Histeria
Até início do século XIX, uma doença parecia comum entre as mulheres, a Histeria. E o método para tratá-la era uma massagem especial no clitóris. Pelo menos era o que acreditava o médico Robert Dalrymple. Só que ao passar essa técnica para o jovem Dr. Mortimer Granville, acaba dando início à criação do que conhecemos hoje com o nome de vibrador.
Apesar da sinopse nos levar a crer o contrário, Histeria não é um filme sobre o surgimento do vibrador. Ele está lá, como peça importante da trama, assim como os estudos sobre a histeria e o prazer sexual das mulheres. Mas, na verdade, o filme de Tanya Wexler é uma comédia romântica. Uma história de amor improvável entre um jovem médico idealista e uma moça rebelde que não aceitava a forma como a sociedade tratava as mulheres.
Charlot é uma moça cheia de vida, independente, que quer ter o seu lugar na sociedade machista e ajudar aos pobres. Uma socialista na origem da palavra. Filha do Dr. Robert Dalrymple, que não aceita as escolhas e atitudes da moça, sua trama acaba caminhando em paralelo à questão da histeria e forçosamente cruzando o destino de Granville em diversos momentos. Maggie Gyllenhaal e Hugh Dancy possuem até uma química interessante, mas isso não é o suficiente para comprarmos a ideia do romance.
Essa construção inconstante é que acaba pesando contra. Porque o roteiro fica dividido em possibilidades e não nos ajuda a embarcar nem na história de amor, nem no tema engraçado e picante das experiências no consultório. Tudo fica exposto de uma maneira tão tola, as mulheres na sala de espera para receber a massagem, a cortina, o desconforto do jovem médico em ter que massagear as partes íntimas daquelas senhoras, enquanto sua mão dói desesperadamente. A "insatisfação" em determinado momento. E tudo isso, intercalado por roupantes de Charlot, os pobres e a ligação que vai surgindo entre eles.
Acabamos não aprofundando nenhum dos temas. Toda a trama é muito pudica, inclusive nas escolhas dos enquadramentos e desconforto de falar sobre sexo. Ao mesmo tempo, temos o tema da repressão do prazer sexual como mal a ser combatido. A forma como o primeiro vibrador surge mesmo, fica limitado à contagem dos "espasmos" em segundos, de uma maneira tão cientifica que é quase anti-clímax.
Ao mesmo tempo, a construção do romance é frágil, feita às pressas em encontros casuais, quase esbarrões. Assim como o problema social que Charlot tenta combater. Há cenas fortes como a invasão do abrigo, mas tudo jogado de uma maneira quase leviana que não nos dá a certeza de se o filme quer que pensemos na questão, ou coloca aquilo apenas para compor superficialmente o caráter da personagem. Aliás, todos os personagens são rasos, tipos estereotipados de uma maneira tal que fica difícil comprar a ideia de que são reais.
Ainda assim, há uma curiosidade crescente em relação aos problemas apresentados. Desde a histeria e seu tratamento, passando pela mão do Dr. Granville, os pobres de Charlot, seu diagnóstico e julgamento, além de toda aquela situação delicada no consultório. Cada tema chama a atenção e tem bons momentos, cenas interessantes, mas a costura entre eles é frágil e nada se mantem por muito tempo.
Histeria acaba sendo um filme instigante. Uma obra que tenta nos mostrar fatos históricos de uma maneira rocambolesca e se perde em algumas escolhas. Ainda assim, gera curiosidade e traz bons momentos. Um filme que poderia ser muito mais do que se apresenta.
Histeria (Hysteria, 2012 / Inglaterra)
Direção: Tanya Wexler
Roteiro: Stephen Dyer, Jonah Lisa Dyer e Howard Gensler
Com: Maggie Gyllenhaal, Hugh Dancy, Jonathan Pryce e Rupert Everett
Duração: 100 min.
Apesar da sinopse nos levar a crer o contrário, Histeria não é um filme sobre o surgimento do vibrador. Ele está lá, como peça importante da trama, assim como os estudos sobre a histeria e o prazer sexual das mulheres. Mas, na verdade, o filme de Tanya Wexler é uma comédia romântica. Uma história de amor improvável entre um jovem médico idealista e uma moça rebelde que não aceitava a forma como a sociedade tratava as mulheres.
Charlot é uma moça cheia de vida, independente, que quer ter o seu lugar na sociedade machista e ajudar aos pobres. Uma socialista na origem da palavra. Filha do Dr. Robert Dalrymple, que não aceita as escolhas e atitudes da moça, sua trama acaba caminhando em paralelo à questão da histeria e forçosamente cruzando o destino de Granville em diversos momentos. Maggie Gyllenhaal e Hugh Dancy possuem até uma química interessante, mas isso não é o suficiente para comprarmos a ideia do romance.
Essa construção inconstante é que acaba pesando contra. Porque o roteiro fica dividido em possibilidades e não nos ajuda a embarcar nem na história de amor, nem no tema engraçado e picante das experiências no consultório. Tudo fica exposto de uma maneira tão tola, as mulheres na sala de espera para receber a massagem, a cortina, o desconforto do jovem médico em ter que massagear as partes íntimas daquelas senhoras, enquanto sua mão dói desesperadamente. A "insatisfação" em determinado momento. E tudo isso, intercalado por roupantes de Charlot, os pobres e a ligação que vai surgindo entre eles.
Acabamos não aprofundando nenhum dos temas. Toda a trama é muito pudica, inclusive nas escolhas dos enquadramentos e desconforto de falar sobre sexo. Ao mesmo tempo, temos o tema da repressão do prazer sexual como mal a ser combatido. A forma como o primeiro vibrador surge mesmo, fica limitado à contagem dos "espasmos" em segundos, de uma maneira tão cientifica que é quase anti-clímax.
Ao mesmo tempo, a construção do romance é frágil, feita às pressas em encontros casuais, quase esbarrões. Assim como o problema social que Charlot tenta combater. Há cenas fortes como a invasão do abrigo, mas tudo jogado de uma maneira quase leviana que não nos dá a certeza de se o filme quer que pensemos na questão, ou coloca aquilo apenas para compor superficialmente o caráter da personagem. Aliás, todos os personagens são rasos, tipos estereotipados de uma maneira tal que fica difícil comprar a ideia de que são reais.
Ainda assim, há uma curiosidade crescente em relação aos problemas apresentados. Desde a histeria e seu tratamento, passando pela mão do Dr. Granville, os pobres de Charlot, seu diagnóstico e julgamento, além de toda aquela situação delicada no consultório. Cada tema chama a atenção e tem bons momentos, cenas interessantes, mas a costura entre eles é frágil e nada se mantem por muito tempo.
Histeria acaba sendo um filme instigante. Uma obra que tenta nos mostrar fatos históricos de uma maneira rocambolesca e se perde em algumas escolhas. Ainda assim, gera curiosidade e traz bons momentos. Um filme que poderia ser muito mais do que se apresenta.
Histeria (Hysteria, 2012 / Inglaterra)
Direção: Tanya Wexler
Roteiro: Stephen Dyer, Jonah Lisa Dyer e Howard Gensler
Com: Maggie Gyllenhaal, Hugh Dancy, Jonathan Pryce e Rupert Everett
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Histeria
2013-01-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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