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A Favorita

A Favorita - filme

Século XVII, Inglaterra nos bastidores da corte da rainha Ana, A Favorita poderia ser apenas mais um filme sobre a era vitoriana e os costumes da realeza. Nas mãos do diretor Yorgos Lanthimos, torna-se um experimento cinematográfico pautado no talento de suas atrizes e em certo tom expressionista.

Adepto do realismo fantástico, Lanthimos já brincou com a realidade em cena e questionou valores da sociedade em suas obras como O Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado. Ainda que não assine o roteiro, aqui não é diferente. A câmera parece nunca seguir regras nem buscar o mais simples. Há sempre um novo ponto de vista e uma forma de construção da mise-en-scène que procura traduzir o estranhamento e incômodo daquelas personagens e seu universo ficcional.

A Favorita - filmePor vezes, essa escolha causa incômodo exagerado, em um excesso de maneirismo que parece mais preocupado em causar a estranheza do que construir algo. Não chega a ser uma intenção inválida e temos que compreender o propósito do filme, mas é fato que o olhar cansa em determinado momento, não apenas pela utilização da lente grande angular que distorce a imagem em busca de uma área maior no enquadramento, mas também pela falta de respiros visuais.

A fotografia escura também colabora para essa eterna sensação de incômodo e angústia que traduz o espírito daquelas mulheres. A rainha Ana, que já doente e cansada, é comandada pela duquesa de Marlborough, sua amante, e a pela jovem esperta e ambiciosa Abgail que chega para desarrumar a ordem estabelecida.

A Favorita - filmeO trio de atrizes protagonistas destaca-se em relação ao restante do elenco, não apenas pela quase concentração em suas personagens, como pela maneira como Lanthimos as conduz em cena. Não por acaso, as três estão concorrendo a todos os prêmios de interpretação. O embate de Emma Stone e Rachel Weisz pela atenção de Olivia Colman é instigante e construído em subtextos, quase sem confrontos diretos, o que deixa ainda melhor.

É curioso perceber que apesar de se passar nos bastidores de um reino, o roteiro de Deborah Davis e Tony McNamara não trata do poder político como principal trama. É o embate emocional que nos envolve. Por mais que exista um interesse por poder das duas mulheres, o jogo é mais profundo e fala das fragilidades da alma humana sempre em busca de suportes emocionais para se sentir digno de viver. Uma dinâmica que lembra A Malvada, filme de Joseph L. Mankiewicz.

Entre intrigas, declarações de amor, sofrimentos e trapaças, o reino é apenas pano de fundo. E o que nos instiga é o jogo psicológico e todas as implicações desse doentio triângulo e suas nuances.

A Favorita pode não ser o mais criativo e competente filme de Yorgos Lanthimos, mas mantém sua marca de nos fazer pensar sobre valores de uma sociedade, muitas vezes doentia, a partir de metáforas e elementos que vão além da realidade que vemos.



A Favorita (The Favourite, 2018 / Reino Unido)
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Deborah Davis, Tony McNamara
Com: Olivia Colman, Emma Stone, Rachel Weisz, James Smith, Mark Gatiss
Duração: 119 min.

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