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The Post: A Guerra Secreta


Liberdade de expressão. Algo caro ao American Way Of Life e ao próprio capitalismo, que de alguma maneira é a mesma coisa. Isso é que está em jogo em The Post, mais do que a Guerra Inútil ou não, mais do que a ética, o dinheiro ou mesmo o senso de justiça. The Post: A Guerra Secreta é uma briga pelo direito de um jornal de publicar o que quiser, acima de tudo.

Tudo começa com o New York Times publicando uma série de reportagens sobre bastidores da Guerra do Vietnã que compromete o Governo dos Estados Unidos em suas diversas gestões. O presidente Richard Nixon resolve processar o jornal e os documentos sigilosos do Pentágono vão parar nas mãos da equipe de Ben Bradlee (Tom Hanks), editor-chefe do The Washington Post. A questão é que o jornal, agora gerido por Kat Graham (Meryl Streep), está passando por uma reformulação, abrindo o capital para investimentos na bolsa de valores e qualquer decisão pode ser crucial para a empresa.

O filme se constrói em duas frentes. Hanks e Streep, ambos excelentes defendendo suas personagens com seus desafios pessoais e profissionais, sua rotina e como esse impasse os influencia. Ter dois atores como esses nas mãos ajuda o trabalho de Steven Spielberg que constrói sua decupagem em função deles, o tempo deles, a maneira como a câmera os busca, a montagem paralela das suas ações.

Kat Graham é mais do que uma dona de jornal. Sua rotina se divide entre o papel da mulher na época, o desafio de estar no mundo "dos homens" e a responsabilidade de manter o legado da família. Assume a empresa com a morte do seu marido, função antes de seu pai. A insegurança diante de um grupo hostil é visto desde o primeiro ensaio para uma reunião, onde, posteriormente, ela não consegue se defender tão bem. São vários os momentos em que o tema é explorado e Spielberg parece forçar a situação para chamar ainda mais atenção para isso, como em uma cena em que ela desce as escadarias do fórum com um corredor de mulheres a admirando. E Graham consegue passar por tudo isso, sem deixar de organizar recepções sociais em sua casa ou mesmo deixar de dar atenção à família.

Já Ben Bradlee raramente é visto em sua vida pessoal. As poucas cenas com a esposa são para falar sobre o trabalho e quase sempre ele tem que sair no meio para correr para a redação. A personagem é construída no foco pela notícia, por querer fazer o The Post deixar de ser um jornal local para ter uma importância maior. A veia jornalística, o furo de reportagem, o peso de criar tendências e não de segui-las. Para ele, pouco importa a questão da guerra em si com os milhares de soldados mortos em vão por uma batalha já perdida. O seu desejo é estar à frente da notícia.

Ainda que traga as discussões de pauta e rotina das redações, o filme segue o tom do melodrama próprio do diretor. A tensão crescente, a emoção contida e trabalhada para explosões em momentos certos, a trilha marcando o tom das cenas. The Post é um filme que constrói bem os seus efeitos emocionais buscando a empatia do espectador para com os seus protagonistas. É difícil ser imparcial diante das quase duas horas de projeção. Nos vemos torcendo pelas decisões.

Há também a clara intenção política do próprio ato de narrar esta história. A maneira como o diretor ironiza Nixon de diversas maneiras, desde a aparente desimportante tensão inicial do casamento da filha descredenciando a repórter, até o golpe final na última cena. Em diversos momentos da narrativa, vemos a sombra do ex-presidente falando ao telefone, comentando os acontecimentos.

The Post: A Guerra Secreta não é um grande filme, mas cumpre o seu papel. Longe das obras inesquecíveis que Spielberg, parece mais burocrático do que de costume, defendendo uma bandeira política e tentando nos envolver nela, mas faltando alma de fato. Ainda assim, vale a pena embarcar nele.



The Post: A Guerra Secreta (The Post, 2018 / EUA)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Liz Hannah, Josh Singer
Com: Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk
Duração: 116 min.

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