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Entrevista exclusiva com Letícia Isnard

Entrevista exclusiva com Letícia IsnardFormada em Ciências Sociais e bailarina, Letícia Isnard passou a se dedicar à carreira de atriz e ingressou na Companhia de Teatro Os Dezequilibrados em 2001. Desde então, tem se destacado em diversos espetáculos e participações na televisão. Ficou mais conhecida do grande público por sua personagem Ivana na telenovela Avenida Brasil em 2012. E atualmente está no ar na pele da vilã Brenda de Sangue Bom.

No dia 04 de outubro, Letícia Isnard estreia de fato nos cinemas, após uma pequena participação em Cilada.com, com o filme Mato sem Cachorro. Dirigido por Pedro Amorim e estrelado por Leandra Leal e Bruno Gagliasso, o filme conta a história Deco e Zoé, se aproximaram e viveram uma história juntos, mas que agora acabou, pois Zoé não aguentava o estilo de vida do namorado. Deco, no entanto, não se conforma com o término e vai tentar ficar com, pelo menos, algo da relação: o cão que os aproximou.

No dia 24 de setembro, houve uma pré-estreia para convidados no UCI Orient Paralela e o CinePipocaCult esteve presente, podendo conversar com a atriz Letícia Isnard, que faz a Ananda, melhor amiga de Zoé e narradora do filme.

Entrevista

CinePipocaCult: Como você define a sua personagem Ananda?
Letícia: Ananda é a melhor amiga da Zoé (Leandra Leal), ela é uma locutora do programa de maior sucesso da rádio. Onde ela destrata bastante os ouvintes e eles adoram. Mas, ela é completamente bipolar, então, quando desliga o microfone ela entra em pânico achando que as pessoas que ela destratou vão voltar pra se vingar, vão seguir ela na rua. Tem delírios paranóicos assim.

Entrevista exclusiva com Letícia IsnardCPC: Você já se sentiu ameaçada por algum papel que fez?
L: Graças a Deus não, nem agora que eu estou fazendo uma vilã (na telenovela Sangue Bom), tive este problema (risos).

CPC: Nunca foi xingada na rua (risos)?
L: Não, as pessoas ainda me associam muito a Ivana (telenovela Avenida Brasil) e dela, as pessoas gostavam. Um ano sendo chamada de corna nas ruas, não é fácil, não (risos).

CPC:Você tinha alguma ligação com rádio antes?
L: Não, eu só tinha ido em rádio para dar entrevista, em programa ao vivo, que é outra história.

CPC:Precisou fazer um laboratório para o papel? Como foi a preparação?
L: Sim, a gente foi em uma rádio lá no Rio de Janeiro, o locutor me ensinou a operar a mesa de som. Aí, teve uma hora que ele saiu e me deixou lá sozinha colocando as músicas, as vinhetas. Passei uma tarde na rádio.

CPC: Mas, para locução foi apenas o seu trabalho como atriz mesmo?
L: Sim, até porque a Ananda tem essa coisa particular, mais agressiva, da energia dela mesmo. Não é uma locutora tradicional. E eu ainda propus ao Pedro, o diretor, que quando ela desligasse o microfone, ela fosse ligeiramente gaga, para demonstrar a insegurança dela na vida real. No microfone ela está atuando, é segura, agressiva, mas fora do estúdio, é outra mulher.

Entrevista exclusiva com Letícia IsnardCPC: E sua personagem é a narradora do filme, certo? Ela abre e fecha e conduz o tema da família perfeita. Você acha que existe uma família perfeita?
L: Claro que não, né? (risos) Nelson Rodrigues não inventou nada. Ele só observou e contou as histórias que tem por aí. Só tem louco. (risos). Mas, é importante ter o ideal também, para a gente ter metas.

Então, qual seria a família ideal dentro da normalidade?
L: Acho que o amor. A família que opera com amor. Estava até conversando com a minha analista sobre essas novas famílias com casais de mulheres ou de homens que a psicanálise ainda não sabe como lidar. Não existe muito material sobre isso. E acho que a questão toda é essa, o ambiente amoroso, é o que vale. Não importa se são três pais e sete mães. O importante é que o amor esteja presente.

CPC: Você gosta de cachorro?
L: Adoro cachorro, já tive dois, um cocker spaniel e um beagle. Destrói tudo, mas adoro.

CPC: Mas, como foi a convivência com o Guto no set?
L: Foi uma loucura, porque ele é muito lindo, então, a gente ficava com vontade de fazer carinho, de brincar com ele, mas não pode. Ele tem que ficar concentrado para a cena, senão o treinamento não funciona. Então, tinha uma série de regras no set, não podia ser muito disperso, senão, o bichinho não consegue separar a hora que está brincando, da que está trabalhando. Então, o mais difícil era se conter para não fazer carinho.

Entrevista exclusiva com Letícia IsnardCPC: E como você definiria o filme, o que considera mais importante?
L: O filme tem uma coisa que não vi ainda no nosso mercado. É que ele é uma comédia romântica, mas tem um humor bem irônico, bem sarcástico. E acho que isso é uma grande questão pro humor agora, porque a gente fica nessa barreira do politicamente correto. E como você consegue ser mais ousado sem ser agressivo? Acho que o filme consegue chegar em um lugar muito interessante. Bem ousado nesse sentido, sem ofender ninguém, sem agredir, mas que passa desse humor fofinho.

CPC: Este foi o primeiro longa-metragem do diretor Pedro Amorim. Como foi trabalhar com ele?
L: Nossa, parecia que ele já fazia aquilo há anos, foi facílimo trabalhar com ele. Acho que o Pedro estabelece uma gira no set tão bacana que dá energia para a gente, estimula. É como um jogo mesmo, o to play, de você atuar jogando, brincando e manter a alegria. Mesmo quando estamos fazendo uma tragédia, é importante manter a alegria de trabalhar. De estar vivo em cena. E o Pedro sabe conduzir isso muito bem. Nos deixa à vontade, ao mesmo tempo, é preciso na direção. Ele deixa a gente solto, mas mais guiando, isso é bom, aqui menos. Ele pega o que você tem a oferecer e trabalha a partir disso.

Entrevista exclusiva com Letícia IsnardCPC: E como você vê o cenário do cinema nacional atual?
L: Eu acho que a gente está conseguindo sair do drama social com as comédias. E acho isso fundamental. Porque eu sempre fico pensando no cinema argentino que já estão no drama psicológico, mandando muito bem. E nossa tradição é muito do drama social. Muito filme sobre violência, pobreza, com temáticas ligadas a esse universo. E acho que a comédia tem um apelo de público muito forte, e isso traz as pessoas pro cinema, ajuda a consolidar um hábito de consumir cinema nacional. E isso vai fortalecendo cada vez mais para que a gente possa produzir mais dramas psicológicos e vá ampliando o universo em que a gente possa trabalhar. Acho que temos um longo caminho pela frente, mas estamos indo muito bem.

CPC: E como atriz, você gosta de comédias ou preferia fazer mais dramas?
L: Eu ultimamente tenho me interessado muito pelo tragicômico. Essa fronteira entre a comédia e a tragédia. A Ivana da Avenida Brasil tinha muito esse lugar. Você ter uma humanidade, uma verdade que é trágica, mas que você vai pelo patético e aquilo é risível. Eu acho que o humor é um instrumento muito poderoso para você conseguir se olhar de maneira crítica. E questionar e refletir sobre o mundo em que a gente vive. Porque, às vezes, o drama como é pesado, te faz sofrer, a gente se fecha. E acho que o humor, ele ganha o público, e aí você chega com informação. Um instrumento muito poderoso que muitas vezes é sub-utilizado. Fica ali na bobajada superficial. Nada contra, tem sua função, tem dias que a gente só quer se divertir mesmo, relaxar. Mas, acho que, quanto mais a gente conseguir usar ele para falar de coisas interessantes, melhor.

Entrevista exclusiva com Letícia IsnardCPC: Você está agora nas três frentes de trabalho, certo? Estreando um filme, no ar com uma novela e no teatro. Como é essa experiência?
L: Isso, estou viajando com a minha peça, Tarja Preta que faço com o Erico Brás, direção de Ivan Sugahara, que é o diretor da minha companhia de teatro As Desequilibradas, a gente trabalha junto há treze anos. E é uma adaptação de um conto da Adriana Falcão, uma mulher viciada em medicamentos de tarja preta e o Érico é o meu cérebro, revoltado que eu estou entorpecendo ele. Uma comédia que tem esse lugar de pegar um tema sério que está aí, todo mundo se dopando, mas de uma maneira divertida, bem humorada. E totalmente absurda. Mas, é um momento muito especial para mim, fazer as três frentes, são linguagens muito diferentes. Acho que o cinema tem o melhor dos dois mundos, porque você tem um processo mais elaborado, como o teatro tem, mas ao mesmo tempo, você trabalha com a qualidade do improviso, que tem que funcionar uma vez, você não tem que repetir toda noite. São processos diferentes. E é muito rico poder estar fazendo as três, pois uma alimenta a outra.

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