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Géza Röhrig
László Nemes
Levente Molnár
oscar 2016
Urs Rechn
Filho de Saul
Filho de Saul
Muitos filmes já foram feitos sobre o holocausto. O que a obra de László Nemes parece trazer de diferente está na maneira como adentra esse cenário obscuro da história mundial. Nos mostrando que entre os judeus, também havia uma espécie de hierarquia.
Os sonderkommando eram aqueles escolhidos para trabalhar no campo de uma maneira bastante específica: limpando as câmeras de gás ao recolher e cremar os corpos do local. E, nesse processo, grupos hierárquicos também iam se formando para procurar objetos de valor escondidos. Só essa situação desumana já nos dá um bom material para pensar como o ser humano consegue se colocar em disputa mesmo em situações tão adversas. É quase uma briga de menos pior.
Há cenas na obra que nos deixam assustados diante de tanta cegueira humana. Como quando um grupo de judeus nus é executado, sendo jogado por também judeus que organizam os grupos. E ficamos nos perguntando como a humanidade chegou a isso. E nisso, podemos fazer paralelos com diversas atrocidades da história como os próprios africanos venderem seus irmãos para serem escravos ou negros libertos se tornarem capatazes e perseguidores de escravos fugidos. A ordem é sobreviver.
É diante desse cenário tão cruel que a câmera de László Nemes parece querer se fechar cada vez mais para nos dar a mesma sensação de claustrofobia. Mesmo nas cenas externas, os planos nunca são muito abertos. Tudo é muito próximo e incômodo. A fotografia também é bastante escura e ajuda a dar a sensação de espaço sempre sujo, poluído. Além de muito quente.
A luz de humanidade surge com o personagem Saul encontrando um garoto que sobrevive por alguns segundos em sua frente. Um vínculo e um objetivo se criam. Apesar do título nos dar a pista do filho e isso ser alegado pelo protagonista mais à frente, nunca sabemos de fato se é um filho real ou simbólico. Uma maneira de conseguir sobreviver ao caos.
Na obsessão por dar um enterro digno ao garoto, Saul se desconecta do inferno onde vive, tendo uma missão mais nobre, que, claro, também gera problemas. Isso não parece importar. Ao ser questionado sobre estar colocando em risco a vida do grupo, ele grita ao companheiro: nós já estamos mortos. E não tem muito o que argumentar diante disso, já que é a cruel realidade mesmo daquele lugar, tudo parece ser questão de tempo.
Por isso, Filho de Saul é um filme tão perturbador e impactante. Ele não quer criar falsas esperanças ou mesmo construir um castelo de fantasia diante do caos como A Vida é Bela, por exemplo. Tudo é muito realista e sem doses homeopáticas. O que vale é a experiência de um homem que luta pro um instante de dignidade diante da morte.
Filho de Saul (Saul fia, 2016 / Hungria)
Direção: László Nemes
Roteiro: László Nemes, Clara Royer
Com: Géza Röhrig, Levente Molnár, Urs Rechn
Duração: 107 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Filho de Saul
2017-03-12T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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