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Rosanne Mulholland
Homem Livre
Homem Livre
Primeiro longa-metragem do diretor Alvaro Furloni, primeiro roteiro de longa assinado por Pedro Perazzo. E com essa dupla estreia é de se admirar a consistência e coragem de Homem Livre. Um suspense psicológico que vai escalando a insanidade de seu protagonista e nos deixando curiosos em relação ao que aconteceu e ao que está de fato acontecendo.
Vamos junto com Hélio Lotte, um ex-astro do rock que acaba de sair da prisão e vai morar em uma casa onde funciona uma igreja evangélica, sob a custódia do pastor local. É interessante como o filme vai nos dando o ponto de vista de Hélio e, com isso, deixando diversas dúvidas sobre seu passado. Pouca coisa é explicada e vamos juntando as peças entre falas, cortes de jornais, alucinações e imagens.
Armando Babaioff consegue fazer um bom trabalho de construção de personagem. Começa como um homem desconfiado, reservado e vai, aos poucos, escalando sua paranoia. O que parecia uma jornada de redenção acaba se tornando um jogo perigoso de desconfiança e medo.
O pastor de Flávio Bauraqui nunca nos dá segurança em relação às suas intenções com Hélio, o que também é mérito do ator. Ao mesmo tempo que louva o perdão e prega a necessidade de acolher aquele homem como um bom cristão, traz sempre situações que nos parecem buscar se aproveitar de sua fama.
Essa questão da fama também é curiosa e discutível. Até que ponto a paranoia dele o faz achar que todos estão sempre de olho nele, como na cena do karaokê? Para manter a dúvida, o filme traz uma cena no ônibus onde um casal o reconhece e tira fotos, mas outra onde um grupo de jovens não esboça nenhum reconhecimento.
A escolha da direção em misturar câmeras de segurança durante a narrativa trazem outro tom de suspense e dúvida sobre o que está acontecendo. E a maneira como a imagem recorrente do carro surge cria uma espécie de diálogo com o que passa na mente do protagonista, trazendo ainda mais tensão para a história. Não há nada de inovador ou impactante ao extremo, mas acaba sendo um suspense competente que te prende do inicio ao fim.
Homem Livre traz sua grande ironia no título. Afinal, que liberdade é essa que mais prende que qualquer outra coisa? Quanto mais tempo passa solto, mas Hélio vai se prendendo a medos, inseguranças e desconfianças. Como o próprio pastor disse, apesar de cumprir sua pena, algumas pessoas o condenaram a prisão perpétua. Talvez ele próprio faça coro a isso.
Filme visto no 6º Olhar de Cinema de Curitiba.
Homem Livre (Brasil, 2017)
Direção: Alvaro Furloni
Roteiro: Pedro Perazzo
Com: Armando Babaioff, Flavio Bauraqui, Rosanne Mulholland
Duração: 84 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Homem Livre
2017-06-12T15:43:00-03:00
Amanda Aouad
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