O Conformista
Em determinado momento, o protagonista de O Conformista diz "Quero construir minha vida na normalidade". Mas, como fazer isso vivendo na Itália na época áurea do Fascismo?
Marcello Clerici é um homem conformista. Ele se conforma com a situação em que vive, dança conforme a música, como dizem. Se a Itália é Fascista, ele também é, e aceita uma missão insólita ao ir em lua de mel a Paris: matar um antigo professor, agora um dissidente político. E não é apenas na vida política que ele se conforma. Sua vida pessoal também não é das mais interessantes, como ele demonstra ao se confessar antes de casar com uma menina que ele considera tola. Mas, ele vai levando. Sem reclamar, sem sonhar, nem perceber as escolhas.
Não há muito o que falar da trama de O Conformista, apesar de ser bem contada no roteiro de Bernardo Bertolucci e Alberto Moravia. O ponto onde o diretor italiano brilha é na construção visual do filme, plástica ao extremo, com sequências visuais incríveis. É possível citar belas pinturas enquadradas com a ajuda de fotografia e direção de arte. A sede do partido, por exemplo, com sua sala imensa e uma mesa no meio, dando essa sensação de pequenez humana. Além de uma cena onde passam estátuas dos ditadores fascistas sendo carregadas, de uma forma que chama a atenção do olhar.
A casa da noiva também é composta nos detalhes, a disposição dos objetos, os móveis, o jogo de cena através deles em plano aberto, como na cena da dança é incrível. Assim como a casa da mãe, sempre cheia de objetos e panos bem construídos. A cena no hospício é outra que chama a atenção. Tudo lá é branco e amplo, venta muito também, demonstrando o quanto o ser humano é frágil diante das forças da natureza. Há ainda no pátio, uma cena bastante plástica das folhas voando.
Em alguns momentos, a plástica se une ao conteúdo narrativo, criando simbolismos ainda mais interessantes como quando ele vai aceitar a missão. Ele conversa do lado de fora de uma cabine de rádio, onde candidatos fazem testes. Enquanto espera, fica observando cada um deles, falando. A montagem intercala dentro e fora da cabine, distraindo nossa atenção para a mensagem fascista. Quando finalmente, a pessoa que irá lhe explicar, a missão chega e, na cabine, está um homem cego, lendo um discurso do partido. Sua voz fica como B.G. da cena, vindo para frente em alguns momentos, para destacar alguma mensagem. É muito bem feito.
Outro momento, é o oposto. Quando está em Paris com o professor que é seu alvo e este compara o mito da caverna de Platão com os prisioneiros do fascismo.Eles só vêem as sombras, não tem direito a ver a verdade. A cena é bonita, construída toda na penumbra, com uma fumaça leve e as sombras dos personagens projetadas na parede. Em alguns momentos, são elas que vemos. Tendo apenas um vislumbre da realidade do que está sendo dito naquela cena, já que não sabemos até que ponto o professor sabe do perigo que corre e se Marcello Clerici vai cumprir seu intento.
O sexo também está presente, como em todas as obras de Bertolucci, sempre construído de uma forma sensível, sem nunca torná-lo vulgar. Há uma questão no passado, que é contada de uma forma bastante feliz, cenas em Paris que não detalho para não dar spoilers e uma sensual relação entre Marcello e sua esposa no trem que os leva à capital francesa.
O Conformista é daqueles filmes que chama a atenção pelo visual, principalmente, mas nos passa uma crítica bastante contundente ao Fascismo e à postura apática diante da vida. É sem dúvidas, mais um clássico de Bernardo Bertolucci.
O Conformista (Il Conformista: Itália / 1970)
Direção: Bernardo Bertolucci
Roteiro: Bernardo Bertolucci e Alberto Moravia
Com: Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli
Duração: 115 min.
Marcello Clerici é um homem conformista. Ele se conforma com a situação em que vive, dança conforme a música, como dizem. Se a Itália é Fascista, ele também é, e aceita uma missão insólita ao ir em lua de mel a Paris: matar um antigo professor, agora um dissidente político. E não é apenas na vida política que ele se conforma. Sua vida pessoal também não é das mais interessantes, como ele demonstra ao se confessar antes de casar com uma menina que ele considera tola. Mas, ele vai levando. Sem reclamar, sem sonhar, nem perceber as escolhas.
Não há muito o que falar da trama de O Conformista, apesar de ser bem contada no roteiro de Bernardo Bertolucci e Alberto Moravia. O ponto onde o diretor italiano brilha é na construção visual do filme, plástica ao extremo, com sequências visuais incríveis. É possível citar belas pinturas enquadradas com a ajuda de fotografia e direção de arte. A sede do partido, por exemplo, com sua sala imensa e uma mesa no meio, dando essa sensação de pequenez humana. Além de uma cena onde passam estátuas dos ditadores fascistas sendo carregadas, de uma forma que chama a atenção do olhar.
A casa da noiva também é composta nos detalhes, a disposição dos objetos, os móveis, o jogo de cena através deles em plano aberto, como na cena da dança é incrível. Assim como a casa da mãe, sempre cheia de objetos e panos bem construídos. A cena no hospício é outra que chama a atenção. Tudo lá é branco e amplo, venta muito também, demonstrando o quanto o ser humano é frágil diante das forças da natureza. Há ainda no pátio, uma cena bastante plástica das folhas voando.
Em alguns momentos, a plástica se une ao conteúdo narrativo, criando simbolismos ainda mais interessantes como quando ele vai aceitar a missão. Ele conversa do lado de fora de uma cabine de rádio, onde candidatos fazem testes. Enquanto espera, fica observando cada um deles, falando. A montagem intercala dentro e fora da cabine, distraindo nossa atenção para a mensagem fascista. Quando finalmente, a pessoa que irá lhe explicar, a missão chega e, na cabine, está um homem cego, lendo um discurso do partido. Sua voz fica como B.G. da cena, vindo para frente em alguns momentos, para destacar alguma mensagem. É muito bem feito.
Outro momento, é o oposto. Quando está em Paris com o professor que é seu alvo e este compara o mito da caverna de Platão com os prisioneiros do fascismo.Eles só vêem as sombras, não tem direito a ver a verdade. A cena é bonita, construída toda na penumbra, com uma fumaça leve e as sombras dos personagens projetadas na parede. Em alguns momentos, são elas que vemos. Tendo apenas um vislumbre da realidade do que está sendo dito naquela cena, já que não sabemos até que ponto o professor sabe do perigo que corre e se Marcello Clerici vai cumprir seu intento.
O sexo também está presente, como em todas as obras de Bertolucci, sempre construído de uma forma sensível, sem nunca torná-lo vulgar. Há uma questão no passado, que é contada de uma forma bastante feliz, cenas em Paris que não detalho para não dar spoilers e uma sensual relação entre Marcello e sua esposa no trem que os leva à capital francesa.
O Conformista é daqueles filmes que chama a atenção pelo visual, principalmente, mas nos passa uma crítica bastante contundente ao Fascismo e à postura apática diante da vida. É sem dúvidas, mais um clássico de Bernardo Bertolucci.
O Conformista (Il Conformista: Itália / 1970)
Direção: Bernardo Bertolucci
Roteiro: Bernardo Bertolucci e Alberto Moravia
Com: Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Conformista
2011-07-20T08:25:00-03:00
Amanda Aouad
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