Família Vende Tudo
Ao sair de uma comédia em que demos algumas risadas a conclusão seria de que se trata de um filme bem sucedido, certo? No caso de Família Vende Tudo, não é bem assim. A maior parte das risadas é quase de nervoso pelo apresentado em tela que tenta flertar com o humor italiano e almodovariano, mas que acaba em uma mistura a la Zorra Total.
A história nonsense nos apresenta uma família de muambeiros que se vê em uma situação delicada ao ter toda a sua mercadoria apreendida pela Polícia Federal em sua volta do Paraguai. Cheios de dívidas, ameaçados pelo vizinho semi-bandido e influenciados por um depoimento em uma igreja evangélica, eles encontram uma solução nada convencional: arrumar uma forma da filha Lindinha ficar grávida de um cantor de sucesso. O que eles não sabem é que o cantor Ivan Carlos é casado com Jennifer e está preocupado com a atual situação de sua carreira já que o seu ritmo Chique Chique está começando a dar sinais de cansaço. Mas, como ele não resiste a um bom par de pernas, tudo pode acontecer.
Quem conhece o estilo de Alain Fresnot tem pelo menos uma idéia do que esperar. O diretor de Ed Mort e Desmundo utiliza muito o tom farsesco em um jogo de crítica e brincadeira. Mas, em Família Vende Tudo ele perde um pouco a mão ao exagerar nas situações e nas caricaturas dos personagens. Imaginem um casal, o filho mais velho, o filho mais novo e a adolescente acompanhando a turnê de shows do rapaz pelo país na expectativa de conseguir com que ela suba ao quarto do ídolo. E nisso, incluem diálogos como o pai dizendo: "não deixa ele usar camisinha" e a mãe dando glória aos céus pela filha subir para transar com um artista famoso. Isso sem falar nas discussões de Ivan Carlos com a esposa como na cena em que ela toca fogo na cama. Ou os amigos da comunidade comemorando que a menina vomitou.
Os personagens, por sua vez, são caricatos e estereotipados. Há em algumas situações uma crítica, é verdade, mas na maior parte do tempo, isso se perde. Ficamos apenas acompanhando a loura burra gostosa vivida por Luana Piovani, a empresária homossexual masculinizada interpretada por Imara Reis, o negro semi-bandido vivido por Aílton Graça e os evangélicos fanáticos, com destaque para a bispa Marisa Orth, uma das melhores piadas do filme. Mas, apesar de caricato como um cantor exageradamente brega e galinha, não podemos deixar de elogiar a interpretação de Caco Ciocler, que consegue se transformar completamente. A garota Marisol Ribeiro também está muito bem como Lindinha.
Outro grande problema do filme é o famoso timing da comédia. Seja pelo exagero, pelo mau gosto ou pela colocação errada, as piadas muitas vezes não funcionam, causando mais estranhamento que graça. Podendo até irritar algumas pessoas. Muitas vezes, o efeito é um riso de nervoso. É o grande problema de não saber onde parar e em que momento largar a deixa perfeita para que o outro corte. É louvável a crítica ácida de Alain Fresnot à ignorância humana e até mesmo aos limites possíveis de suas relações, mas em algum momento essa boa intenção se perde, principalmene após a consumação do ato, fazendo toda a trama da consequência cair em um dramalhão barato.
Família Vende Tudo definitivamente não é um filme para todos. A farsa se perde em algum ponto entre o roteiro e a execução das cenas, sem falar da não conclusão das tramas secundárias que são simplesmente esquecidas no meio do caminho. Não por acaso causou tantas críticas negativas e teve sua estreia adiada por diversas vezes. Mas, com um elenco de peso e o apoio da Globo Filmes é possível que encontre seu lugar nas bilheterias.
Família Vende Tudo (Família Vende Tudo: 2011 / Brasil)
Direção: Alain Fresnot
Roteiro: Marcus Aurelius Pimenta e Alain Fresnot
Com: Caco Ciocler, Marisol Ribeiro, Luana Piovani, Lima Duarte, Aílton Graça, Imara Reis, Robson Nunes, Vera Holtz. part: Beatriz Segall e Marisa Orth.
Duração: 89 min
A história nonsense nos apresenta uma família de muambeiros que se vê em uma situação delicada ao ter toda a sua mercadoria apreendida pela Polícia Federal em sua volta do Paraguai. Cheios de dívidas, ameaçados pelo vizinho semi-bandido e influenciados por um depoimento em uma igreja evangélica, eles encontram uma solução nada convencional: arrumar uma forma da filha Lindinha ficar grávida de um cantor de sucesso. O que eles não sabem é que o cantor Ivan Carlos é casado com Jennifer e está preocupado com a atual situação de sua carreira já que o seu ritmo Chique Chique está começando a dar sinais de cansaço. Mas, como ele não resiste a um bom par de pernas, tudo pode acontecer.
Quem conhece o estilo de Alain Fresnot tem pelo menos uma idéia do que esperar. O diretor de Ed Mort e Desmundo utiliza muito o tom farsesco em um jogo de crítica e brincadeira. Mas, em Família Vende Tudo ele perde um pouco a mão ao exagerar nas situações e nas caricaturas dos personagens. Imaginem um casal, o filho mais velho, o filho mais novo e a adolescente acompanhando a turnê de shows do rapaz pelo país na expectativa de conseguir com que ela suba ao quarto do ídolo. E nisso, incluem diálogos como o pai dizendo: "não deixa ele usar camisinha" e a mãe dando glória aos céus pela filha subir para transar com um artista famoso. Isso sem falar nas discussões de Ivan Carlos com a esposa como na cena em que ela toca fogo na cama. Ou os amigos da comunidade comemorando que a menina vomitou.
Os personagens, por sua vez, são caricatos e estereotipados. Há em algumas situações uma crítica, é verdade, mas na maior parte do tempo, isso se perde. Ficamos apenas acompanhando a loura burra gostosa vivida por Luana Piovani, a empresária homossexual masculinizada interpretada por Imara Reis, o negro semi-bandido vivido por Aílton Graça e os evangélicos fanáticos, com destaque para a bispa Marisa Orth, uma das melhores piadas do filme. Mas, apesar de caricato como um cantor exageradamente brega e galinha, não podemos deixar de elogiar a interpretação de Caco Ciocler, que consegue se transformar completamente. A garota Marisol Ribeiro também está muito bem como Lindinha.
Outro grande problema do filme é o famoso timing da comédia. Seja pelo exagero, pelo mau gosto ou pela colocação errada, as piadas muitas vezes não funcionam, causando mais estranhamento que graça. Podendo até irritar algumas pessoas. Muitas vezes, o efeito é um riso de nervoso. É o grande problema de não saber onde parar e em que momento largar a deixa perfeita para que o outro corte. É louvável a crítica ácida de Alain Fresnot à ignorância humana e até mesmo aos limites possíveis de suas relações, mas em algum momento essa boa intenção se perde, principalmene após a consumação do ato, fazendo toda a trama da consequência cair em um dramalhão barato.
Família Vende Tudo definitivamente não é um filme para todos. A farsa se perde em algum ponto entre o roteiro e a execução das cenas, sem falar da não conclusão das tramas secundárias que são simplesmente esquecidas no meio do caminho. Não por acaso causou tantas críticas negativas e teve sua estreia adiada por diversas vezes. Mas, com um elenco de peso e o apoio da Globo Filmes é possível que encontre seu lugar nas bilheterias.
Família Vende Tudo (Família Vende Tudo: 2011 / Brasil)
Direção: Alain Fresnot
Roteiro: Marcus Aurelius Pimenta e Alain Fresnot
Com: Caco Ciocler, Marisol Ribeiro, Luana Piovani, Lima Duarte, Aílton Graça, Imara Reis, Robson Nunes, Vera Holtz. part: Beatriz Segall e Marisa Orth.
Duração: 89 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Família Vende Tudo
2011-10-01T09:28:00-03:00
Amanda Aouad
Caco Ciocler|comedia|critica|Lima Duarte|Luana Piovani|
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