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Sou Carnaval

Sou Carnaval - filme brasileiro

Após falar sobre a paixão pelo Esporte Clube Bahia, Marcio Cavalcante lança “Sou Carnaval”, documentário sobre esse tão particular carnaval de rua da cidade de Salvador. A ideia é bem específica e o diretor deixa claro desde o início sobre o que quer falar. Personificando a festa na voz de João Miguel, constrói o que ele chama de uma “autobiografia” do Carnaval de Salvador e é feliz em seu intento.

Há uma pesquisa aprofundada na obra, que vai desde a origem do carnaval em si (a festa da carne), passando pela fundação de Salvador, os primeiros bailes, o surgimento do “pau elétrico”, da “fobica” de Dodô e Osmar, as tradições, os blocos afros, os trios elétricos, os artistas, o boom e decadência do Axé Music, os camarotes. Tudo é abordado em quase duas horas de projeção, o que nos faz perder o fôlego em alguns momentos.

Sou Carnaval - filme brasileiroA montagem é frenética, há poucos respiros, um ritmo publicitário que não significa necessariamente algo ruim. Acaba sendo o compasso da própria festa nessa mistura esquizofrênica de ritmos, estilos, histórias, formatos. O filme traduz essa loucura gostosa que só quem viveu em algum momento pode compreender completamente.

Deixando claro estar falando sobre o carnaval de Salvador em específico, o filme busca também entender um pouco o que é ser baiano, soteropolitano e toda a diversidade que essa cidade, primeira capital do país, traz em sua essência. Mistura de raças, povos, credos. Sincretismo em sua raiz que deixa todos à vontade.

A escolha de João Miguel para encarnar o carnaval de Salvador é acertada. Além de baiano e ótimo ator, sua voz consegue ser natural e divertida tal qual a festa. O próprio diretor disse que teve a certeza de sua escolha quando ouviu as histórias do ator sobre sua relação com o carnaval. Há uma intimidade na fala que deixa claro não ser apenas alguém declamando um texto, há verdade em sua voz e isso nos convence a embarcar com ele.

Sou Carnaval - filme brasileiroAinda assim, é inegável que os melhores momentos da obra são os que a câmera vai para rua dar voz ao povo. Quando busca entender a paixão, a energia, as motivações e visões daqueles anônimos que realmente fazem a festa acontecer. É curiosa a escolha de colocá-los em primeiro plano, tendo os artistas apenas como pano de fundo. Mesmo quando valoriza as estrelas com projeção internacional que alguns se tornaram.

Na busca por abarcar tudo, Márcio Cavalcante pode ter perdido a oportunidade de explorar melhor esses personagens que cruzaram com sua câmera. E de empolgar com essa energia que vem das ruas, das músicas, das lembranças. Baianos e turistas dos mais diversos que nos dão essa dimensão da alegria e euforia daqueles dias. Tanto que a gente sai do cinema com a divertida imagem pós-créditos que resume um pouco desse sentimento maior.

Ainda que não aprofunde, o filme flerta ainda com uma posição política que enriquece a reflexão sobre a festa, desde o descobrimento e mistura de raças desmistificando a colonização romantizada, passando pelas segregações “democráticas” que a festa esconde com sua industrialização e o retorno da “elite” aos "bailes fechados", nos ricos camarotes que hoje dominam o circuito.

De qualquer maneira, Sou Carnaval é um filme que cumpre o seu objetivo. Há um importante registro histórico, uma busca pela compreensão da paixão e euforia de uma festa ímpar e reflexões sobre um povo, uma cidade e suas tradições culturais. Poderia ter mais paixão e menos informação, mas não deixa de ser um belo registro.


Sou Carnaval (Sou Carnaval, 2019 / Brasil)
Direção: Marcio Cavalcante
Roteiro: Marcio Cavalcante
Duração: 110 min.

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