
O escritor Jep Gambardella, vivido por Toni Servillo em ótima performance, está assim. Autor de um único livro, vive há 40 anos da fama deste, frequentando festas da alta sociedade e exposições artísticas diversas. Em um convívio diário fútil e reflexivo ao mesmo tempo, ele poderia seguir sem grandes mudanças, mas a notícia de um grande amor do passado o faz mudar de rumo e querer um pouco mais da vida.

A fotografia de Luca Bigazzi auxilia nesta composição, assim como a montagem que nos proporciona uma experiência estética única. A escolha de nos mostrar muitas das festas que Jep participa com diversos clipes nos ajudando a imergir naquele ambiente e sentir o clima proposto, constrói uma identificação com a sensação de estranhamento que Jep começa a experimentar, após as notícias de Elisa, seu antigo amor.

Neste ponto, temos também o "tutorial" do enterro, um dos momentos fortes do filme. Onde Jep explica toda a preparação e encenação do ato, tal qual uma peça de teatro, onde cada um tem o seu papel específico.
Ainda no nível irônico temos toda a sequência da Irmã Maria, uma santa viva que adorou o livro de Jep, "O Aparelho Humano", e possui hábitos de total abnegação em vida. A cena em torno da mesa, com o seu "agente" vangloriando seus atos é extremamente perspicaz, assim como os detalhes que a câmera nos dá dela dormindo no chão ou subindo a escadaria de joelhos. Isso, sem perder a oportunidade de lançar outras reflexões como "eu só como raiz, porque a raiz é importante para vida".
Talvez falte a Jep exatamente isso, uma raiz. Sem ela, a árvore não cresce frondosa ou pelo menos não se sustenta diante do sucesso. A Grande Beleza está lá, interna, guardando nossas angústias e anseios e nos dando sustentação para encarar a vida.
A Grande Beleza (La grande bellezza, 2013 / Itália)
Direção: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino
Com: Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli
Duração: 142 min.