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Sombras da Noite
Sombras da Noite
Sombras da Noite foi uma série televisiva criada por Dan Curtis e exibida pela ABC entre 1966 e 1971. Pioneira em temas relacionados a monstros, fantasmas e elementos sobrenaturais, fazia sucesso com seus diálogos ágeis, apesar dos erros técnicos como câmera aparecendo, entre outros. Mas, tirando a informação nos créditos iniciais e a dedicatória ao seu criador no final, o novo filme de Tim Burton funciona sozinho.
A trama gira em torno da família Collins. Com uma narração inicial, o personagem de Johnny Depp nos apresenta o conceito de família e o valor que é dado a ele pelos seus antepassados. Ele é Barnabas Collins, um jovem promissor que cometeu um único erro: desprezar o amor de uma bruxa, vivida pela atriz Eva Green. Uma maldição se instala nos Collins, seus pais são mortos, sua noiva se suicida e Barnabas Collins se transforma em um vampiro que é enterrado por quase duzentos anos. Ao acordar, ele estranha o mundo em que vive, pós revolução hippie e onde sua família amarga um ostracismo deprimente.
Toda construção do prólogo é uma aula técnica de direção de arte, fotografia e composição cênica. É sombrio, é intenso, forte. O universo mágico ganha uma dimensão exótica palpável. Em momentos, parece até desenho pela textura plástica que Tim Burton imprime à obra. É bastante didático e ilustrativo também. Uma apresentação necessária para nos deixar entrar na trama. A trilha sonora nessa parte também é densa, sombria, com acordes que ecoam da bela obra de Wojciech Kilar para Drácula de Bram Stoker.
Com uma passagem de tempo simples e funcional, vamos encontrar a personagem de Bella Heathcote em um trem, tornando o filme uma mistura de gêneros e clima mais heterogêneo. O que não é um problema, em um mundo cada vez mais híbrido, onde misturas e experimentações são constantes. O problema talvez seja exatamente esse, não ter nada de novo. E as expectativas para filmes de Tim Burton são sempre ligadas a inovações.
Essa é a explicação mais plausível para a morna recepção do filme até agora, pois desde de A Noiva Cadáver não via algo tão conciso do diretor. A história do vampiro amaldiçoado por uma bruxa que acorda e tenta salvar a “honra” da família não é um grande argumento, mas se torna fluido no desenvolvimento do roteiro. Uma falha talvez seja o quase sumiço da personagem Victoria ou uma informação jogada no momento chave da trama trazendo mais um ser mágico. Incomoda também a caricatura excessiva do grupo de hippies, principalmente em uma cena específica na floresta. Mas, no geral, a história funciona.
Funciona principalmente pela mistura de um humor irônico com referências diversas à década de setenta. A começar pelo despertar de Barnabas. A brincadeira com a MacDonalds, o filme Super Fly, ícone da blaxploitation, em cartaz na cidade, a Kombi de hippies, Alice Cooper. Isso sem falar na trilha sonora. Há composições de música intra-diegéticas incrivelmente construídas, como um clipe a partir de uma apresentação na televisão, ou quando o personagem de Depp se ajoelha lamentando em cima de um órgão (naquele tempo era órgão, não teclado) e aquela base característica dos antigos instrumentos começa a tocar, sendo pontuadas com toques nas teclas.
A composição família e os atores que os interpretam também traz um ponto a mais para o filme. Johnny Depp está confortável no papel de Barnabas Collins, em mais um personagem estranho em sua carreira, mas com nuanças próprias. Michelle Pfeiffer está linda e envolvente como Elizabeth Collins e Eva Green consegue defender bem a bruxa Angelique Bouchard em tons de maldade, falsidade e carência. Helena Bonham Carter é quase uma participação especial de luxo, mas também dá o seu tom. E a dupla Chloë Grace Moretz e Gulliver McGrath também mantém o bom nível nas interpretações.
Sombras da Noite não é então um dos mais criativos, surpreendente ou inovadores filmes de Tim Burton. Mas, mantém um apuro técnico, interpretações bem trabalhadas e uma história coerente dentro de um universo específico. Você pode alegar que vampiro não é transformado por maldição de bruxa, ou que uma bruxa não é imortal, nem quebra que nem porcelana, entre outros detalhes menores. Mas, esse parece não ser mesmo o foco da trama que apenas utiliza conceitos de seres mágicos para construir uma crônica de uma época.
Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012 / EUA)
Direção: Tim Burton
Roteiro: John August, Seth Grahame-Smith
Com: Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Helena Bonham Carter, Eva Green, Bella Heathcote, Chloë Grace Moretz, Gulliver McGrath
Duração: 113 min.
A trama gira em torno da família Collins. Com uma narração inicial, o personagem de Johnny Depp nos apresenta o conceito de família e o valor que é dado a ele pelos seus antepassados. Ele é Barnabas Collins, um jovem promissor que cometeu um único erro: desprezar o amor de uma bruxa, vivida pela atriz Eva Green. Uma maldição se instala nos Collins, seus pais são mortos, sua noiva se suicida e Barnabas Collins se transforma em um vampiro que é enterrado por quase duzentos anos. Ao acordar, ele estranha o mundo em que vive, pós revolução hippie e onde sua família amarga um ostracismo deprimente.
Toda construção do prólogo é uma aula técnica de direção de arte, fotografia e composição cênica. É sombrio, é intenso, forte. O universo mágico ganha uma dimensão exótica palpável. Em momentos, parece até desenho pela textura plástica que Tim Burton imprime à obra. É bastante didático e ilustrativo também. Uma apresentação necessária para nos deixar entrar na trama. A trilha sonora nessa parte também é densa, sombria, com acordes que ecoam da bela obra de Wojciech Kilar para Drácula de Bram Stoker.
Com uma passagem de tempo simples e funcional, vamos encontrar a personagem de Bella Heathcote em um trem, tornando o filme uma mistura de gêneros e clima mais heterogêneo. O que não é um problema, em um mundo cada vez mais híbrido, onde misturas e experimentações são constantes. O problema talvez seja exatamente esse, não ter nada de novo. E as expectativas para filmes de Tim Burton são sempre ligadas a inovações.
Essa é a explicação mais plausível para a morna recepção do filme até agora, pois desde de A Noiva Cadáver não via algo tão conciso do diretor. A história do vampiro amaldiçoado por uma bruxa que acorda e tenta salvar a “honra” da família não é um grande argumento, mas se torna fluido no desenvolvimento do roteiro. Uma falha talvez seja o quase sumiço da personagem Victoria ou uma informação jogada no momento chave da trama trazendo mais um ser mágico. Incomoda também a caricatura excessiva do grupo de hippies, principalmente em uma cena específica na floresta. Mas, no geral, a história funciona.
Funciona principalmente pela mistura de um humor irônico com referências diversas à década de setenta. A começar pelo despertar de Barnabas. A brincadeira com a MacDonalds, o filme Super Fly, ícone da blaxploitation, em cartaz na cidade, a Kombi de hippies, Alice Cooper. Isso sem falar na trilha sonora. Há composições de música intra-diegéticas incrivelmente construídas, como um clipe a partir de uma apresentação na televisão, ou quando o personagem de Depp se ajoelha lamentando em cima de um órgão (naquele tempo era órgão, não teclado) e aquela base característica dos antigos instrumentos começa a tocar, sendo pontuadas com toques nas teclas.
A composição família e os atores que os interpretam também traz um ponto a mais para o filme. Johnny Depp está confortável no papel de Barnabas Collins, em mais um personagem estranho em sua carreira, mas com nuanças próprias. Michelle Pfeiffer está linda e envolvente como Elizabeth Collins e Eva Green consegue defender bem a bruxa Angelique Bouchard em tons de maldade, falsidade e carência. Helena Bonham Carter é quase uma participação especial de luxo, mas também dá o seu tom. E a dupla Chloë Grace Moretz e Gulliver McGrath também mantém o bom nível nas interpretações.
Sombras da Noite não é então um dos mais criativos, surpreendente ou inovadores filmes de Tim Burton. Mas, mantém um apuro técnico, interpretações bem trabalhadas e uma história coerente dentro de um universo específico. Você pode alegar que vampiro não é transformado por maldição de bruxa, ou que uma bruxa não é imortal, nem quebra que nem porcelana, entre outros detalhes menores. Mas, esse parece não ser mesmo o foco da trama que apenas utiliza conceitos de seres mágicos para construir uma crônica de uma época.
Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012 / EUA)
Direção: Tim Burton
Roteiro: John August, Seth Grahame-Smith
Com: Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Helena Bonham Carter, Eva Green, Bella Heathcote, Chloë Grace Moretz, Gulliver McGrath
Duração: 113 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sombras da Noite
2012-06-21T08:23:00-03:00
Amanda Aouad
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