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Tirando a poeira de Central do Brasil
Tirando a poeira de Central do Brasil
Pegando carona nessa estranha data que passaram a chamar de Dia da Avó, resolvi resgatar aqui um marco do cinema brasileiro: Central do Brasil. Por que escolher Dora como uma representante da classe das bondosas senhoras? Simplesmente porque Dora, interpretada magistralmente por Fernanda Montenegro, é uma mulher que poderíamos encontrar em qualquer lugar. Vivendo de pequenos trambiques, encontra na pureza do garoto Josué uma nova chance de vida. Uma senhora que não é a típica imagem da velhinha na varanda de casa tricotando e contando histórias para seus netos. Mas que conta e esconde muitas histórias com sua profissão de "escrivinhadeira" de cartas.
Ao ver Josué ficar orfão em sua frente, Dora desperta um sentimento maior de entrega e ajuda ao próximo, embarcando em uma viagem pelo interior do Brasil à procura da família do garoto. E nós embarcamos juntos nessa jornada de auto-descoberta de Dora. Talvez se perguntem se ela seria uma mãe ou uma avó. Acontece que chamei essa data de estranha exatamente porque uma avó nada mais é do que mãe duas vezes. Elas já estão contempladas no segundo domingo de maio, e são sagradas. A mulher que já criou seus filhos e agora denga os netos. Além do que, temos que festejá-las todos os dias, não apenas em uma data comemorativa.
O fato é que ela serviu apenas como pretexto para falar de um filme marcante. Através desse road-movie dirigido de forma bastante sensível por Walter Salles, vemos a construção de uma amizade verdadeira entre a senhora e o menino que faz ambos crescerem. Que quebra nos apresenta um Brasil real, carente de bens materiais, mas repleto de emoções e histórias ricas de sentimentos e emoções verdadeiros. Isso é que torna Central do Brasil tão especial.
Não foi por acaso que ganhou Urso de Ouro em Berlim, Globo de Ouro e Bafta de Melhor Filme Estrangeiro, além de tantas outras indicações. Marcos Bernstein e João Emanuel Carneiro conseguiram escrever um roteiro que emociona sem ser piegas, resgatando a essência do nosso país, não para falar de política, mas para contar uma boa história. Suas dificuldades, lutas, sonhos e persistência estão marcados naqueles passos dos dois personagens. A cena em que Fernanda Montenegro passa mal na casa dos ex-votos em Juazeiro do Norte é extremamente bem feita. Dosando a fé e a claustrofobia daquele momento. E a fotografia de Walter Carvalho ajuda bastante nessa composição. Isso sem falar na trilha sonora de Antonio Pinto e Jaques Morelenbaum.
Simples, envolvente e emotivo, não dá para não ter uma mensagem positiva após terminar de assistir a Central do Brasil. Estamos diante da certeza de que as pessoas podem se transformar. A certeza de que nunca é tarde para resgatar o amor que existe dentro de nosso ser. Temos que enxergar o mundo ao nosso redor, sem máscaras, nem medos, mas com riqueza de sentimentos que nos são possíveis. Dora resgata esse amor absoluto que mães e avós nutrem e passam para os seus descendentes. A abnegação de querer a felicidade do outro mesmo que para isso tenhamos que sacrificar nossas próprias vontades.
Ao ver Josué ficar orfão em sua frente, Dora desperta um sentimento maior de entrega e ajuda ao próximo, embarcando em uma viagem pelo interior do Brasil à procura da família do garoto. E nós embarcamos juntos nessa jornada de auto-descoberta de Dora. Talvez se perguntem se ela seria uma mãe ou uma avó. Acontece que chamei essa data de estranha exatamente porque uma avó nada mais é do que mãe duas vezes. Elas já estão contempladas no segundo domingo de maio, e são sagradas. A mulher que já criou seus filhos e agora denga os netos. Além do que, temos que festejá-las todos os dias, não apenas em uma data comemorativa.
O fato é que ela serviu apenas como pretexto para falar de um filme marcante. Através desse road-movie dirigido de forma bastante sensível por Walter Salles, vemos a construção de uma amizade verdadeira entre a senhora e o menino que faz ambos crescerem. Que quebra nos apresenta um Brasil real, carente de bens materiais, mas repleto de emoções e histórias ricas de sentimentos e emoções verdadeiros. Isso é que torna Central do Brasil tão especial.
Não foi por acaso que ganhou Urso de Ouro em Berlim, Globo de Ouro e Bafta de Melhor Filme Estrangeiro, além de tantas outras indicações. Marcos Bernstein e João Emanuel Carneiro conseguiram escrever um roteiro que emociona sem ser piegas, resgatando a essência do nosso país, não para falar de política, mas para contar uma boa história. Suas dificuldades, lutas, sonhos e persistência estão marcados naqueles passos dos dois personagens. A cena em que Fernanda Montenegro passa mal na casa dos ex-votos em Juazeiro do Norte é extremamente bem feita. Dosando a fé e a claustrofobia daquele momento. E a fotografia de Walter Carvalho ajuda bastante nessa composição. Isso sem falar na trilha sonora de Antonio Pinto e Jaques Morelenbaum.
Simples, envolvente e emotivo, não dá para não ter uma mensagem positiva após terminar de assistir a Central do Brasil. Estamos diante da certeza de que as pessoas podem se transformar. A certeza de que nunca é tarde para resgatar o amor que existe dentro de nosso ser. Temos que enxergar o mundo ao nosso redor, sem máscaras, nem medos, mas com riqueza de sentimentos que nos são possíveis. Dora resgata esse amor absoluto que mães e avós nutrem e passam para os seus descendentes. A abnegação de querer a felicidade do outro mesmo que para isso tenhamos que sacrificar nossas próprias vontades.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tirando a poeira de Central do Brasil
2010-07-26T08:39:00-03:00
Amanda Aouad
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