Olympia
As Olimpíadas de Londres começaram e não tem como não lembrar desse filme de Leni Rienfensthal. Independente da questão política, o filme é um marco do documentário esportivo mundial. Registrando com uma técnica admirável as Olimpíadas de Berlim de 1936, Rienfensthal fez um filme extremamente artístico. Dividido em duas partes, pode ser cansativo para boa parte do público, mas não deixa de ser uma obra cinematográfica admirável.
Mas, claro, é preciso entender a contextualização política daquela época. Leni Rienfensthal foi a principal cineasta do Nazismo, protegida por Adolf Hitler e, apesar de ter negado conhecimento sobre as atrocidades do Holocausto, ficou marcada por seu filme O Triunfo da Vontade, uma verdadeira apologia ao terceiro Reich. Tanto que estava no banco dos réus no julgamento de Nuremberg. Acabou absolvida e foi se dedicar ao mergulho e imagens sub-aquáticas. Mas sua vida cinematográfica jamais foi a mesma.
Em Olympia, apesar do destaque dado à presença de Adolf Hitler e o excesso da bandeiras com o símbolo nazista, a diretora acaba sendo bastante imparcial, chegando a colocar na montagem final as conquistas do velocista americano Jesse Owens, negro, que fez Hitler sair do estádio. Não vemos no documentário a saída do terceiro Reich do estádio Olímpico, todas as suas imagens são de glória em vitórias alemãs. Mas, Owens é destacado em todas as competições que participou, mesmo antes na concentração, já que é o favorito. Outros negros americanos são mostrados como no salto em altura. Não há uma censura nesse sentido. O que já é uma grande coisa se pensarmos que o nazismo pregada a superioridade da raça ariana.
O filme começa de maneira bastante poética, com uma simulação do Olimpo, mostrando as ruínas de Atenas, as estátuas de deuses gregos, e o clima de perfeição. Afinal, as Olimpíadas começaram lá. Depois atores simulam performances artísticas como atletas gregos. Passa para os atletas reais com a passagem da tocha olímpica, o caminho dela de Atenas até Berlim, a tradição do início dos jogos, até chegar ao estádio olímpico para a cerimônia de abertura.
A partir daí, o registro é bastante documental, seguindo o cinema direto. O narrador é o narrador do estádio, não há muita interferência. Vamos vendo as provas que vão acontecendo no estádio olímpico. Essa primeira parte é focada nas provas de atletismo. Todas demonstradas com bastante detalhes. Na segunda parte, Rienfensthal irá fazer um resumo das demais competições como vela, ginástica olímpica, boxe, esgrima, hipismo, natação, salto ornamental, tiro, futebol, remo, hóquei. Um resumo com menos charme e, por isso, menos conhecido.
O que chama a atenção na construção do filme é o cuidado com as imagens. A valorização do esforço do atleta, tendo a preocupação de variar os ângulos e movimentos de câmera. Na prova do salto com vara, Leni Riefenstahl não repete um único plano. Cada salto é como se fosse um quadro, uma pintura artística. Parece que era mesmo o ponto alto dos jogos olímpicos. Já nas provas de corrida, a variação é menor.
Aliás, há uma curiosidade sobre a prova de salto com varas. A disputa entre Japão e Estados Unidos foi difícil, mais longa do que o esperado. Foram 5 horas de disputa. E conta-se que ela teria faltado filme exatamente no momento de decisão. Por isso, convocou os atletas para uma simulação posterior. Pode-se perceber que, no filme, os enquadramentos são mais fechados, não demonstra muito a platéia que é sempre mostrada em separado. A questão da iluminação, já que a prova teve que chegar à noite, também ajuda.
Interessante também como ela consegue criar dois finais para as duas partes do filme. A primeira parte do atletismo acaba com a tradicional prova da maratona que encerra os jogos olímpicos, e uma cena rápida de dança das bandeiras dos países participantes. Já na segunda parte onde há o resumo dos demais esportes, termina com a festa de encerramento das Olimpíadas e uma luz forte, também simbólica da festa máxima do esporte.
Olympia (Olympia, 1938 / Alemanha)
Direção: Leni Riefenstahl
Roteiro: Leni Riefenstahl
Duração: 121 min (part. 1), 96 min (part. 2)
Mas, claro, é preciso entender a contextualização política daquela época. Leni Rienfensthal foi a principal cineasta do Nazismo, protegida por Adolf Hitler e, apesar de ter negado conhecimento sobre as atrocidades do Holocausto, ficou marcada por seu filme O Triunfo da Vontade, uma verdadeira apologia ao terceiro Reich. Tanto que estava no banco dos réus no julgamento de Nuremberg. Acabou absolvida e foi se dedicar ao mergulho e imagens sub-aquáticas. Mas sua vida cinematográfica jamais foi a mesma.
Em Olympia, apesar do destaque dado à presença de Adolf Hitler e o excesso da bandeiras com o símbolo nazista, a diretora acaba sendo bastante imparcial, chegando a colocar na montagem final as conquistas do velocista americano Jesse Owens, negro, que fez Hitler sair do estádio. Não vemos no documentário a saída do terceiro Reich do estádio Olímpico, todas as suas imagens são de glória em vitórias alemãs. Mas, Owens é destacado em todas as competições que participou, mesmo antes na concentração, já que é o favorito. Outros negros americanos são mostrados como no salto em altura. Não há uma censura nesse sentido. O que já é uma grande coisa se pensarmos que o nazismo pregada a superioridade da raça ariana.
O filme começa de maneira bastante poética, com uma simulação do Olimpo, mostrando as ruínas de Atenas, as estátuas de deuses gregos, e o clima de perfeição. Afinal, as Olimpíadas começaram lá. Depois atores simulam performances artísticas como atletas gregos. Passa para os atletas reais com a passagem da tocha olímpica, o caminho dela de Atenas até Berlim, a tradição do início dos jogos, até chegar ao estádio olímpico para a cerimônia de abertura.
A partir daí, o registro é bastante documental, seguindo o cinema direto. O narrador é o narrador do estádio, não há muita interferência. Vamos vendo as provas que vão acontecendo no estádio olímpico. Essa primeira parte é focada nas provas de atletismo. Todas demonstradas com bastante detalhes. Na segunda parte, Rienfensthal irá fazer um resumo das demais competições como vela, ginástica olímpica, boxe, esgrima, hipismo, natação, salto ornamental, tiro, futebol, remo, hóquei. Um resumo com menos charme e, por isso, menos conhecido.
O que chama a atenção na construção do filme é o cuidado com as imagens. A valorização do esforço do atleta, tendo a preocupação de variar os ângulos e movimentos de câmera. Na prova do salto com vara, Leni Riefenstahl não repete um único plano. Cada salto é como se fosse um quadro, uma pintura artística. Parece que era mesmo o ponto alto dos jogos olímpicos. Já nas provas de corrida, a variação é menor.
Aliás, há uma curiosidade sobre a prova de salto com varas. A disputa entre Japão e Estados Unidos foi difícil, mais longa do que o esperado. Foram 5 horas de disputa. E conta-se que ela teria faltado filme exatamente no momento de decisão. Por isso, convocou os atletas para uma simulação posterior. Pode-se perceber que, no filme, os enquadramentos são mais fechados, não demonstra muito a platéia que é sempre mostrada em separado. A questão da iluminação, já que a prova teve que chegar à noite, também ajuda.
Interessante também como ela consegue criar dois finais para as duas partes do filme. A primeira parte do atletismo acaba com a tradicional prova da maratona que encerra os jogos olímpicos, e uma cena rápida de dança das bandeiras dos países participantes. Já na segunda parte onde há o resumo dos demais esportes, termina com a festa de encerramento das Olimpíadas e uma luz forte, também simbólica da festa máxima do esporte.
Olympia (Olympia, 1938 / Alemanha)
Direção: Leni Riefenstahl
Roteiro: Leni Riefenstahl
Duração: 121 min (part. 1), 96 min (part. 2)
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Olympia
2012-07-28T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|critica|documentario|
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