Home
Alvamar Taddei
Beth Goulart
Carlos Marques
cinema brasileiro
Clery Cunha
critica
drama
Ed Carlos
espiritismo
filme brasileiro
Liana Duval
Márcia Fraga
Maria Ferreira
Vilma Camargo
Joelma 23º Andar
Joelma 23º Andar
Muito antes da onda espírita que invadiu os cinemas brasileiros com o centenário de Chico Xavier. Antes até dos filmes espiritualistas de Hollywood como Além da Eternidade, Ghost, O Sexto Sentido, Além da Vida. O Brasil lançou Joelma 23º Andar, filme baseado no livro Somos Seis, psicografado por Chico Xavier. O filme de Clery Cunha ganhou versão especial em DVD recentemente e tem alguns pontos positivos, mas no geral, se tornou uma obra datada, com clichês e recursos que soam tolos atualmente.
O acidente do Edifício Joelma marcou a cidade de São Paulo. Foram 183 mortos em um incêndio com imagens assustadoras de desespero, pessoas se jogando do alto do prédio, outras correndo no terraço e uma multidão de curiosos a observar. Seis anos depois, Cunha leva a história às telas com roteiro de Dulce Santucci concentrando a trama na figura da jovem Lucimar (nome fictício para a vítima) e sua família. Tímida, generosa e trabalhadora, a garota trabalha o dia inteiro e faz cursinho a noite por pretender prestar vestibular para Letras. Seu irmão, Alfredo lhe consegue um emprego melhor no mesmo edifício onde trabalha: O Joelma e tudo parece bem na vida da família, exceto pelos sonhos e premonições de Lucimar, que tem estudado a doutrina espírita e parece ter um sexto sentido eficiente.
O maior pecado de Joelma 23º Andar é protelar por tanto tempo a real intenção da obra. Tal qual As Mães de Chico Xavier, sua sinopse promete algo que só acontece no ato final do filme. Somos apresentados lentamente a Lucimar, sua rotina, sua família, em um roteiro que se arrasta na expectativa do tal incêndio esperado. As cenas dela e a amiga comemorando a matrícula no cursinho pré-vestibular, por exemplo, são desnecessárias. Ainda mais que depois, a informação de que ela passou na prova é dita de uma forma tão displicente que nem parece que estava tão empolgada antes. As informações sobre sua religião também entra de uma forma estranha, quando ela passeia com a mãe e vê, em uma vitrine, o livro Nosso Lar. Lucimar simplesmente pára, assustada e começam a vir imagens de Chico Xavier. Mais natural seu sonho premonitório logo no início do filme com o incêndio do Edifício Andraus.
Os recursos sonoros também não ajudam sendo quase fotos legendas a nos preparar para o inevitável. Há uma música tensa quando Lucimar se aproxima do Edifício Joelma pela primeira vez e a câmera dá um close no nome do prédio. Isso sem falar na música tecnológica toda vez que entramos no andar 23 que é onde fica a sala de processamento de dados. Outro momento lamentável é quando Lucimar acende o fogão, e o fogo descomunal toma conta do local. Neste momento, entra a música de Psicose, para criar o clima de tensão. Clery Cunha e Dulce Santucci procuram dar sempre um tom de Documento Verdade ao filme, marcando as datas importantes com legendas, nos fazendo acompanhar o passo a passo da chegada do momento do incêndio. Há recursos fáceis também como Alfredo perguntando que dia é aquele e ainda brincando que não é uma sexta-feira 13, e quando o curto-circuito começa no ar-condicionado, há um close em um relógio de parede nos deixando claro o horário do acidente.
Passada toda essa preparação que traz momentos lamentáveis na obra, vem o que todos esperavam e a sinopse prometida: o incêndio, o desencarne de Lucimar, Chico Xavier e as comunicações e explicações após desencarne. O filme toma um novo fôlego e se torna bastante interessante, uma pena que não reste muito tempo para apreciá-lo. A partir desse instante, até mesmo a dublagem problemática da obra é perdoada devido a tensão crescente, cenas realistas e soluções bem empregadas. A própria questão da doutrina espírita é passada de uma forma natural, sem os excessos didáticos de filmes recentes como Nosso Lar e o próprio As Mães de Chico Xavier.
As cenas do incêndio são bem realizadas, tensas, ainda mais por misturarem imagens filmadas com as imagens reais do ocorrido em 1974. É forte e doloroso acompanhar o desespero daquelas pessoas, os corpos caindo das janelas em chamas por não conseguir esperar um socorro que parecia impossível. As pessoas correndo no terraço do prédio traz imagens que assustam. O fogo também não é cenográfico, dando uma tensão ainda maior para as cenas dentro do prédio. Há muita fumaça, muita gente correndo sem saber para onde, muita gritaria. É possível ter uma noção ainda que vaga do drama daquelas pessoas. A maquiagem das pessoas queimadas também merece um destaque positivo. É tudo bastante realista, bem feito e que assusta.
O drama da família de Lucimar também segue o crescente emocional. A moça está presa no 23º andar, o fogo não parece se acalmar. Sua mãe e irmão estão desesperados à sua procura. É interessante o paralelo construído entre eles. As cenas são fortes, bem realizadas e com boas interpretações. É posssível acreditar na dor deles. Carlos Marques, que interpreta Alfredo, emociona em determinada cena de tensão e Beth Goulart, que faz a Lucimar, consegue passar o medo e ao mesmo tempo fé da personagem naquela situação extrema. As cenas em Uberaba com Chico Xavier também enriquecem o filme e o seu aspecto de drama documental.
Se fosse um curta-metragem começando no momento em que o incêndio inicia, Joelma 23º Andar seria um excelente exemplar cinematográfico. Envolvente, bem realizado, com um bom ritmo e um tema que atrai a atenção do público. Uma pena que existe toda a parte inicial, que se perde em vários momentos, construindo uma trama frágil, em erros e acertos da produção. Sem falar dos recursos datados dos anos 80 no Brasil. Ainda assim, o público espiritualista brasileiro vai gostar.
Vejam alguns minutos do filme.
Joelma 23º Andar (Joelma 23º Andar: Brasil / 1980)
Direção: Clery Cunha
Roteiro: Dulce Santucci
Com: Beth Goulart, Liana Duval, Carlos Marques, Ed Carlos, Márcia Fraga, Maria Ferreira, Vilma Camargo, Alvamar Taddei
Duração: 80 min.
O acidente do Edifício Joelma marcou a cidade de São Paulo. Foram 183 mortos em um incêndio com imagens assustadoras de desespero, pessoas se jogando do alto do prédio, outras correndo no terraço e uma multidão de curiosos a observar. Seis anos depois, Cunha leva a história às telas com roteiro de Dulce Santucci concentrando a trama na figura da jovem Lucimar (nome fictício para a vítima) e sua família. Tímida, generosa e trabalhadora, a garota trabalha o dia inteiro e faz cursinho a noite por pretender prestar vestibular para Letras. Seu irmão, Alfredo lhe consegue um emprego melhor no mesmo edifício onde trabalha: O Joelma e tudo parece bem na vida da família, exceto pelos sonhos e premonições de Lucimar, que tem estudado a doutrina espírita e parece ter um sexto sentido eficiente.
O maior pecado de Joelma 23º Andar é protelar por tanto tempo a real intenção da obra. Tal qual As Mães de Chico Xavier, sua sinopse promete algo que só acontece no ato final do filme. Somos apresentados lentamente a Lucimar, sua rotina, sua família, em um roteiro que se arrasta na expectativa do tal incêndio esperado. As cenas dela e a amiga comemorando a matrícula no cursinho pré-vestibular, por exemplo, são desnecessárias. Ainda mais que depois, a informação de que ela passou na prova é dita de uma forma tão displicente que nem parece que estava tão empolgada antes. As informações sobre sua religião também entra de uma forma estranha, quando ela passeia com a mãe e vê, em uma vitrine, o livro Nosso Lar. Lucimar simplesmente pára, assustada e começam a vir imagens de Chico Xavier. Mais natural seu sonho premonitório logo no início do filme com o incêndio do Edifício Andraus.
Os recursos sonoros também não ajudam sendo quase fotos legendas a nos preparar para o inevitável. Há uma música tensa quando Lucimar se aproxima do Edifício Joelma pela primeira vez e a câmera dá um close no nome do prédio. Isso sem falar na música tecnológica toda vez que entramos no andar 23 que é onde fica a sala de processamento de dados. Outro momento lamentável é quando Lucimar acende o fogão, e o fogo descomunal toma conta do local. Neste momento, entra a música de Psicose, para criar o clima de tensão. Clery Cunha e Dulce Santucci procuram dar sempre um tom de Documento Verdade ao filme, marcando as datas importantes com legendas, nos fazendo acompanhar o passo a passo da chegada do momento do incêndio. Há recursos fáceis também como Alfredo perguntando que dia é aquele e ainda brincando que não é uma sexta-feira 13, e quando o curto-circuito começa no ar-condicionado, há um close em um relógio de parede nos deixando claro o horário do acidente.
Passada toda essa preparação que traz momentos lamentáveis na obra, vem o que todos esperavam e a sinopse prometida: o incêndio, o desencarne de Lucimar, Chico Xavier e as comunicações e explicações após desencarne. O filme toma um novo fôlego e se torna bastante interessante, uma pena que não reste muito tempo para apreciá-lo. A partir desse instante, até mesmo a dublagem problemática da obra é perdoada devido a tensão crescente, cenas realistas e soluções bem empregadas. A própria questão da doutrina espírita é passada de uma forma natural, sem os excessos didáticos de filmes recentes como Nosso Lar e o próprio As Mães de Chico Xavier.
As cenas do incêndio são bem realizadas, tensas, ainda mais por misturarem imagens filmadas com as imagens reais do ocorrido em 1974. É forte e doloroso acompanhar o desespero daquelas pessoas, os corpos caindo das janelas em chamas por não conseguir esperar um socorro que parecia impossível. As pessoas correndo no terraço do prédio traz imagens que assustam. O fogo também não é cenográfico, dando uma tensão ainda maior para as cenas dentro do prédio. Há muita fumaça, muita gente correndo sem saber para onde, muita gritaria. É possível ter uma noção ainda que vaga do drama daquelas pessoas. A maquiagem das pessoas queimadas também merece um destaque positivo. É tudo bastante realista, bem feito e que assusta.
O drama da família de Lucimar também segue o crescente emocional. A moça está presa no 23º andar, o fogo não parece se acalmar. Sua mãe e irmão estão desesperados à sua procura. É interessante o paralelo construído entre eles. As cenas são fortes, bem realizadas e com boas interpretações. É posssível acreditar na dor deles. Carlos Marques, que interpreta Alfredo, emociona em determinada cena de tensão e Beth Goulart, que faz a Lucimar, consegue passar o medo e ao mesmo tempo fé da personagem naquela situação extrema. As cenas em Uberaba com Chico Xavier também enriquecem o filme e o seu aspecto de drama documental.
Se fosse um curta-metragem começando no momento em que o incêndio inicia, Joelma 23º Andar seria um excelente exemplar cinematográfico. Envolvente, bem realizado, com um bom ritmo e um tema que atrai a atenção do público. Uma pena que existe toda a parte inicial, que se perde em vários momentos, construindo uma trama frágil, em erros e acertos da produção. Sem falar dos recursos datados dos anos 80 no Brasil. Ainda assim, o público espiritualista brasileiro vai gostar.
Vejam alguns minutos do filme.
Joelma 23º Andar (Joelma 23º Andar: Brasil / 1980)
Direção: Clery Cunha
Roteiro: Dulce Santucci
Com: Beth Goulart, Liana Duval, Carlos Marques, Ed Carlos, Márcia Fraga, Maria Ferreira, Vilma Camargo, Alvamar Taddei
Duração: 80 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Joelma 23º Andar
2011-12-12T10:41:00-02:00
Amanda Aouad
Alvamar Taddei|Beth Goulart|Carlos Marques|cinema brasileiro|Clery Cunha|critica|drama|Ed Carlos|espiritismo|filme brasileiro|Liana Duval|Márcia Fraga|Maria Ferreira|Vilma Camargo|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
O filme O Menino que Queria Ser Rei (2019), dirigido por Joe Cornish , é uma aventura contemporânea que tenta reimaginar a lenda do Rei Art...
-
Vida (2017), dirigido por Daniel Espinosa , é um filme de terror e ficção científica que explora a descoberta de vida extraterrestre com ...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Entre os dias 24 e 28 de julho, Salvador respira cinema com a sétima edição da Mostra Lugar de Mulher é no Cinema. E nessa edição, a propost...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Quando Twister chegou às telas em 1996, trouxe consigo um turbilhão de expectativas e adrenalina. Sob a direção de Jan de Bont , conhecido ...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Filmes com elementos mágicos e adolescentes responsáveis por salvar ao mundo, em uma história inspirada em um livro de sucesso. Achei que já...
-
A Sombra do Vampiro (2001), dirigido por E. Elias Merhige , é um filme que mergulha na metalinguagem e nos oferece uma perspectiva intrig...