Baseado em um musical da Broadway, sobre uma banda, com esse subtítulo bobo da distribuição brasileira, era de se esperar que Jersey Boys fosse um filme bastante musical. Mas, na verdade, nem tanto. Clint Eastwood mantem a música, mas a deixa em segundo plano para contar mais uma história de superação.The Four Season foi uma banda de sucesso dos anos 60, comandada por Tommy DeVito, mas que se sustentava no talento vocal de Frankie Valli e nas composições de Bob Gaudio. A trama nos apresenta a trajetória do quarteto, que além dos três tem o baterista Nick Massi. Com as dificuldades iniciais e o envolvimento de Tommy com a máfia, a jornada da banda não é fácil e ainda é repleta de brigas e superações seja entre eles ou diante de suas famílias. Mas, apesar de tudo, a música é boa e eles vão longe.
Alguns podem reclamar da pouca quantidade de música e o excesso de brigas. Mas, o roteiro consegue dosar bem todas as informações que quer abarcar da vida dos participantes, em especial de Frankie Valli que é o verdadeiro protagonista da trama. O menino pobre, imigrante italiano, com uma voz especial que trabalhava como auxiliar de barbeiro e é incentivado por Tommy a seguir seu sonho de cantar. Frankie até cai nas graças do chefão local do crime Gyp DeCarlo, mas vence honestamente, com seu talento e seu esforço. Uma jornada típica do sonho americano já tão propagado. Da mesma forma que para vencer, ele acaba sendo mal compreendido por sua família. Sua esposa, suas filhas e sua namorada seguinte estão sempre em segundo plano, quando se fala em carreira. Temos algumas brigas repetitivas e desgastantes durante a projeção que nos lembram diversos outros filmes do mesmo gênero. Talvez não precisasse focar tanto nisso. Ou talvez isso pudesse ter sido melhor aproveitado, já que a trama com a filha Francine que é o mais interessante de sua vida pessoal, acaba sendo jogada na tela de uma maneira solta.
Ainda assim, o filme nos envolve. Frankie é um personagem tão instigante quanto a sua voz e é curioso vê-lo no palco cantando sucessos como "Sherry", "Big girls don't cry" e "Walk like a man". Ainda que nenhuma das apresentações passe uma vibração tão empolgante quanto a de "Can't take my eyes off you", que é, sem dúvidas, um dos melhores momentos do filme. O interessante é que mesmo sem adotar o formato de musical, as músicas entram sempre em harmonia com o roteiro, acrescentando nas letras algo à história que estamos acompanhando. O roteiro opta por mesclar a dramatização com narrações dos personagens falando diretamente para a câmera. Apesar de parecerem quebras, não deixa de ser interessante acompanhar a história sabendo um pouco mais do ponto de vista de cada integrante. Curioso que o personagem Frankie é o único que não apresenta sua versão até a parte final.
A reconstituição de época é outro ponto que chama a atenção, não apenas pelos cenários e figurinos, mas pelo clima dos anos 60. E os atores dão vida àquelas pessoas com muita competência. Destaque para Vincent Piazza como Tommy e John Lloyd Young como Frankie, que mostra sutileza na própria evolução do personagem de garoto tímido à senhor da situação quando tudo aperta. Christopher Walken também traz um plus ao mafioso Gyp. Clint Eastwood confirma mais uma vez que tem talento e sensibilidade para grandes histórias de superação. Em nenhum momento ele exagera do melodrama, não cai no piegas e nos mostra seres humanos admiráveis, ainda que seja um tolo como Tommy. Não há maniqueísmo. E sua direção é firme, sabendo como chegar nesses personagens e suas emoções.
Jersey Boys: Em Busca da Música é uma cinebiografia padrão, sobre um grupo musical e sobre um rapaz que sonhava em ser cantor. Não há nada de novo, mas é competente naquilo que se propõe, bem dirigido, bem atuado e com um clima saudosista que as próprias músicas acabam embalando.
Jersey Boys: Em Busca da Música (Jersey Boys, 2014 / EUA)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Marshall Brickman, Rick Elice
Com: John Lloyd Young, Erich Bergen, Michael Lomenda, Vincent Piazza, Christopher Walken, Johnny Cannizzaro
Duração: 134 min.
