
"Não é um filme de grande apelo popular, não é uma comédia, não tem atores globais, além de ser um filme difícil mesmo, denso. Então, as distribuidoras não tinham interesse, nem nós tínhamos verba para uma distribuição mínima", explica a produtora executiva Sylvia Abreu. Cinco anos depois e mais um edital vencido, Pau Brasil finalmente estreia com um planejamento modesto. São quatro cópias distribuídas entre Salvador e São Paulo, com perspectiva de chegar em breve ao Rio de Janeiro.
Essa é a realidade os filmes independentes. Não apenas na Bahia, ou mesmo no Brasil, como reforça a própria Sylvia Abreu, mas do cinema mundial. "O Georg Maas, diretor do filme Duas Vidas, indicado ao Oscar, disse que para ele conseguir fazer um filme são dez anos. Isso na Alemanha, então, não é uma realidade só no Brasil", diz a produtora.
Com sete longa-metragens no currículo, Sylvia Abreu se diz, muitas vezes pessimista em relação ao mercado cinematográfico alternativo. Segundo a produtora, parece que as pessoas não tem mais o prazer de ir ao cinema simplesmente para ver um filme, seja ele qual for. É aquela velha máxima do entretenimento, do cinema pipoca de shoppings, onde as comédias vencem a briga, sem dar espaço para outros gêneros. O Brasil tem em média 2 mil salas de cinema, e a grande maioria está ocupada com blockbusters. A boa notícia é que antes eram apenas os americanos, e hoje, o Brasil já tem sua própria leva de arrasa quarteirões, composta pelas comédias.

Uma das possíveis soluções apontadas pela produtora para mudar essa realidade é a educação. Um projeto de cinema na escola poderia ser uma forma de acostumar o público a ver filmes. Uma videoteca, um programa de incentivo para que os professores passem filmes nas salas, discuta com os alunos. Como já fazem com livros. Afinal, isso também é um aprendizado e também é cultura. Se a pessoa não se acostuma a ver todo tipo de filme, fica mesmo difícil escolhê-los na hora do lazer.
Pau Brasil é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Dinorath do Valle, que ganhou o Prêmio Casa de las Américas de 1984. O livro, inclusive, está esgotado e mesmo com o lançamento do filme, não houve interesse em uma reedição da obra por parte de nenhuma editora. O que demonstra a extrema dificuldade e quase invisibilidade da produção baiana, que a despeito de sua qualidade técnica e artística, não parece despertar o interesse do público.

"É um filme que abre espaço para a gente pensar", afirma Sylvia Abreu. "Eu particularmente gosto de filmes que me fazem pensar. Então, esse conceito de filme de entretenimento, acho relativo, porque para mim isso é entretenimento. É a coisa que mais gosto de fazer, me entretém, me dá prazer. Mas, criaram essa ideia de que entretenimento é o que nos faz rir. Então, as pessoas acham que filme de entretenimento é aquele em que você ri um bocado. Eu não gosto de dividir os filmes nessas categorias. Acho que as pessoas devem ir para ver uma coisa diferente, para pensar, para conhecer outros mundos, outras ideias. Acho que cinema sempre vale a pena", completa.
Concordamos muito com Sylvia, "cinema sempre vale a pena". E é só vendo muitos filmes que vamos conseguir aprender, experimentar e vibrar com essa arte. E é preciso que haja espaço para todos eles, seja na salas de cinema, seja nos meios de comunicação e em discussões na internet. Atualmente, produzindo o filme Travessia que tem nomes conhecidos como Caio Castro e Chico Diaz no elenco, a produtora percebe a diferença do tratamento da imprensa em geral. "Outro problema que temos com os filmes baianos, é que a gente não consegue espaço na mídia para divulgá-lo. A gente não vê jornalistas nos procurando para falar com os atores, para saber do filme. Estou vendo isso agora com Pau Brasil, que o espaço de mídia é pequeno. No entanto, em relação à Travessia, que ainda nem aconteceu, a gente tem tido um grande assédio por conta do ator Caio Castro", explica.

Pau Brasil foi montado e finalizado na Alemanha, na produtora 40º Filmproduktion do brasileiro Andre Bendocchi Alves, que se encantou com o filme e resolveu tornar-se co-produtor. E é possível ver esse cuidado na obra, seja em imagem ou som. Há qualidade também nos atores e no textos, ainda que seja, de fato, de difícil acesso às grandes massas, por ter uma estrutura diferente do cinema clássico, assim como ter a figura do arauto grego, criando digressões filosóficas. Ainda assim, é possível a qualquer um compreender a história e o objetivo do filme. Só falta mesmo chegar ao público, ainda que em trabalho de formiga, no boca-a-boca e em textos como esse. Falta muito ao cinema independente, mas já conseguimos ver uma luz no fim do túnel. Vamos torcer para que outros surjam a cada dia.