
Um Sonho Intenso analisa o Brasil República. Literalmente, começa com a república do café com leite e vai até o governo Lula, passando por todos os presidentes, eleitos ou impostos, mas analisando pelo viés econômico e, não, político. Ainda que não se possa dissociar tão bem as duas coisas. O filme é composto por uma estrutura simples e padrão de depoimentos e imagens de preenchimento que ilustram a época analisada.

O roteiro também é bem conduzido com os depoimentos seguindo a ordem cronológica do país e falando de maneira simples e fácil para que qualquer leigo entenda, mas com substância. Uma espécie de aula de História e Economia. Não por acaso, o filme fez um circuito por universidades antes de estrear comercialmente. Pode ser bastante útil para estudantes em geral que queiram entender um pouco mais sobre a história do país.

E é interessante que mesmo em questões polêmicas como Getúlio Vargas, o discurso é o mesmo. Um dos entrevistados, Francisco de Oliveira, até se desculpa, "é difícil falar do Getúlio porque ele foi um ditador, mas ele foi o grande criador do Estado Nacional". De maneira bem simplista, os pensamentos se unem para mostrar que Getúlio nos deu uma base social e Juscelino, os avanços econômicos, mas que a questão do campo ainda era o problema. E foi isso que Jango tentou resolver, quando os militares interviram com o golpe. Questão que foi retomado apenas no governo Lula, já que Sarney, Itamar e Fernando Henrique estavam tentando combater a inflação que herdamos da ditadura.

Contra fatos, não há argumentos, diriam alguns. Mas, será que não tem outra visão dessa mesma moeda? Apenas jogando questionamentos que o filme não fez, não é um crítica definitiva, até porque uma prova de que o filme tem um viés econômico e não político, é ver que Collor é mostrado apenas pelo confisco da poupança e a desvalorização da indústria automobilista ao dizer que os carros brasileiros eram "carroças". O impeachment e a corrupção nem entram em pauta. Assim como o golpe militar também não é analisando enquanto forma de governo, torturas ou algo parecido, ficando apenas nos investimentos feitos na época e consequências disso.
De qualquer maneira, o documentário ainda que não inove na linguagem e tenha uma visão unilateral, traz resgastes interessantes, visões importantes sobre a nossa história econômica e perguntas que ficam no ar, como maneira de pensar o que queremos enquanto sociedade. "Queremos virar uma caricatura dos Estados Unidos?" como pergunta João Manuel Cardoso de Melo. E se alguns quiserem, como fica?
Um Sonho Intenso (2015 / Brasil)
Direção: José Mariani
Roteiro: José Mariani
Consultor: Ricardo Bielschowsky
Duração: 101 min.