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Renia Louizidou
Tassos Boulmetis
O Tempero da Vida
O Tempero da Vida
Cozinhar é uma verdadeira alquimia e pode construir metáforas diversas. Esse é um tema que o cinema sempre gostou de explorar e muito do que vemos em O Tempero da Vida lembra Como Água Para Chocolate, guardadas as devidas proporções, assim como A 100 Passos de Um Sonho.
O diretor turco Tassos Boulmetis utiliza a culinária para falar de relações políticas entre gregos e turcos, na conturbada década de 50, quando milhares de famílias foram deportadas da região por motivo de guerra. Mas, fala também de vida, de relações humanas e até mesmo das ligações cósmicas, com planetas e estrelas. Já que como o próprio protagonista lembra, a palavra astrônomo está na palavra gastrônomo.
Este protagonista é Fanis Iakovidis, grego, professor de astronomia que viveu parte de sua infância em Istambul, sendo orientado por seu avô Vasilis, conhecedor de ervas, temperos e segredos culinários. Quando a família do garoto teve que se mudar para Grécia, perdeu o contato direto com o sábio senhor, mas seus ensinamentos o acompanharam, tornando-o um exímio cozinheiro.
O roteiro vai sendo construído de maneira não-linear, mesclando Fanis adulto com suas lembranças desde criança com seu avô, passando pela adaptação na Grécia, o preconceito das pessoas por ele gostar de cozinhar e a naturalidade com que lidava com isso. O filme pincela ainda o seu amor infantil pela bela Saime uma garotinha que ficou na Turquia, mas ele nunca esqueceu, chegando a se corresponder durante anos por carta.
Por ter muitas memórias de Fanis, o filme acaba utilizando muito do recurso de narração em voz over, o que quebra um pouco o ritmo da trama, mas também traz reflexões interessantes como quando ele explica que "os turcos os expulsaram como gregos, e os gregos os receberam como turcos". Reflexo desse estado de guerra tolo, em que ambos os lados vêem inimigos onde podem existir iguais. E que o filme pontua tão bem.
Mas, desde o início, a direção demonstra que o tema central é mesmo o céu e a comida. Vide a cena do observatório, seguida da mesa farta à espera do avô Vasilis. O plano dos amigos ao redor das comidas, observando-as é bem interessante. E tudo se encaixa ainda melhor quando vemos a cena da explicação do avô sobre a ligação dos astros com os temperos. "A comida é como o céu, há coisas que não vemos, mas dão sabor a tudo, como o sal, que é vida", explica Vasilis.
O filme peca apenas ao insistir no mesmo tema sem desenvolver algo novo. Parece que falta fôlego ao conteúdo e tudo parece se repetir. Muitas cenas são parecidas ou reforçam a mesma ideia. Mesmo a questão das comidas e seus temperos parecem ter duas ou mais cenas a reforçando como a questão da canela na almôndega.
O Tempero da Vida é um filme gostoso de acompanhar. Leve, divertido e emotivo. Tem seus problemas de ritmo, mas, no geral, é agradável como uma boa comida bem feita.
O Tempero da Vida (Politiki kouzina, 2003 / Grécia)
Direção: Tassos Boulmetis
Roteiro: Tassos Boulmetis
Com: Georges Corraface, Ieroklis Michaelidis, Renia Louizidou
Duração: 108 min.
O diretor turco Tassos Boulmetis utiliza a culinária para falar de relações políticas entre gregos e turcos, na conturbada década de 50, quando milhares de famílias foram deportadas da região por motivo de guerra. Mas, fala também de vida, de relações humanas e até mesmo das ligações cósmicas, com planetas e estrelas. Já que como o próprio protagonista lembra, a palavra astrônomo está na palavra gastrônomo.
Este protagonista é Fanis Iakovidis, grego, professor de astronomia que viveu parte de sua infância em Istambul, sendo orientado por seu avô Vasilis, conhecedor de ervas, temperos e segredos culinários. Quando a família do garoto teve que se mudar para Grécia, perdeu o contato direto com o sábio senhor, mas seus ensinamentos o acompanharam, tornando-o um exímio cozinheiro.
O roteiro vai sendo construído de maneira não-linear, mesclando Fanis adulto com suas lembranças desde criança com seu avô, passando pela adaptação na Grécia, o preconceito das pessoas por ele gostar de cozinhar e a naturalidade com que lidava com isso. O filme pincela ainda o seu amor infantil pela bela Saime uma garotinha que ficou na Turquia, mas ele nunca esqueceu, chegando a se corresponder durante anos por carta.
Por ter muitas memórias de Fanis, o filme acaba utilizando muito do recurso de narração em voz over, o que quebra um pouco o ritmo da trama, mas também traz reflexões interessantes como quando ele explica que "os turcos os expulsaram como gregos, e os gregos os receberam como turcos". Reflexo desse estado de guerra tolo, em que ambos os lados vêem inimigos onde podem existir iguais. E que o filme pontua tão bem.
Mas, desde o início, a direção demonstra que o tema central é mesmo o céu e a comida. Vide a cena do observatório, seguida da mesa farta à espera do avô Vasilis. O plano dos amigos ao redor das comidas, observando-as é bem interessante. E tudo se encaixa ainda melhor quando vemos a cena da explicação do avô sobre a ligação dos astros com os temperos. "A comida é como o céu, há coisas que não vemos, mas dão sabor a tudo, como o sal, que é vida", explica Vasilis.
O filme peca apenas ao insistir no mesmo tema sem desenvolver algo novo. Parece que falta fôlego ao conteúdo e tudo parece se repetir. Muitas cenas são parecidas ou reforçam a mesma ideia. Mesmo a questão das comidas e seus temperos parecem ter duas ou mais cenas a reforçando como a questão da canela na almôndega.
O Tempero da Vida é um filme gostoso de acompanhar. Leve, divertido e emotivo. Tem seus problemas de ritmo, mas, no geral, é agradável como uma boa comida bem feita.
O Tempero da Vida (Politiki kouzina, 2003 / Grécia)
Direção: Tassos Boulmetis
Roteiro: Tassos Boulmetis
Com: Georges Corraface, Ieroklis Michaelidis, Renia Louizidou
Duração: 108 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Tempero da Vida
2015-03-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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