Mazzaropi
O maior fenômeno do cinema brasileiro, Amacıo Mazzaropi vendeu mais de 200 milhões de ingressos em uma época em que o país tinha apenas 70 milhões de habitantes. Menosprezado pela crítica, considerado um artista "menor", ele dizia que preferia agradar ao público, pois sem ele não teria dinheiro para manter uma indústria cinematográfica e deixar seus impostos como legado para a cultura nacional. É quase irônico, então, que venha de um crítico o resgate mais do que merecido deste inestimável artista.
Celso Sabadin, crítico cinematográfico conhecido, dirigiu o seu primeiro longa-metragem no formato desta homenagem. Mas, engana-se quem pensa que o documentário Mazzaropi é apenas um daqueles resgates que só faz elogiar o seu objeto de estudo. O filme vai além e cumpre o papel que a imprensa ficou devendo ao cineasta: analisar a sua carreira de uma maneira imparcial e digna, apresentando-o a novas gerações.
O filme começa discutindo o conceito do "ser caipira". O que seria isso e por que tanto preconceito junto ao conceito? Divagando sobre o homem simples do campo, chegamos a Mazzaropi e a princípio há uma crítica a ele por tornar o caipira um estereótipo. Há também referências a Monteiro Lobato e o seu Jeca Tatu. Mas, mesmo estas pessoas que criticam a estereotipização do caipira não podem negar que Mazzaropi conseguiu se comunicar com seu público e fazê-lo se identificar na tela.
Talvez este seja o maior mérito do artista, conhecer e saber se comunicar com suas plateias. Em determinado momento, um depoente diz que ele continuava fazendo apresentações em circos mesmo depois de toda a fama no cinema porque usava a plateia como teste. Se a piada funcionasse ele guardava para usar em tela. Era inteligente e perspicaz como todo empresário de sucesso.
Produtor de sucesso, passou primeiro pela Vera Cruz e fez três filmes no Rio de Janeiro antes de abrir sua própria produtora. Atuou em todos os filmes que fez e as ideias eram também dele, apesar de ter sempre um diretor como parceiro. Estreando em apenas 25 salas, sem nenhuma força de mídia para divulgar seus filmes, era um sucesso de bilheteria. Cada filme, em média chegava a marca de 3 milhões. Isso brigando com peixes grandes como Tubarão e Spartacus.
Celso Sabadin constrói o seu documentário assim, relembrando a carreira do cineasta através de depoimentos diversos. Críticos, artistas, pessoas que conviveram com ele, inclusive a falecida Hebe Camargo que conta algumas curiosidades de quando viajava com ele em turnês. Há também cenas dos diversos filmes do artista e uma interessante pesquisa empírica onde pessoas comuns respondem à pergunta: Você conhece Mazzaropi?
É interessante ouvir as respostas das mais diversas, desde um honesto "não sei, nunca ouvi falar", passando por tentativas diversas de era um artista, um humorista, fazia filmes, trabalhava no rádio, era caipira, era engraçado. Tudo isso é Mazzaropi. E a maioria dos jovens sempre acrescentava um "meu pai adorava", "meu tio falava muito", "meu avó era fã", etc.
Mas, voltando a dualidade amor e preconceito, é interessante ver como Celso Sabadin costura os depoimentos de uma maneira inteligente e irônica ao trazer falas quase contraditórias lado a lado. A exemplo de quando uma artista diz que ele era pão duro, que o figurino de sua personagem era um vestidinho simples, feito por uma costureira e pronto. Enquanto outro vem nos dizer que ele sempre exigia o melhor, mandando comprar veludo francês.
Mas, o que fica mesmo é a reflexão sobre este fenômeno popular, negado pela classe média intelectual e amado por muitos. Mesmo hoje, ainda há preconceitos com o artista e seus filmes, ainda que muitos já busquem resgatá-lo. O que não se pode negar é que ele conseguiu ir muito além de grande parte dos artistas brasileiros. Fez cinema ao seu modo, e levou plateias a lotarem salas, vibrando, aplaudindo e se divertindo com cada frame. Não há como negar o seu valor e sua importância para a nossa história.
Mazzaropi (2013 / Brasil)
Direção: Celso Sabadin
Duração: 97 min.
Celso Sabadin, crítico cinematográfico conhecido, dirigiu o seu primeiro longa-metragem no formato desta homenagem. Mas, engana-se quem pensa que o documentário Mazzaropi é apenas um daqueles resgates que só faz elogiar o seu objeto de estudo. O filme vai além e cumpre o papel que a imprensa ficou devendo ao cineasta: analisar a sua carreira de uma maneira imparcial e digna, apresentando-o a novas gerações.
O filme começa discutindo o conceito do "ser caipira". O que seria isso e por que tanto preconceito junto ao conceito? Divagando sobre o homem simples do campo, chegamos a Mazzaropi e a princípio há uma crítica a ele por tornar o caipira um estereótipo. Há também referências a Monteiro Lobato e o seu Jeca Tatu. Mas, mesmo estas pessoas que criticam a estereotipização do caipira não podem negar que Mazzaropi conseguiu se comunicar com seu público e fazê-lo se identificar na tela.
Talvez este seja o maior mérito do artista, conhecer e saber se comunicar com suas plateias. Em determinado momento, um depoente diz que ele continuava fazendo apresentações em circos mesmo depois de toda a fama no cinema porque usava a plateia como teste. Se a piada funcionasse ele guardava para usar em tela. Era inteligente e perspicaz como todo empresário de sucesso.
Produtor de sucesso, passou primeiro pela Vera Cruz e fez três filmes no Rio de Janeiro antes de abrir sua própria produtora. Atuou em todos os filmes que fez e as ideias eram também dele, apesar de ter sempre um diretor como parceiro. Estreando em apenas 25 salas, sem nenhuma força de mídia para divulgar seus filmes, era um sucesso de bilheteria. Cada filme, em média chegava a marca de 3 milhões. Isso brigando com peixes grandes como Tubarão e Spartacus.
Celso Sabadin constrói o seu documentário assim, relembrando a carreira do cineasta através de depoimentos diversos. Críticos, artistas, pessoas que conviveram com ele, inclusive a falecida Hebe Camargo que conta algumas curiosidades de quando viajava com ele em turnês. Há também cenas dos diversos filmes do artista e uma interessante pesquisa empírica onde pessoas comuns respondem à pergunta: Você conhece Mazzaropi?
É interessante ouvir as respostas das mais diversas, desde um honesto "não sei, nunca ouvi falar", passando por tentativas diversas de era um artista, um humorista, fazia filmes, trabalhava no rádio, era caipira, era engraçado. Tudo isso é Mazzaropi. E a maioria dos jovens sempre acrescentava um "meu pai adorava", "meu tio falava muito", "meu avó era fã", etc.
Mas, voltando a dualidade amor e preconceito, é interessante ver como Celso Sabadin costura os depoimentos de uma maneira inteligente e irônica ao trazer falas quase contraditórias lado a lado. A exemplo de quando uma artista diz que ele era pão duro, que o figurino de sua personagem era um vestidinho simples, feito por uma costureira e pronto. Enquanto outro vem nos dizer que ele sempre exigia o melhor, mandando comprar veludo francês.
Mas, o que fica mesmo é a reflexão sobre este fenômeno popular, negado pela classe média intelectual e amado por muitos. Mesmo hoje, ainda há preconceitos com o artista e seus filmes, ainda que muitos já busquem resgatá-lo. O que não se pode negar é que ele conseguiu ir muito além de grande parte dos artistas brasileiros. Fez cinema ao seu modo, e levou plateias a lotarem salas, vibrando, aplaudindo e se divertindo com cada frame. Não há como negar o seu valor e sua importância para a nossa história.
Mazzaropi (2013 / Brasil)
Direção: Celso Sabadin
Duração: 97 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mazzaropi
2014-01-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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