Baseado em uma história real, Clube de Compras Dallas nos traz a trajetória de Ron Woodroof, um cowboy eletricista diagnosticado com AIDS que não aceita a previsão de apenas 30 dias de vida e vai lutar pela sobrevivência, chegando a contrabandear remédios para conseguir resultados melhores que a pesquisa oficial.Se a AIDS ainda assusta, ser diagnosticado como HIV positivo na década de oitenta era uma sentença de morte. Pior ainda para um homem heterossexual, já que a desinformação e preconceito a considerava doença de homossexuais. Ron Woodroof sofreu de seu próprio preconceito, já que ele também a considerava assim, fazendo comentários maldosos, alguns sobre o ator Rock Hudson.
O filme retrata muito bem o panorama inicial da doença. Toda a desinformação e preconceito são vistos na expressão das pessoas. No medo do contato físico, na máscara dos médicos ao chegarem perto, no receio das pessoas no bar, no desespero dos doentes que não compreendem muito bem ainda o que seja aquilo, como pega e qual a perspectiva. Mostra também toda a trajetória da droga AZT que é vendida como solução, mas logo se revela carrasco. Além da luta de interesses entre farmacêuticos e médicos, deixando o paciente em segundo plano. E é exatamente aí que entra a luta de Ron Woodroof, no combate à doença, aos sintomas, aumentando a expectativa de vida. Com os coquetéis aprendidos no México, ele monta o seu Clube de Compras Dallas e dá esperança a quem não tinha mais nada. Inclusive ele, que vai vencendo aos poucos os trinta dias iniciais que teria de vida.
É digno falar desta luta. Falar dos medos e dos direitos de pacientes vistos como terminais que hoje conseguem viver com relativa qualidade de vida. A questão ética levantada na trama é bastante válida, ainda que hoje a AIDS pareça mais controlada. Afinal, ela não é a única doença que vê interesses farmacêuticos e econômicos ganharem da preocupação com a saúde do paciente. O discurso do juiz falando de certo e lei, reflete muito bem tudo isso.
Mas, apesar do tema e de toda a importância da história, o que chama a atenção mesmo no filme, é a interpretação de Matthew McConaughey. Ator que começou com comédias bobas, vem dando uma nova guinada em sua carreira, demonstrando todo o talento e potencial. Para viver Ron Woodroof, McConaughey passou por uma dieta assustadora, se tornando quase pele e osso. Porém, sua transformação física é apenas uma parte de sua entrega ao personagem que traz uma carga dramática intensa. É bonito ver sua evolução, o seu aprendizado, a sua luta diante do drama que se apresenta. Representa um pouco a luta de todos aqueles que adquiriram a doença e desejam viver. "Eu não quero morrer" é uma frase bastante comum em Clube de Compras Dallas e define o desejo intrínseco de todo ser humano.
Clube de Compras Dallas é um belo filme. Retrata uma época, uma doença que assustou o mundo e uma luta digna. Mas, mais do que isso, nos mostra um ator completamente entregue a seu personagem, nos envolvendo e emocionando com o seu drama. Não por acaso está levando tantos prêmios por onde passa.
Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013 / EUA)
Direção: Jean-Marc Vallée
Roteiro: Craig Borten, Melisa Wallack
Com: Matthew McConaughey, Jennifer Garner, Jared Leto
Duração: 117 min.
