
A
Copa das Confederações acabou ontem, é verdade. Mas, os questionamentos continuam, agora que estamos há um ano da
Copa do Mundo da Fifa em solos brasileiros. Em primeiro lugar, quero deixar claro que não pretendo fazer uma manifestação contra o evento no país. Poderíamos ter discutido isso antes, agora que os investimentos já foram feitos, cancelar é pior. Os
estádios já estão construídos, as famílias já estão desalojadas, comércios já se organizaram. Mas, refletir e expor as questões que são levantadas nesse documentário,
A Caminho da Copa, não deixa de ser um processo de aprendizado. Pena que não há reflexões sobre o que fazer a partir de agora.

De qualquer maneira, o trabalho de denúncia feito pela dupla
Carolina Caffé e
Florence Rodrigues é louvável. Principalmente, ao mostrar o que aconteceu com as famílias que viviam nas áreas próximas aos estádios do
Corinthians e
Maracanã. A cena em que a
polícia de choque chega para acabar com o protesto em uma comunidade, por exemplo, é impressionante. Não apenas pelos gritos de que uma criança de 5 anos foi atingida na cabeça, mas por toda a construção da situação. É mesmo uma pena que
manifestações populares ainda sejam tratadas dessa forma.
Feito basicamente com depoimentos, o
documentário analisa a situação nas cidades-sede e em especial em São Paulo e Rio de Janeiro, onde populações tiveram que ser desalojadas em um processo bastante complexo e injusto. Esse é o ponto-chave do
filme, deixar famílias sem casa para criar
estádios para um evento de um mês. Porém, os depoimentos de pessoas como o jornalista
Juca Kfouri vão além, questionando o que acontecerá com
estádios em cidades como Cuiabá onde não existe nem mesmo time de futebol na primeira divisão. Segundo Kfouri, é possível que, em breve, estejamos igual a África do Sul questionando se não é melhor implodir os estádios que se tornaram um elefante branco.

É interessante como o
documentário começa aparentemente defendendo a
Copa no país, mostrando a festa da
comemoração pela escolha e explicando a propaganda que isso pode ser para o
Brasil. De fato, desde o anúncio da FIFA, ficamos nos holofotes do mundo, vários
filmes, inclusive, utilizaram o país como cenário a exemplo de
Velozes e Furiosos 5 e a animação
Rio. Porém, como o próprio
Juca Kfouri alerta, esta propaganda pode ser benéfica ou maléfica, depende de diversos fatores.

Após uma
Copa das Confederações tumultuada com
manifestações por todo o país, o mundo descobriu outro
Brasil. Não apenas aquele do povo festeiro de samba, carnaval e
futebol, mas de um povo que tem voz e insatisfações que vem desde sempre. Nossa colonização já foi complicada. Somos explorados desde o descobrimento, passando pela visita da família real, Império, Velha República, Populismo de Vargas, Ditadura Militar e esta nova democracia que tenta se estabelecer em meio a antigos vícios. Não é a primeira vez que o
povo vai às ruas e provavelmente não será a última. Resta saber, como podemos, de fato, melhorar o nosso país. Com certeza, não é cancelando a
Copa a essa altura do campeonato. Mas, há de haver soluções para encaminhar tudo isso.
Vejam o documentário na íntegra aqui:
A Caminho da Copa (idem, Brasil)
Direção: Carolina Caffé e Florence Rodrigues
Roteiro: Carolina Caffé e Florence Rodrigues
Com: Raquel Rolnik, Carlos Vainer, Juca Kfouri, Toni Sando, Vicente Cândido e moradores de São Paulo e Rio de Janeiro atingidos por obras urbanas ligadas aos eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas
Duração: 26 min.