Mais uma vez sem Oscar
Saiu a lista dos candidatos a Oscar de melhor filme estrangeiro e mais uma vez o Brasil ficou de fora. Desde 1999 com a indicação de Central do Brasil, nossa melhor chance até hoje, o Brasil não consegue colocar um filme entre os cinco finalistas. Nem mesmo o sucesso Cidade de Deus, que conseguiu indicações nas categorias Melhor Diretor (Fernando Meirelles), Melhor Edição, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Fotografia ficou entre os melhores filmes. Uma injustiça para muitos. Mas, o fato é que para se tornar candidato ou vencedor de melhor filme estrangeiro é preciso conquistar um júri especial, composto cineastas mais tradicionais e antigos.
Agora, é instigante perceber que em anos como 96, quando o cinema brasileiro era uma paciente na UTI, com dois filmes sendo produzidos por ano, ele conseguiu chamar a atenção do mundo. Enquanto que hoje, com tantas obras, estamos nesse jejum de indicações. Claro que outros festivais continuam prestigiando o cinema tupiniquim, como Berlim que deu o Urso de Ouro para Tropa de Elite. Mas, o Oscar, a festa máxima do cinema americano, ainda é o prêmio que dá maior visibilidade para o grande público. Tanto que todas as indicações foram revertidas em bilheterias mais altas e citações em qualquer roda de conversa.
A pergunta que fica é se estamos produzindo filmes menos dignos ou escolhendo mal os nossos representantes. É uma opinião pessoal, mas acredito que a segunda opção é mais plausível. Escolher um filme como Olga para concorrer a uma vaga no Oscar, por exemplo, chega a ser ingenuidade do Minc. Tá bom, a produção impressiona, mas o filme é ruim, não há outra forma de defini-lo. Costumo dizer que a melhor coisa de Olga é o trailer, muito bem feito, impressiona e dá vontade de ver o filme. Talvez por isso, ele seja tão decepcionante. O roteiro é equivocado, reduz o impacto da história ao começar com o campo de concentração e tem diálogos pífios. A direção é inexperiente, com vícios televisivos e closes que chegam a incomodar. Jamais poderá ser considerado um grande filme brasileiro.
Neste ano, tentamos com Última Parada 174. Se a academia não tinha aceitado Cidade de Deus, que trazia uma inovação ímpar, claro que não aceitaria a história de Sandro. Estratégia errada achar que apenas por ser uma direção de Bruno Barreto seria bem visto. Bobagem não terem ousado com um filme muito mais impactante como Estômago, por exemplo, ou mais emotivo como A Orquestra dos Meninos, que nem sequer ficou na lista do Minc dos possíveis candidatos.
O fato é que mais uma vez, vamos ver chamadas da Globo para "a maior festa do cinema mundial" e não estaremos representados nela.
Indicados do Brasil:
1963 - O pagador de promessas
1996 - O Quatrilho
1998 - O que é isso, companheiro?
1999 - Central do Brasil
Lista do Minc para candidatos em 2009:
“A Casa de Alice”, de Chico Teixeira
“A Via Láctea”, de Lina Chamie
“Chega de Saudade”, de Lais Bodanski
“Era Uma Vez”, de Breno Silveira
“Estômago”, de Marcos Jorge
“Meu Nome Não é Johnny”, de Mauro Lima
“Mutum”, de Sandra Kogut
“Nossa Vida Não Cabe Num Opala”, de Reinaldo Pinheiro
“Olho de Boi”, de Hermano Penna
“Onde Andará Dulce Veiga?”, de Guilherme de Almeida Prado
“O Passado”, de Hector Babenco
“Os Desafinados”, de Walter Lima Junior
“O Signo da Cidade”, de Carlos Alberto Riccelli
• “ Última Parada 174”, de Bruno Barreto
Agora, é instigante perceber que em anos como 96, quando o cinema brasileiro era uma paciente na UTI, com dois filmes sendo produzidos por ano, ele conseguiu chamar a atenção do mundo. Enquanto que hoje, com tantas obras, estamos nesse jejum de indicações. Claro que outros festivais continuam prestigiando o cinema tupiniquim, como Berlim que deu o Urso de Ouro para Tropa de Elite. Mas, o Oscar, a festa máxima do cinema americano, ainda é o prêmio que dá maior visibilidade para o grande público. Tanto que todas as indicações foram revertidas em bilheterias mais altas e citações em qualquer roda de conversa.
A pergunta que fica é se estamos produzindo filmes menos dignos ou escolhendo mal os nossos representantes. É uma opinião pessoal, mas acredito que a segunda opção é mais plausível. Escolher um filme como Olga para concorrer a uma vaga no Oscar, por exemplo, chega a ser ingenuidade do Minc. Tá bom, a produção impressiona, mas o filme é ruim, não há outra forma de defini-lo. Costumo dizer que a melhor coisa de Olga é o trailer, muito bem feito, impressiona e dá vontade de ver o filme. Talvez por isso, ele seja tão decepcionante. O roteiro é equivocado, reduz o impacto da história ao começar com o campo de concentração e tem diálogos pífios. A direção é inexperiente, com vícios televisivos e closes que chegam a incomodar. Jamais poderá ser considerado um grande filme brasileiro.
Neste ano, tentamos com Última Parada 174. Se a academia não tinha aceitado Cidade de Deus, que trazia uma inovação ímpar, claro que não aceitaria a história de Sandro. Estratégia errada achar que apenas por ser uma direção de Bruno Barreto seria bem visto. Bobagem não terem ousado com um filme muito mais impactante como Estômago, por exemplo, ou mais emotivo como A Orquestra dos Meninos, que nem sequer ficou na lista do Minc dos possíveis candidatos.
O fato é que mais uma vez, vamos ver chamadas da Globo para "a maior festa do cinema mundial" e não estaremos representados nela.
Indicados do Brasil:
1963 - O pagador de promessas
1996 - O Quatrilho
1998 - O que é isso, companheiro?
1999 - Central do Brasil
Lista do Minc para candidatos em 2009:
“A Casa de Alice”, de Chico Teixeira
“A Via Láctea”, de Lina Chamie
“Chega de Saudade”, de Lais Bodanski
“Era Uma Vez”, de Breno Silveira
“Estômago”, de Marcos Jorge
“Meu Nome Não é Johnny”, de Mauro Lima
“Mutum”, de Sandra Kogut
“Nossa Vida Não Cabe Num Opala”, de Reinaldo Pinheiro
“Olho de Boi”, de Hermano Penna
“Onde Andará Dulce Veiga?”, de Guilherme de Almeida Prado
“O Passado”, de Hector Babenco
“Os Desafinados”, de Walter Lima Junior
“O Signo da Cidade”, de Carlos Alberto Riccelli
• “ Última Parada 174”, de Bruno Barreto
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mais uma vez sem Oscar
2009-01-23T22:36:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|materias|noticias|oscar|
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