
Adam e Eve são um casal de vampiros que vivem em cidades separadas, mas, continuam se amando. Os nomes do primeiro casal da humanidade já é uma ironia sintomática. Ainda que uma das lendas nos diga que os vampiros são filhos, na verdade, de Lilith, a verdadeira primeira mulher.
Fato é que Adam vivem em Detroit e Eve em Tangier. Mas, é interessante que, mesmo distantes, eles parecem tão próximos pela afinidade, amor e também um certo cansaço dos tempos modernos. A cena inicial em que cada um está prostrado, ela na cama, ele no sofá, nos parece construída de forma tão harmônica em enquadramento, direção de arte, movimentos e trilha sonora que parece que estão no mesmo apartamento, ainda que em cômodos diferentes.

A desilusão com a humanidade é demonstrada no sentimento de cansaço de ambos, assim como no fato de se referir a eles como zumbis. Mas, é interessante que ainda que eles os desprezem, os respeitam de alguma maneira. Tanto que não mais mordem vítimas por aí. "Coisa da idade média", diria Eve. Há uma espécie de contrabando de bancos de sangue que os mantem vivos. E sempre do tipo O negativo, logo um dos mais raros por aí, o doador universal.


O jogo construído em relação ao talento musical de Adam, que já "deu" sua criação a diversos nomes da história, ou de Marlowe com a ciência, também disponibilizando suas pesquisas para outros assinarem, traz ainda uma crítica e ironia em relação a nossas referências. E até que ponto idolatramos símbolos.
Todo o filme está repleto disso, e é prazeroso assistir a tudo. Só há um senão em sua conclusão, que também traz um viés irônico, mas que acaba não sendo um fecho digno de tudo que vimos até então. De qualquer maneira, um filme instigante que merece nossa atenção.
Amantes Eternos (Only lover left alive, 2014 / Alemanha/ Reino Unido/ França/Chipre)
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Com: Tilda Swinton, Tom Hiddleston, Mia Wasikowska, Anton Yelchin, John Hurt
Duração: 123 min.