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A Comunidade
A Comunidade
Novo filme de Thomas Vintenberg, A Comunidade traz características próximas de seus grandes filmes. A principal delas é trabalhar as emoções humanas elevando a níveis insuportáveis e fazendo-as explodir em dores quase vivas. Ainda assim, traz problemas, principalmente de ritmo.
O casal de acadêmicos Erik e Anna, junto com a filha Freja, resolvem abrir sua casa para criar uma comunidade igualitária em um belo bairro de Copenhague. Realizando uma seleção quase às cegas, vão reunindo pessoas diversas. Porém, a concepção ideal acaba desmoronando em alguns aspectos.
A principal questão que Vintenberg explora é a ironia dos sonhos perdidos. Principalmente em relação à personagem Anna que é quem idealiza o projeto da comunidade e quem acaba sendo mais afetada por ela. Enquanto que Erik, reticente à ideia, acaba reconfigurando sua vida de maneira surpreendente.
Há situações insólitas na convivência do grupo. Como um personagem que nunca colabora financeiramente e quando cobrado começa a chorar. Ou o garotinho desenganado que sempre repete quando quer comover “eu não passarei dos nove anos”. Ou ainda o relacionamento da jovem Freja com um jovem mais velho.
Mas, sem dúvidas, a situação mais incômoda é o drama vivido pelo casal principal. Sem querer dar muitas informações e spoilers, a maneira como a situação vai sendo construída é incômoda. Não apenas pela apatia, mas pela antecipação de que não vai dar certo, que há mais ali a ser resolvido, mas que os personagens preferem esconder e fingir não ver. E os atores Ulrich Thomsen e Trine Dyrholm conseguem desenvolver muito bem as emoções contidas e posteriores explosões dos personagens.
Ainda assim, o filme parece carecer de ritmo e propósito. Expor o mundo idealizado desmoronando é instigante, mas soa também utópico, por todos os vieses ali apresentados. A forma como a comunidade se organiza e como vai sendo desenvolvida a ação demonstram cansaço, até pelo fato de muitas das situações se tornarem absurdas à nossa vista.
Ainda assim, Vintenberg demonstra eficiência em trabalhar os espaços, focando principalmente na casa onde a comunidade se estabelece. As cenas à mesa acabam sendo as mais interessantes, seja em deliberações da comunidade ou em simples confraternizações. Ali são dadas as pistas com olhares ou ausência de comunicação entre o casal, por exemplo. Ali também percebemos as relações entre os personagens, inclusive do pequeno Vilades que olha a garota Freja, com o dobro de sua idade, com sonhos impossíveis.
No final, A Comunidade é um filme de altos e baixos, mas que consegue nos envolver e nos tirar da situação de conforto. Não tanto quanto A Caça, um dos filmes anteriores do diretor. Mas, ainda assim, uma obra que merece nossa atenção.
Filme visto no 5º Olhar de Cinema de Curitiba.
A Comunidade (Kollektivet, 2016 / Dinamarca)
Direção: Thomas Vintenberg
Roteiro: Thomas Vintenberg,
Com: Ulrich Thomsen, Trine Dyrholm, Lars Ranthe
Duração: 111 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Comunidade
2016-06-19T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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