Quando as Torres Gêmeas caíram no dia 11 de setembro de 2001, era esperado que os americanos ainda falariam muito do assunto e que filmes diversos surgiriam. Afinal, eles já tinham destruído tantas vezes Nova York no cinema e sempre aproveitavam temas atuais para seus filmes que seria um processo natural. Não foi bem assim. Claro que surgiram filmes-homenagem, até um especial com onze curtas em visões diversas. A verdade é que o ocorrido ainda dói muito a eles. Não apenas pelas perdas, mas pela invasão ao próprio solo, ao coração de seu país, de seu lema, de sua estrutura capitalista e imperialista que move o mundo.
Filmes pontuais, então, sobre dores individuais são o mais comum, e é nesse tema que Stephen Daldry pega carona ao trazer para as telas a adaptação do livro de Jonathan Safran Foer. A história do garoto Oskar Schell que perde o pai no desastre das Torres Gêmeas é antes de tudo um filme tocante. Tão Forte e Tão Perto não foca em nenhum momento no atentado terrorista ou mesmo no medo que se instala no país a partir de então. Pelo contrário, já que o garoto de apenas 11 anos fica passeando livremente pelas ruas de Nova York. O filme foca na dor da perda de um ente querido e na tentativa desesperada de prolongar a despedida o máximo que for possível. Oskar tinha no pai um ídolo. Um homem que o tratava como um igual, o preparava para a vida, ao contrário de sua mãe, que sempre parecia a parte em sua criação.
E é pela habilidade de participar de jogos com o pai, como o último deixado que era descobrir indícios do sexto distrito de Nova York, que Oskar tem a chance de se manter perto dele, mesmo um ano depois do incidente, quando descobre uma chave misteriosa que só tem em seu envelope o nome Black. Em busca do verdadeiro dono, ele passeia por mundos diversos e ainda ganha a companhia inusitada de um inquilino de sua avó, o misterioso vivido por Max von Sydow, que não diz uma única palavra durante toda a projeção. É interessante perceber que muito mais da personalidade de Oskar pode estar expressa nas páginas do livro original, pois aqui, temos apenas algumas pistas de diagnósticos inconclusíveis como a suspeita de Síndrome de Asperger, uma espécie de autismo mais leve onde não tem retardamento mental.
Isso explicaria o mundo à parte de Oskar, sua relação difícil com a mãe e a preocupação excessiva do pai em torná-lo um homem esperto, atento e forte. A direção e o tratamento de som ajudam e muito a compor esse personagem, principalmente pelo irritante toque constante do pandeiro que acalma o protagonista em seus medos. Totalmente focado, construído em cenas simples que nos tornam próximos dele. Ainda que incomode alguns exageros, principalmente em relação ao tratamento com a mãe. Mas, as auto-torturas, os segredos que guarda no guarda-roupas e sua descoberta gradual da vida nos fazem relevar as estranhezas. E nisso há um grande mérito também do ator mirim Thomas Horn, surpreendente em seu primeiro papel, já como um protagonista tão difícil e complexo. Mas, ele teve bons exemplos para começar com o pé direito, como a companhia do incrível ator Max von Sydow, preferido de Ingmar Bergman, que dá uma emoção especial ao misterioso inquilino. Ele não fala com a boca, mas expressa tudo com os olhos e gestos. Um jogo puro de boa interpretação que mereceu a indicação ao Oscar, e merecia até mais o prêmio. Outra que está muito bem no papel é Sandra Bullock, dando a carga dramática necessária para o papel da mãe quase ausente, que sofre sem saber como lidar com aquela situação. Emociona em várias cenas. O filme, e Thomas, ainda teve o plus de contar com participações especiais como Tom Hanks e Viola Davis que em poucas cenas dão conta do recado e marcam suas passagens na história.
Tão Forte e Tão Perto é um filme que se esforça por emocionar e é genuíno em sua tentativa. Usa do particular para falar do geral, da dor, da ferida ainda aberta e da esperança de não precisar se despedir nunca. Pode pesar a mão em algum momento, exagerar na atitude da mãe ausente, esquecer detalhes racionais, mas consegue nos envolver em uma emoção autêntica que não é nossa, mas faz todo o sentido.
Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud and Incredibly Close, 2012 / EUA)
Direção: Stephen Daldry
roteiro: Eric Roth
Com: Tom Hanks, Sandra Bullock, Thomas Horn, John Goodman, Max von Sydow, Viola Davis
Duração: 129 min.

