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O Piano

O Piano - filme

Única mulher a ganhar uma Palma de Ouro em Cannes, segunda a ser indicada na categoria de melhor direção, Jane Campion fez história com O Piano, sua obra-prima até hoje. E, de certa maneira, o filme acabou se tornando um símbolo feminista, até porque sua protagonista Ada luta interna e externamente para sobreviver em um mundo extremamente machista. Mas seria injusto com a obra reduzi-la a isso.

O Piano é um dos filmes mais marcantes dos anos 90, já podendo ser considerado um clássico moderno. Conta a história de Ada, uma mulher emudecida por um trauma de infância que é dada em casamento a um homem na Nova Zelândia. Tendo que se mudar com a filha pequena para uma terra desconhecida, levando seus pertences e um piano, mais do que um objeto para ela, era sua voz e parte de sua alma. O problema é que o marido deixa o instrumento musical na praia e depois o vende para o explorador Baines, que tem uma proposta para a moça.

O Piano - filmeTalvez uma das questões que mais instiga no roteiro escrito pela própria Campion é essa relação controversa entre Ada e Baines. Diferente do marido e mesmo da filha, que muitas vezes é a voz da mãe, o homem consegue compreender a alma da pianista que fala através das teclas de seu instrumento musical. Ele se encanta por sua música, em uma cena belíssima na praia, quando ela toca com ele ainda coberto pelo caixote que o trouxe, criando diversos significados imagéticos do cenário aberto e o instrumento preso, tal qual como Ada se sente ali, naquela terra, sufocada mesmo ao ar livre.

As aulas de piano, ainda que tenha o jogo de sedução e submissão a partir do preço dado por Baines para que Ada retome seu piano, vão se constituindo em uma abertura gradual daquela mulher que sempre foi tão oprimida pela sociedade, pela família, pelas regras que lhe foram impostas. A câmera de Campion passeia por aquele quarto, ao som do piano de uma maneira extremamente sensível, nos passando a exata sensação de desconforto que vai se diluindo em uma cumplicidade que acaba por emocionar ao presenciar o encontro dessas duas almas.

O Piano - filmeAs atuações são um destaque da obra, a começar pela pequena Anna Paquin que consegue passar verdade em suas cenas. Uma criança em uma situação tão adversa que constrói sua própria confusão emocional entre mãe, padrasto e aquele homem, que parece intruso. Holly Hunter, sem dar uma única palavra em cena, apenas em voz over, consegue nos passar toda a angústia de sua personagem em olhares e gestos. A maneira com que toca o piano também é especial, podemos captar que ali não são apenas dedilhares decorados de notas, mas uma expressão genuína que nos passa emoções diversas.

A trilha sonora também é extremamente importante nesse processo de construção de efeito, já que Ada não toca qualquer música. Michael Nyman constrói um jogo sonoro entre músicas extradiegéticas (que não pertencem à narrativa) e as melodias tocadas por Ada em cena, construindo etapas da narrativa entre a sensação medo do desconhecido, aprisionamento, o pacto secreto, a paixão e a resolução.

O clímax com a cena no mar é talvez a síntese de tudo o que O Piano representa em sons, imagens, narrativa e simbologia. A dificuldade de Ada, a insistência dos homens que a cercam em acharem que sabem o que é melhor para ela, a decisão, a consequência, a redecisão e resolução. Está tudo ali em menos de cinco minutos construídos com planos extremamente bem cuidados que nos passam a relação dela com o piano, suas emoções e nos fazem mergulhar com ela naquelas emoções.

Por tudo isso, O Piano é daqueles filmes que marcam a história do cinema. Não apenas por ser uma inspiração para todas as mulheres, mas por ser, de fato, uma aula de cinema. Um filme bem cuidado em todos os aspectos técnicos, que conseguem passar suas diversas emoções e sensações através de imagens e sons.



O Piano (The Piano, 1993 / Nova Zelândia)
Diração: Jane Campion
Roteiro: Jane Campion
Com: Holly Hunter, Harvey Keitel, Sam Neill, Anna Paquin
Duração: 121 min.

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