Ted
Seth MacFarlane apostou no humor politicamente incorreto em seu primeiro longa-metragem. Nada mais natural já que o seu tom sátiro ficou conhecido em obras como a série animada Family Guy, que aqui levou o nome de "Uma família da pesada". Ted tem a sua marca. Não por acaso é produtor, diretor, roteirista e dublador do simpático urso boca suja. Construindo assim, uma ótima comédia adulta.
Tudo começa em uma noite de Natal especial, onde o pequeno John pede um milagre: que seu urso de pelúcia ganha vida. Solitário, o garoto só queria um amigo com quem pudesse compartilhar as boas coisas da vida. Apesar do susto inicial, todos se acostumam com Ted falante por aí. Eles crescem e começam os problemas. Lori, a namorada de John vivida por Mila Kunis, quer que ele se torne um adulto responsável e começa a pressionar para que essa amizade tenha alguns freios.
Tirando a fábula de um ursinho de pelúcia falante, Ted, na verdade, é uma comédia masculina que foca em um problema bem comum aos homens em geral. A transição da vida de jovem descompromissado, para adulto responsável, normalmente estimulado por um relacionamento sério que começa a implicar com os antigos amigos. Como lidar com isso? Tudo ganha dimensões desproporcionais quando esse amigo é um urso de pelúcia abusado, é verdade, mas o tom das piadas é bastante realista.
Ted exagera demais, passa os dias chapado, falando besteira e aprontando várias estripulias. E, claro, sempre quer levar John com ele. Nesse ponto, o humor de Seth MacFarlane é bastante feliz ao brincar com tudo. Desde piadas leves como a situação do apelido para a cerveja "senão, somos só dois idiotas falando abobrinha" até situações como o chefe sem noção de Ted, sua namorada ou mesmo as prostitutas na sala.
Isso sem falar na enxurrada de referências. A começar pelo Flash Gordon e toda a sua composição tosca. Algumas são detalhes quase despercebidos como quando a mão de Ted volta para pegar sua orelha ao som da música tema de Indiana Jones, afinal, ele sempre voltava para buscar seu chapéu, ou a Marcha Imperial para definir o toque de celular de Lori. E ele consegue se superar nas brincadeiras. Tanto que, ao colocar o personagem de Mark Wahlberg em um tosco flashback dançando "Stayin' Alive", não usa como referência o óbvio Embalos de sábado à noite, mas a brincadeira de Apertem os cintos, o piloto sumiu.
Um ponto negativo do filme é a trama paralela de um pai e um filho psicopatas que não dizem muito a que vieram e só servem para criar plots desnecessários para a trama de Ted, John e Lori. Ou melhor, não é tão desnecessário assim, na verdade, se torna parte importante da curva dramática do roteiro de Seth MacFarlane. Mas é exatamente essa escolha que o torna ruim, mudando o foco e o tom do filme. Além de gerar uma correria cansativa e uma dose exagerada de melodrama.
Outro ponto negativo, não é exatamente do filme, mas da exibição na cabine de imprensa. Por ser uma versão dublada, boa parte da construção de Seth MacFarlane, assim como parte do filme se perdeu. A começar pelas piadas. Ted é um filme de gags e traduzi-las para dublar em um tempo exato da boca é algo bastante complicado. Ainda assim, conseguiu ser divertido. E outra, é a voz de MacFarlane, que por ter se envolvido tão profundamente com a criação do filme, tem um domínio melhor do personagem. Apesar disso, a voz do dublador Manolo Rey consegue ser a contento, como profissional experiente que é e em tons versáteis, ele nos deu um Ted divertido. Mas, nada melhor que o original. Optem pela versão legendada se puderem.
Por ter visto a versão dublada, também não cabe a mim analisar os atores. Mas, em um conjunto de cena, todos parecem bem, apesar de algo soar estranho na química entre Mark Wahlberg e Mila Kunis. Sempre que estão juntos na cama, algo parece falso. Porém, como isso pode estar dos sons, efeitos, ambientação também, melhor não afirmar nada.
O que é possível dizer é que Ted é uma ótima comédia adulta. Com muitas piadas de sexo e drogas, mas também outras besteiras ingênuas que nos fazem rir à vontade, como tudo relacionado ao Flash Gordon. Divertido e inteligente. Esses são os pontos chaves.
Ted (Ted, 2012 / EUA)
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Seth MacFarlane
Com: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Joel McHale e Giovanni Ribisi
Duração:106 min
Tudo começa em uma noite de Natal especial, onde o pequeno John pede um milagre: que seu urso de pelúcia ganha vida. Solitário, o garoto só queria um amigo com quem pudesse compartilhar as boas coisas da vida. Apesar do susto inicial, todos se acostumam com Ted falante por aí. Eles crescem e começam os problemas. Lori, a namorada de John vivida por Mila Kunis, quer que ele se torne um adulto responsável e começa a pressionar para que essa amizade tenha alguns freios.
Tirando a fábula de um ursinho de pelúcia falante, Ted, na verdade, é uma comédia masculina que foca em um problema bem comum aos homens em geral. A transição da vida de jovem descompromissado, para adulto responsável, normalmente estimulado por um relacionamento sério que começa a implicar com os antigos amigos. Como lidar com isso? Tudo ganha dimensões desproporcionais quando esse amigo é um urso de pelúcia abusado, é verdade, mas o tom das piadas é bastante realista.
Ted exagera demais, passa os dias chapado, falando besteira e aprontando várias estripulias. E, claro, sempre quer levar John com ele. Nesse ponto, o humor de Seth MacFarlane é bastante feliz ao brincar com tudo. Desde piadas leves como a situação do apelido para a cerveja "senão, somos só dois idiotas falando abobrinha" até situações como o chefe sem noção de Ted, sua namorada ou mesmo as prostitutas na sala.
Isso sem falar na enxurrada de referências. A começar pelo Flash Gordon e toda a sua composição tosca. Algumas são detalhes quase despercebidos como quando a mão de Ted volta para pegar sua orelha ao som da música tema de Indiana Jones, afinal, ele sempre voltava para buscar seu chapéu, ou a Marcha Imperial para definir o toque de celular de Lori. E ele consegue se superar nas brincadeiras. Tanto que, ao colocar o personagem de Mark Wahlberg em um tosco flashback dançando "Stayin' Alive", não usa como referência o óbvio Embalos de sábado à noite, mas a brincadeira de Apertem os cintos, o piloto sumiu.
Um ponto negativo do filme é a trama paralela de um pai e um filho psicopatas que não dizem muito a que vieram e só servem para criar plots desnecessários para a trama de Ted, John e Lori. Ou melhor, não é tão desnecessário assim, na verdade, se torna parte importante da curva dramática do roteiro de Seth MacFarlane. Mas é exatamente essa escolha que o torna ruim, mudando o foco e o tom do filme. Além de gerar uma correria cansativa e uma dose exagerada de melodrama.
Outro ponto negativo, não é exatamente do filme, mas da exibição na cabine de imprensa. Por ser uma versão dublada, boa parte da construção de Seth MacFarlane, assim como parte do filme se perdeu. A começar pelas piadas. Ted é um filme de gags e traduzi-las para dublar em um tempo exato da boca é algo bastante complicado. Ainda assim, conseguiu ser divertido. E outra, é a voz de MacFarlane, que por ter se envolvido tão profundamente com a criação do filme, tem um domínio melhor do personagem. Apesar disso, a voz do dublador Manolo Rey consegue ser a contento, como profissional experiente que é e em tons versáteis, ele nos deu um Ted divertido. Mas, nada melhor que o original. Optem pela versão legendada se puderem.
Por ter visto a versão dublada, também não cabe a mim analisar os atores. Mas, em um conjunto de cena, todos parecem bem, apesar de algo soar estranho na química entre Mark Wahlberg e Mila Kunis. Sempre que estão juntos na cama, algo parece falso. Porém, como isso pode estar dos sons, efeitos, ambientação também, melhor não afirmar nada.
O que é possível dizer é que Ted é uma ótima comédia adulta. Com muitas piadas de sexo e drogas, mas também outras besteiras ingênuas que nos fazem rir à vontade, como tudo relacionado ao Flash Gordon. Divertido e inteligente. Esses são os pontos chaves.
Ted (Ted, 2012 / EUA)
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Seth MacFarlane
Com: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Joel McHale e Giovanni Ribisi
Duração:106 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ted
2012-09-20T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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