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O Nó do Diabo
O Nó do Diabo
Filme de gênero no Brasil é sempre algo complexo e visto com olhos de preconceito. Imagine isso em um festival de cinema?
O Nó do Diabo chama a atenção por parecer andar fora da curva, inclusive por ser um projeto originalmente para a televisão. Uma minissérie de cinco episódios que se une em tela não apenas como cinco curtas, ainda que a equipe de cada um deles seja bem definida e separada.
Há uma curva dramática única nos cinco capítulos que vão retrocedendo no tempo para transmutá-lo e construir novos significados. 2018 não nos parece tão distante de 1818, ou mesmo das demais épocas apontadas (1987, 1921 e 1871). E a maneira como os elementos de gênero se interpõem ao tema da narrativa flui bem nesse diálogo, não parecendo projetos isoladas, mas corpos de uma única trama.
Ainda assim, é possível perceber que são destoantes em técnica e qualidade, sendo o segundo e o último capítulo os melhores resolvidos enquanto o primeiro e quatro nos parecem mais problemáticos. Principalmente se formos pensar nessa curva única e na capacidade de aprofundar a temática proposta. Mas há também um problema de ritmo, principalmente no quarto.
O horror da escravidão por si só é forte e gera metáforas diversas para o gênero, mas a maneira como o grupo se apropria disso para construir significados, misturando elementos sobrenaturais com feridas históricas é competente. Talvez isso seja o ponto alto da obra. O simbolismo do sangue derramado em cada chicotada e a ressignificação que ganha no clímax é de se admirar.
Da mesma forma, o protagonismo vai se modificando através do ponto de vista que começa com um homem branco, ainda que vilão, para culminar em uma mulher negra com rituais ancestrais. É possível perceber aquelas personagens em sua individualidade, ainda que haja uma estrutura arquetípica na concepção da narrativa. Isso também é louvável.
Há um incômodo apenas na necessidade de explicitar tanto a violência, principalmente física. Há chaves dentro do próprio gênero de terror que podem ser acionadas, nos trazendo um efeito muito mais potente em sugestões e sutilezas. Com exceção do segundo capítulo, não temos a preparação para a dor, não há a construção do medo. Estamos imersos na situação de perigo constante, sem respiros, sem pausas para construir melhor aquelas buscas.
Ainda assim é uma proposta louvável com um bom resultado técnico. O terror sempre exigiu no cinema brasileiro, ainda que boa parte do tempo marginalizado. E uma nova geração de cineastas chega com força para buscar modificar esse cenário. Que sejam bem-vindos.
O Nó do Diabo (Nó do Diabo, 2017 / Brasil)
Direção: Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé, Jhésus Tribuzi
Roteiro: Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé, Jhésus Tribuzi
Com: Fernando Teixeira, Isabel Zuaa, Cíntia Lima, Zezé Mota, Edilson Silva, Tavinho Teixeira, Clebia Sousa, Alexandre Sena
Duração: 124 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Nó do Diabo
2017-09-23T18:58:00-03:00
Amanda Aouad
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