
Confesso pouco conhecer sobre o diretor Yves Lavandier. Pesquisando, descobri até que escreveu um livro (La Dramaturgie) de roteiro comparado a Poética de Aristóteles por Jacques Audiard. Mas, ele escolheu começar o filme de uma forma muito didática com Gérard Jugnot, que vive o terapeuta, falando diretamente para câmera e explicando um pouco da teoria da Análise Transacional, intercalado com cenas ilustrativas. Se o filme fosse todo assim, acho que acabaria largando-o no meio.
Felizmente, quando a protagonista Eglantine Laville entra no consultório terapêutico, o filme engrena. A história é aparentemente bem simples. Uma adolescente com pais problemáticos. A mãe, deprimida e alcóolatra, e o pai, ausente que compensa dando dinheiro a cada nota escolar boa da filha. Pra completar, a moça começa a namorar sério, mas tem medo da "primeira vez". Preocupada com a situação da mãe, ela procura um terapeuta e começa a mudar sua vida.
O mais interessante que achei do filme é exatamente o fato de utilizar a Análise Transacional. O que sempre vemos no cinema é a teoria de Freud e Lacan, no máximo Jung, com sessões de análise emblemáticas. Estereótipos de analistas e seu divã seja para comédia ou para o drama. Ver uma relação mais próxima da minha realidade, por si só já me conquistou. Muitos chamam Eric Berne de frio, tentando calcular o comportamento humano, mas a caracterização dos jogos psicológicos dos quais nos utilizamos todos os dias para nos manter em posição de vítima do mundo é muito interessante. O título do filme mesmo: "sim, mas". É um dos jogos mais comuns do ser humano. Aquela atitude de sempre negar uma solução que lhe oferecem.

- "Queria tanto ir ao cinema, mas tenho que estudar".
- "A prova não é só na sexta-feira?"
- "Sim, mas é muita coisa".
- "Eu posso te ajudar com os resumos"
- "Sim, mas você não sabe todo o assunto".
- "Se quiser, eu leio com você e tomo a lição".
- "Sim, mas vai ser complicado conciliar um horário"
E por aí vai. Se as partes quiserem, o jogo não acaba nunca e a pessoa sempre estará na posição de "coitada de mim".
A partir do momento em que Eglantine Laville começa a interagir com o terapeuta Erwann Moenner, o assunto flui de uma forma leve e construtiva, nos embalando em seus dramas e em seus aprendizados. O roteiro é simples, bem clichê até, daria uma boa Sessão da Tarde. As falas do terapeuta servem para refletir sobre nossas próprias atitudes. Como eu disse, não é nenhuma obra-prima cinematográfica, mas com ensinamentos profundos sobre o comportamento humano. Acho, até, que os analistas transacionais poderiam utilizá-lo em suas aulas do Curso 101.