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Amarcord
Amarcord
Não, eu não me lembro da primeira vez que vi Amarcord, nem da sensação que tive. Lembro de ser sempre algo quase como uma nuvem que foi se misturando a outras imagens da Itália, de Fellini e de cidades do interior em geral. Inclusive do Eu Me Lembro, do baiano Edgard Navarro. Uma sensação boa, de momentos da vida, nada extraordinário, mas ao mesmo tempo peças que juntas, dão sentido à vida. E este é o clima principal desta que é uma das grande obras do cinema, por isso, resolvi resgatá-la aqui.
Amarcord é uma tradução fonética da expressão "io me ricordo", literalmente, "eu me lembro". E é exatamente isso, as memórias do garoto Titta em sua infância em uma região interiorana da Itália. Festas tradicionais como a chegada da Primavera ou a fundação da cidade. Personagens marcantes como a bela Gradisca, a ninfomaníaca Volpina ou o padre confessor. A família do garoto e seus diversos problemas, incluindo um tio doente mental. Além de pequenos acontecimentos como quando ele quase se perde nos seios da farta mulher da tabacaria.
Fellini faz uma grande crônica dos anos 30, incluindo o surgimento do fascismo com uma crítica ácida ao regime. Temos também flashes da escola onde Titta estuda com pequenas cenas de algumas aulas que mostram os mais estranhos professores e acontecimentos corriqueiros como a travessura da turma para fingir que um dos aluno fez xixi nas calças, ou os sonhos amorosos dos adolescentes. Tudo vai sendo costurado de uma maneira fluida tendo o narrador pontuando diversos momentos da trama com observações e algumas piadas.
Em determinado momento, conhecemos o tio de Titta, um homem que vive internado em um hospício, tendo o direito de sair por um dia com a família. Mas, o episódio acaba mal, com o homem em cima de uma árvore clamando por uma mulher. Tudo em um tom tragicômico que traz também suas reflexões. Quando chegam para buscar o tio no hospício, um enfermeiro garante que ele está bem:“Não está menos normal que as pessoas que vivem fora do hospício”. Pensando na maioria dos moradores da vila de Titta, não chega a ser uma inverdade.
Por não ter uma história tradicional, com o formato conhecido de roteiro, Amarcord vai nos envolvendo pela forma como Fellini vai costurando as lembranças. Tudo traz um clima bucólico, divertido e irônico que nos faz conhecer um pouco sobre personagens tão distintos, mas, que no fundo possuem a mesma essência. Seres em busca da própria felicidade. Sejam as crianças em suas descobertas ou os adultos em suas frustrações e sonhos. Como Gradisca, admirada por todos por sua beleza, mas que ainda não conseguiu encontrar um marido.
A trilha sonora composta por Nino Rota é outro ponto a ser destacado nesta obra. Sem ela, muito do clima nostálgico e belo não poderia ser construído. Tudo é pontuado de forma extremamente habilidosa em seus acordes e sonoridade dos instrumentos. Não por acaso, temos a belíssima cena dos personagens dançando na rua ao som do tema do filme em um dos pontos altos da narrativa.
Mesmo que não tenhamos passado a infância na Itália, nem mesmo nos anos 30, tudo acaba nos soando familiar, próximo, caro à nossa vida. Isto porque Fellini traduz os momentos da lembrança de Titta como algo particularmente pessoal. Não por acaso muitos afirmam que seja uma autobiografia, mas o diretor italiano diz que tem apenas algumas passagens próximas da sua infância.
De qualquer maneira, Amarcord é daqueles filmes gostosos de acompanhar. Belo, poético, envolvente. Uma obra que figura na história do cinema como aquelas que merecem ser sempre lembradas.
Amarcord (Amarcord, 1973 / Itália)
Direção: Federico Fellini
Roteiro: Federico Fellini
Com: Magali Noël, Bruno Zanin, Pupella Maggio
Duração: 123 min.
Amarcord é uma tradução fonética da expressão "io me ricordo", literalmente, "eu me lembro". E é exatamente isso, as memórias do garoto Titta em sua infância em uma região interiorana da Itália. Festas tradicionais como a chegada da Primavera ou a fundação da cidade. Personagens marcantes como a bela Gradisca, a ninfomaníaca Volpina ou o padre confessor. A família do garoto e seus diversos problemas, incluindo um tio doente mental. Além de pequenos acontecimentos como quando ele quase se perde nos seios da farta mulher da tabacaria.
Fellini faz uma grande crônica dos anos 30, incluindo o surgimento do fascismo com uma crítica ácida ao regime. Temos também flashes da escola onde Titta estuda com pequenas cenas de algumas aulas que mostram os mais estranhos professores e acontecimentos corriqueiros como a travessura da turma para fingir que um dos aluno fez xixi nas calças, ou os sonhos amorosos dos adolescentes. Tudo vai sendo costurado de uma maneira fluida tendo o narrador pontuando diversos momentos da trama com observações e algumas piadas.
Em determinado momento, conhecemos o tio de Titta, um homem que vive internado em um hospício, tendo o direito de sair por um dia com a família. Mas, o episódio acaba mal, com o homem em cima de uma árvore clamando por uma mulher. Tudo em um tom tragicômico que traz também suas reflexões. Quando chegam para buscar o tio no hospício, um enfermeiro garante que ele está bem:“Não está menos normal que as pessoas que vivem fora do hospício”. Pensando na maioria dos moradores da vila de Titta, não chega a ser uma inverdade.
Por não ter uma história tradicional, com o formato conhecido de roteiro, Amarcord vai nos envolvendo pela forma como Fellini vai costurando as lembranças. Tudo traz um clima bucólico, divertido e irônico que nos faz conhecer um pouco sobre personagens tão distintos, mas, que no fundo possuem a mesma essência. Seres em busca da própria felicidade. Sejam as crianças em suas descobertas ou os adultos em suas frustrações e sonhos. Como Gradisca, admirada por todos por sua beleza, mas que ainda não conseguiu encontrar um marido.
A trilha sonora composta por Nino Rota é outro ponto a ser destacado nesta obra. Sem ela, muito do clima nostálgico e belo não poderia ser construído. Tudo é pontuado de forma extremamente habilidosa em seus acordes e sonoridade dos instrumentos. Não por acaso, temos a belíssima cena dos personagens dançando na rua ao som do tema do filme em um dos pontos altos da narrativa.
Mesmo que não tenhamos passado a infância na Itália, nem mesmo nos anos 30, tudo acaba nos soando familiar, próximo, caro à nossa vida. Isto porque Fellini traduz os momentos da lembrança de Titta como algo particularmente pessoal. Não por acaso muitos afirmam que seja uma autobiografia, mas o diretor italiano diz que tem apenas algumas passagens próximas da sua infância.
De qualquer maneira, Amarcord é daqueles filmes gostosos de acompanhar. Belo, poético, envolvente. Uma obra que figura na história do cinema como aquelas que merecem ser sempre lembradas.
Amarcord (Amarcord, 1973 / Itália)
Direção: Federico Fellini
Roteiro: Federico Fellini
Com: Magali Noël, Bruno Zanin, Pupella Maggio
Duração: 123 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Amarcord
2015-03-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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