão tentavam manter o mito. Um quesito que foi bastante explorado nessa época foi o relacionamento de Clark Kent e Lois Lane. Não apenas pelo seriado Lois and Clark criado em 1993, como pelas mudanças nos quadrinhos, onde a personagem finalmente descobriu a identidade secreta do herói e teve até uma edição especial com O Casamento do Super-homem. Sendo que entre o pedido de casamento e o casamento em si, a DC ainda arriscou suas fichas na edição que sacudiu novamente as vendas: A morte do Superman.
No início dos anos 2000, no entanto, é que o personagem se torna mais próximo da nova geração. Mais precisamente um mês depois do 11 de setembro de 2001, quando a nação estava frágil diante da ameaça terrorista, a Warner lançou o seriado Smallville, que teve 10 temporadas de sucesso e explorou a juventude do personagem Clark Kent, mas sem um Superboy. Um jovem comum que começa a descobrir seus poderes e tem, como seu melhor amigo de infância, o futuro arqui-inimigo Lex Luthor. No seriado teve até a participação do ator Christopher Reeve que fazia um cientista que ajudava Clark a entender seu papel no mundo. Porém, o ator, não deixa de ser um capítulo à parte dessa história. Após a tragédia da morte de George Reeves, que fazia o personagem na televisão. Ver o Superman dos cinemas cair do cavalo e ficar tetraplégico pareceu uma ironia muito grande, quase uma maldição. O ator, no entanto, lutou enquanto pode contra a paralisia, e ao falecer em 2004, deixou um vazio que parece não ser preenchido.
Com o fracasso do filme de 2006, a Warner esperou para apostar novamente no personagem, fazendo de Batman, de fato, o seu número 1. Após o final da trilogia do Cavaleiro das Trevas, no entanto, Christopher Nolan assumiu roteiro e produção de O Homem de Aço, um filme que prometia mais, mas, não deixa de ser um bom recomeço. Uma modificação substancial em boa parte da mitologia do personagem, não apenas pela ausência da cueca vermelha por cima da calça, ou o azul mais escuro. Pela própria mitologia de sua origem, com uma Krypton mais complexa e uma predestinação desde o nascimento: ele é o único kriptoniano que tem a possibilidade de escolha. Não resta dúvidas de que o personagem ainda gera fascínio, vide as filas que se formam para conferir sua nova aventura nos cinemas. Resta saber como isso se sustentará. Porém, como disse na crítica do filme: vamos torcer, pois o mundo precisa, cada vez mais, acreditar em super-homens.
