O Senhor das Moscas
É da natureza do homem ser corrompido? O que se esconde no interior da mente humana? Crianças aparentemente puras podem aprender sozinhas a ser más e brigar por poder? Essas questões são analisadas de forma bem determinista em um filme de 1990 dirigido por Harry Hook, com roteiro adaptado por Sara Schiff da obra de William Golding, Prêmio Nobel de Literatura em 1983. Considerado um dos clássicos da literatura pós Guerra, O Senhor das Moscas foi o primeiro livro do autor, publicado em 1954. Sua primeira versão cinematográfica foi em 1963, ainda em preto e branco, sendo bastante fiel à obra original. A versão de Harry Hook possui algumas diferenças, mas a essência é a mesma.
Um acidente de avião leva um grupo de crianças, todas do sexo masculino, a ficarem presos em uma ilha inóspita. A rudimentar democracia criada a princípio logo começa a ruir pela ânsia por poder. Tudo piora quando um “monstro” é descoberto em uma caverna no meio da ilha. O grupo se divide então, entre os “civilizados” liderados por Ralph e os “selvagens” liderados por Jack. E tudo que se segue só vai confirmando a crença de Golding no declínio da humanidade. Não chega a ser um Lostinho, mas a famosa série bebeu um pouco dessa fonte, tanto que o livro/filme foi citado em alguns episódios.
O título, a princípio enigmático, é uma tradução literal do nome Belzebu que em hebraico é Ba'alzevuv e em grego é Beelzebub, representando o mal que há no ser humano. O medo, o desespero e a desconfiança viram armas na luta pela sobrevivência e, sem limites éticos, os meninos começam a cometer atrocidades uns com os outros sem que nenhuma lei possa impedi-los. A construção do filme é bem feliz ao mostrar esse crescente e compôs cenas aterrorizantes. Na tentativa de economizar efeitos especiais, nos poupam de ver algumas violências explícitas, mas isso também funciona como um combustível para nossa imaginação que sempre pode ser pior do que o real.
O que mais impressiona, no entanto, é a capacidade dos atores mirins. Estão todos muito bem em suas interpretações de dores, raivas e pavor. Estranho que a maioria não tenha continuado a carreira. Apenas o protagonista Balthazar Getty, participou de filmes como Estrada Perdida ou Assassinos por Natureza. E James Badge Dale, que faz o Simon, personagem fundamental para uma virada da trama, mantêm uma carreira principalmente na televisão.
A trilha sonora bem construída possui um impacto em cada cena de suspense, ajudando na construção do horror diante da modificação dos personagens. Destaque também para a fotografia que sempre tem momentos poéticos contrastando com os acontecimentos da ilha, ampliando a sensação de estranheza. E em outros momentos ajuda na construção do efeito de suspense com os enquadramentos escolhidos.
Em sua índole direcionada, o menino-homem nos surpreende, por ser mostrado de uma forma tão cruel e realista. Desnudando o ser e nos levando a questionar até que ponto conseguiríamos manter a razão intacta e, tal qual Ralph, procurar sobreviver com sua crença de uma humanidade justa. Devo dizer que doeu na alma assistir a esse filme.
Veja o trailer de 1990...
e o trecho de 1963.
Um acidente de avião leva um grupo de crianças, todas do sexo masculino, a ficarem presos em uma ilha inóspita. A rudimentar democracia criada a princípio logo começa a ruir pela ânsia por poder. Tudo piora quando um “monstro” é descoberto em uma caverna no meio da ilha. O grupo se divide então, entre os “civilizados” liderados por Ralph e os “selvagens” liderados por Jack. E tudo que se segue só vai confirmando a crença de Golding no declínio da humanidade. Não chega a ser um Lostinho, mas a famosa série bebeu um pouco dessa fonte, tanto que o livro/filme foi citado em alguns episódios.
O título, a princípio enigmático, é uma tradução literal do nome Belzebu que em hebraico é Ba'alzevuv e em grego é Beelzebub, representando o mal que há no ser humano. O medo, o desespero e a desconfiança viram armas na luta pela sobrevivência e, sem limites éticos, os meninos começam a cometer atrocidades uns com os outros sem que nenhuma lei possa impedi-los. A construção do filme é bem feliz ao mostrar esse crescente e compôs cenas aterrorizantes. Na tentativa de economizar efeitos especiais, nos poupam de ver algumas violências explícitas, mas isso também funciona como um combustível para nossa imaginação que sempre pode ser pior do que o real.
O que mais impressiona, no entanto, é a capacidade dos atores mirins. Estão todos muito bem em suas interpretações de dores, raivas e pavor. Estranho que a maioria não tenha continuado a carreira. Apenas o protagonista Balthazar Getty, participou de filmes como Estrada Perdida ou Assassinos por Natureza. E James Badge Dale, que faz o Simon, personagem fundamental para uma virada da trama, mantêm uma carreira principalmente na televisão.
A trilha sonora bem construída possui um impacto em cada cena de suspense, ajudando na construção do horror diante da modificação dos personagens. Destaque também para a fotografia que sempre tem momentos poéticos contrastando com os acontecimentos da ilha, ampliando a sensação de estranheza. E em outros momentos ajuda na construção do efeito de suspense com os enquadramentos escolhidos.
Em sua índole direcionada, o menino-homem nos surpreende, por ser mostrado de uma forma tão cruel e realista. Desnudando o ser e nos levando a questionar até que ponto conseguiríamos manter a razão intacta e, tal qual Ralph, procurar sobreviver com sua crença de uma humanidade justa. Devo dizer que doeu na alma assistir a esse filme.
Veja o trailer de 1990...
e o trecho de 1963.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Senhor das Moscas
2010-06-08T08:46:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|Lost|suspense|
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