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Mãe Só Há Uma

Mãe Só Há Uma - filme

Depois do sucesso de Que Horas Ela Volta?, Anna Muylaert lança mais um filme que já traz na bagagem sucesso internacional. Mãe Só Há Uma venceu o Teddy Award no Festival de Berlim 2016 e é um sensível tratado sobre identidade, sentimentos e significado de família.

Pierre é um adolescente aparentemente comum. Toca em uma banda, vai a escola, sai com os amigos, paquera. Tudo bem que ele tem uma vida sexual bastante ativa e livre. Tanto que experimenta roupas femininas e gosta de meninas e meninos. Mas, nada anormal. O problema é que, um dia, agentes federais batem na sua porta, prendem sua mãe e lhe dizem que ele, na verdade, foi sequestrado na maternidade e sua verdadeira família o procura há dezessete anos.

Mãe Só Há Uma - filmeInspirado no famoso caso real do Pedrinho, Mãe Só Há Uma nos mostra as diversas vertentes de um crime. Afinal, Pierre teve uma mãe amorosa, que cuidou dele, lhe deu educação, carinho, espaço para se desenvolver. Como fazer agora ele passar uma borracha nisso e aceitar que aquela mulher que sempre amou é uma criminosa e que duas pessoas estranhas são seus verdadeiros pais?

Ao mesmo tempo, como esse casal, que passou dezessete anos procurando o filho roubado, pode compreender que essa mulher que causou tanto sofrimento, é uma mãe para o filho deles? E como lidar com a rejeição daquele que amam e sempre sonharam em reencontrar? Como lidar com a situação desconfortável para ambos?

É curioso que mesmo com toda a dificuldade e até mesmo ansiedade deles, há uma espaço para adaptação. Ao contrário dos pais da irmã de Pierre que entram de maneira abrupta, quase como estivessem ali pegando uma mercadoria. Os pais de Pierre, vividos por Matheus Nachtergaele e Dani Nefussi são mais cautelosos, buscam se aproximar aos poucos, ainda que Glória sufoque um pouco o garoto com cuidados, assim como Matheus tenta impor aos poucos o seus hábitos.

Mãe Só Há Uma - filmeO que é curioso mesmo e instigante é a escolha de Anna Muylaert de dar a Dani Nefussi esse papel duplo de mãe biológica e mãe adotiva. Como se fosse mesmo duas fases de uma mesma moeda. Mais do que julgar Aracy ou rejeitar Glória, ela trata com esse arquétipo máximo da Mãe. Esse ser quase mitológico que todo ser humano se apoia de alguma maneira. Mesmo que órfão ou com uma mãe biológica cruel, há sempre uma "mãe" para nos acolher e amparar.

Por mais assustador que seja, Pierre tem isso em duas personas. Não por acaso é Glória quem tenta respeitar a identidade do filho tratando pelo nome que ele se acostumou a usar, enquanto o pai insiste em chamá-lo de Felipe. Ao mesmo tempo é ela que reage como uma leoa buscando resguardá-lo quando o garoto tenta rever Aracy, aquela que o criou.

Com pouco tempo e recursos econômicos, Anna Muylaert nos dá material para refletir. O filme não entrega nada de graça ao espectador, é ele quem tem que ir observando e refletindo. Sobre os sentimentos de Pierre, sobre sua rotina, sobre suas mães e até sobre suas resoluções. Tudo aberto, tudo amplo. Mas, também extremamente sensível.

Mãe Só Há Uma, ao contrário de Que Horas ela volta?, é um filme intimista, alternativo, dificilmente será tão popular quando o antecessor. Há muita imagem experimental, com câmera na mão, fotografia mais suja, cenas contemplativas. Único problema é a mixagem de áudio que deixa a desejar em diversos momentos. Ainda assim, um filme para embarcar sem medo.


Mãe Só Há Uma (Mãe Só Há Uma, 2016 / Brasil)
Direção: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert
Com: Naomi Nero, Dani Nefussi, Matheus Nachtergaele
Duração: 82 min.

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