Searching for Sugar Man
Vencedor do Oscar 2013 de Melhor Documentário, Searching for Sugar Man não chama a atenção em sua técnica visual. Ainda que tenha algumas brincadeiras na montagem, principalmente na abertura, e que a fotografia seja também correta, é apenas uma história bem contada. Porém, "A" história é que nos pega. Não apenas ela, mas a forma como o roteiro nos conta. Repito aqui a frase do Projeto DocTV: quando a vida parece ficção, melhor fazer um documentário.
Searching for Sugar Man é isso, uma história incrível, que parece mentira. Seu maior valor está no senso de oportunidade e investigação. Ou melhor, relato de uma investigação inusitada, a procura por um ídolo desconhecido. Rodriguez, o artista que vendeu meio milhão de cópias na África do Sul, despertando diversos jovens para o movimento anti-apartheid, na busca pela liberdade. Porém, que ninguém sabia além do que tinha nas capas dos LP´s. E em seu país de origem, os Estados Unidos, era apenas um ilustre desconhecido.
O filme parte dessa vontade, da busca por entender esse fenômeno. Um artista comparado a Beatles, Bob Dylan e Elvis Presley, que vendia mais do que os Rolling Stones. Mas, que ninguém tinha uma informação concreta sobre. Um verdadeiro mistério esperando para ser desvendado. Muitos boatos, alguns bizarros que envolviam suicídios no palco. Às vezes com um tiro na cabeça, outros com fogo no corpo. Mas, nada de fato.
O roteiro é muito feliz ao nos apresentar essa história aos poucos. Primeiro ficamos sabendo do talento de Rodriguez e da incompreensão de alguns empresários em relação ao não sucesso. Depois, somos apresentados ao sucesso estrondoso na África do Sul, na forma como suas músicas iam ao encontro do que aquela juventude reprimida sentia naquele governo ditatorial, na perseguição a sua música, nos discos riscados pela censura. Para enfim, vermos o movimento de busca, o caminho oposto sendo feito acompanhando o fluxo do dinheiro da venda dos discos, das poucas informações nos dois álbuns disponíveis e nas possíveis pistas nas letras das músicas.
A forma como eles observam cada detalhe da capa, como o fato de algumas músicas serem assinadas por Sixto Rodriguez e outras por Jesus Rodriguez. Seriam a mesma pessoa? Afinal, quem era ele, o que aconteceu? Porque sempre havia informações sobre outros artistas norte-americanos e dele não havia nada? Até em caixa de leite a foto do artista foi parar, um costume nos Estados Unidos para pessoas desaparecidas. É incrível como eles vão tentando encontrar endereços nas letras das músicas, também. Uma aula de investigação que nos encanta.
Um dos momentos mais incômodos do documentário é a entrevista com o empresário musical Clarence Avant, o antigo dono da gravadora que lançou os dois discos do artista. Todas as gravadoras da África do Sul disseram que enviaram o dinheiro da venda para ele. E ele acaba desdenhando a situação de uma maneira quase leviana. Inclusive se contradizendo. A princípio diz que não sabia de nada e que não recebeu dinheiro algum. Depois começa a querer desmerecer a quantidade de disco vendida, como se fosse um troco sem importância. "Quem se importa?". Se ele recebia o dinheiro sem se importar em repassar para Rodriguez nunca saberemos.
A revelação do que, de fato, aconteceu a Rodriguez e a condução do filme a partir daí é o mais incrível. O documentário procura demonstrar isso na conversa com a família e acompanhando o retorno à África do Sul, onde temos imagens de grande emoção. É mesmo incrível. E essa é a força maior do documentário, construir o efeito da investigação, nos envolver naquela história fantástica e nos fazer querer conhecer mais e mais dessa figura especial que é Rodriguez. Por seu talento, sua simplicidade, sua sensatez. É de deixar qualquer um impressionado e doido para correr atrás de suas músicas.
* Filme visto no In-Edit 2013.
Searching for Sugar Man, 2012 / EUA
Direção: Malik Bendjelloul
Roteiro: Malik Bendjelloul
Duração: 86 min.
Searching for Sugar Man é isso, uma história incrível, que parece mentira. Seu maior valor está no senso de oportunidade e investigação. Ou melhor, relato de uma investigação inusitada, a procura por um ídolo desconhecido. Rodriguez, o artista que vendeu meio milhão de cópias na África do Sul, despertando diversos jovens para o movimento anti-apartheid, na busca pela liberdade. Porém, que ninguém sabia além do que tinha nas capas dos LP´s. E em seu país de origem, os Estados Unidos, era apenas um ilustre desconhecido.
O filme parte dessa vontade, da busca por entender esse fenômeno. Um artista comparado a Beatles, Bob Dylan e Elvis Presley, que vendia mais do que os Rolling Stones. Mas, que ninguém tinha uma informação concreta sobre. Um verdadeiro mistério esperando para ser desvendado. Muitos boatos, alguns bizarros que envolviam suicídios no palco. Às vezes com um tiro na cabeça, outros com fogo no corpo. Mas, nada de fato.
O roteiro é muito feliz ao nos apresentar essa história aos poucos. Primeiro ficamos sabendo do talento de Rodriguez e da incompreensão de alguns empresários em relação ao não sucesso. Depois, somos apresentados ao sucesso estrondoso na África do Sul, na forma como suas músicas iam ao encontro do que aquela juventude reprimida sentia naquele governo ditatorial, na perseguição a sua música, nos discos riscados pela censura. Para enfim, vermos o movimento de busca, o caminho oposto sendo feito acompanhando o fluxo do dinheiro da venda dos discos, das poucas informações nos dois álbuns disponíveis e nas possíveis pistas nas letras das músicas.
A forma como eles observam cada detalhe da capa, como o fato de algumas músicas serem assinadas por Sixto Rodriguez e outras por Jesus Rodriguez. Seriam a mesma pessoa? Afinal, quem era ele, o que aconteceu? Porque sempre havia informações sobre outros artistas norte-americanos e dele não havia nada? Até em caixa de leite a foto do artista foi parar, um costume nos Estados Unidos para pessoas desaparecidas. É incrível como eles vão tentando encontrar endereços nas letras das músicas, também. Uma aula de investigação que nos encanta.
Um dos momentos mais incômodos do documentário é a entrevista com o empresário musical Clarence Avant, o antigo dono da gravadora que lançou os dois discos do artista. Todas as gravadoras da África do Sul disseram que enviaram o dinheiro da venda para ele. E ele acaba desdenhando a situação de uma maneira quase leviana. Inclusive se contradizendo. A princípio diz que não sabia de nada e que não recebeu dinheiro algum. Depois começa a querer desmerecer a quantidade de disco vendida, como se fosse um troco sem importância. "Quem se importa?". Se ele recebia o dinheiro sem se importar em repassar para Rodriguez nunca saberemos.
A revelação do que, de fato, aconteceu a Rodriguez e a condução do filme a partir daí é o mais incrível. O documentário procura demonstrar isso na conversa com a família e acompanhando o retorno à África do Sul, onde temos imagens de grande emoção. É mesmo incrível. E essa é a força maior do documentário, construir o efeito da investigação, nos envolver naquela história fantástica e nos fazer querer conhecer mais e mais dessa figura especial que é Rodriguez. Por seu talento, sua simplicidade, sua sensatez. É de deixar qualquer um impressionado e doido para correr atrás de suas músicas.
* Filme visto no In-Edit 2013.
Searching for Sugar Man, 2012 / EUA
Direção: Malik Bendjelloul
Roteiro: Malik Bendjelloul
Duração: 86 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Searching for Sugar Man
2013-05-23T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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