
A doutora Ryan Stone e o astronauta Matt Kowalski, estão no espaço, em uma estação espacial quando destroços de um satélite russo os atinge, matando o resto da população e os deixando praticamente à deriva no espaço sideral. Mas, não vou me ater à narrativa do filme, nem mesmo às peripécias que vão sustentando a trama. Basta dizer que tudo é coerente e bem pensado. O resto é experiência.
Porque o que vale mesmo em Gravidade é essa construção detalhada de imersão que nos deixa juntos, à deriva, com a personagem de Bullock. As imagens do espaço, do planeta Terra e toda a ambientação ali é bem realizada. A fotografia impressiona e ambientação é cuidadosa, desde o detalhe da gravidade em si que coloca até as lágrimas para voarem como bolinhas de água pelo espaço, até construções mais poéticas como o Sol nascendo por trás da Terra, ou o planeta refletido no capacete dos astronautas.

O personagem de George Clooney é um ponto importante na trama, e nos dá ótimos momentos, como um mais adiante, que traz duas reviravoltas que nos deixam com sorriso nos lábios. Porém, o filme é mesmo de Sandra Bullock. A atriz se entrega ao drama da personagem Ryan Stone com uma força nunca vista em sua carreira. A cena em que ela olha pelo visor e dá o seu comunicado a Huston sobre a situação em que se encontra após se desprender do personagem de Clooney possui uma verdade incrível.

A direção de Alfonso Cuarón ainda nos reserva algumas metáforas muito boas, como a posição fetal em que ela se encontra em um momento-chave da narrativa que traduz muito de seu estado de espírito. Isso sem falar no já citado reflexo da Terra no capacete demonstrando o quão perto e quão distante, estão do objetivo. Aliás, o reflexo é utilizado com frequência no filme, seja no espelho dele olhando ela atrás, ou em uma cena-chave dela, que a vemos pelo reflexo do vidro, como rascunhos de seres humanos.

Não por acaso, Gravidade está criando tanta euforia pelo mundo. É de fato, um filme muito bem realizado, planejado, interpretado e finalizado. Há uma imersão que trabalha junto com a narrativa, nos dando uma experiência satisfatória. Como disse, impressionante.
4Dx
É importante ressaltar que a cabine do filme aqui em Salvador foi na sala 4DX, entre sacudidas de cadeira, ventos, fumaças e cheiros, pode-se imaginar que a imersão tenha sido maior. Ainda verei novamente na sala normal, para efeito de comparação. Porém, é possível perceber pelas imagens, enquadramentos e elementos cênicos do filme que tudo aquilo foi mesmo bem pensado. Na verdade, a experiência em 4DX até prejudicou algumas partes, ao sacudir em momentos que não condizia com o ponto de vista da personagem, ou mesmo no exagero da fumaça que prejudicou a imagem do clímax.
Este, no entanto, é o terceiro filme que vejo nessa sala. Já tinha tido a experiência com A Era do Gelo 4 e com As Aventuras de Pi. Diante delas, Gravidade me pareceu a com efeitos mais coerentes, que ajudam na imersão e no espetáculo criado por Alfonso Cuarón. Diminuindo a fumaça e sacudindo um pouco menos em determinados momentos, ficaria perfeito. De qualquer maneira, repito o que já disse. É uma experiência extra, como em um parque de diversões agradável. Não é cinema. E espero que não se torne a regra, mas uma exceção divertida, algumas vezes.
Gravidade (Gravity, 2013 / EUA)
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón
Com: Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris
Duração: 94 min.