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O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino
O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino
Em 2001, Ang Lee levou aos cinemas a fábula O Tigre e o Dragão. Um filme repleto de mitologias e cenas de lutas impressionantes. Era belo ver aqueles atores voando em telhados e duelando, a direção era precisa e a fotografia bem empregada. Mas, era mais do que isso, era um melodrama bem feito, não por acaso levou diversos prêmios pelo mundo, inclusive o Oscar de melhor filme estrangeiro, melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor trilha sonora. Uma sequência era esperada e ela sai agora pelas mãos da Netflix que já começa a demonstrar ser melhor em séries que em filmes.
Não que A Espada do Destino seja um filme ruim. A direção agora ficou por conta de Woo-Ping Yuen, responsável pela coreografia das lutas do primeiro filme. E elas continuam belas e empolgantes, assim como a fotografia é bem empregada e os efeitos especiais bem feitos. Mas, falta uma história mais convincente e com desenrolar mais envolvente. Tudo na obra soa marcado, cênico, sem alma.
Ainda que o enredo gire em torno da posse da lendária espada do destino de lâmina verde, o mote agora é a vingança. A jovem Snow Vase quer vingar sua mestra e é a garota que, de certa forma, faz a narrativa andar desde sua primeira tentativa de matar o déspota Hades Dai, passando pelo momento em que pede a Yu Shu Lien, novamente interpretada por Michelle Yeoh, para treiná-la, até o momento em que decide o que fazer com o jovem Tiefang. Todos os outros enredos são apenas para preencher espaços, como os guerreiros convocados para defender a espada que vem e vão sem muita importância para o público ou mesmo a herança de Li Mu Bai.
E nisso reside um dos grandes problemas do filme. Nada parece consistente ou com maior importância. Os personagens são rasos, sem motivações que criem empatia ou mesmo nos faça torcer por eles. As próprias revelações do passado são jogadas em tela de maneira pouco envolvente. O vilão, então, é construído de uma forma tão caricata e maniqueísta que não ajuda na luta dos heróis. A própria Yu Shu Lien, antes com questões bem mais complexas e profundas aqui parece uma caricatura de si mesma.
Ainda assim, o filme não falha enquanto entretenimento leve. Como já foi dito, as cenas de luta são envolventes e bem orquestradas, umas mais inspiradas que outras, mas no geral há um bom balé de espadas e corpos. Destaque para uma luta no gelo e outra nos telhados na parte final. Há ainda a demonstração de controle nos treinamentos de Snow Vase e a cena na floresta onde Yu Shu Lien demonstra toda a sua potência.
Uma produção OK, no entanto, fica aquém da obra e impacto que representou O Tigre e O Dragão no início do século, e isso acaba nos decepcionando. A sensação de que esta é uma continuação feita apenas para ganhar dinheiro em cima da fama do antecessor. Ou criar algum tipo de efeito simbólico para a Netflix que abriu de vez a guerra contra os estúdios. Da mesma forma como Beasts Of No Nation, o filme está sofrendo boicote nas salas de cinema, tendo dificuldade de distribuição fora do sistema stream próprio.
Há uma luta interessante que quer quebrar rótulos e barreiras de uma empresa que já foi uma locadora de vídeo, passou a produtora de séries e agora longa-metragens, não se conformando apenas com o reconhecimento de televisão, mas querendo também as salas de cinema. Não sei onde isso chegará, mas este filme reforça a sensação de que, enquanto as séries originais estão sendo bem recebidas por público e crítica, os filmes ainda possuem um longo percurso de aceitação e apuro de qualidade.
De qualquer maneira, é um entretenimento curioso e com alguns destaques pontuais, mas que se configura mesmo em uma continuação desnecessária de um filme que marcou a história do cinema.
O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino (Crouching Tiger, Hidden Dragon: Sword of Destiny, 2016 / China / EUA)
Direção: Woo-Ping Yuen
Roteiro: John Fusco
Com: Donnie Yen, Michelle Yeoh, Harry Shum Jr., Natasha Liu Bordizzo, Jason Scott Lee
Duração: 96 min.
Não que A Espada do Destino seja um filme ruim. A direção agora ficou por conta de Woo-Ping Yuen, responsável pela coreografia das lutas do primeiro filme. E elas continuam belas e empolgantes, assim como a fotografia é bem empregada e os efeitos especiais bem feitos. Mas, falta uma história mais convincente e com desenrolar mais envolvente. Tudo na obra soa marcado, cênico, sem alma.
Ainda que o enredo gire em torno da posse da lendária espada do destino de lâmina verde, o mote agora é a vingança. A jovem Snow Vase quer vingar sua mestra e é a garota que, de certa forma, faz a narrativa andar desde sua primeira tentativa de matar o déspota Hades Dai, passando pelo momento em que pede a Yu Shu Lien, novamente interpretada por Michelle Yeoh, para treiná-la, até o momento em que decide o que fazer com o jovem Tiefang. Todos os outros enredos são apenas para preencher espaços, como os guerreiros convocados para defender a espada que vem e vão sem muita importância para o público ou mesmo a herança de Li Mu Bai.
E nisso reside um dos grandes problemas do filme. Nada parece consistente ou com maior importância. Os personagens são rasos, sem motivações que criem empatia ou mesmo nos faça torcer por eles. As próprias revelações do passado são jogadas em tela de maneira pouco envolvente. O vilão, então, é construído de uma forma tão caricata e maniqueísta que não ajuda na luta dos heróis. A própria Yu Shu Lien, antes com questões bem mais complexas e profundas aqui parece uma caricatura de si mesma.
Ainda assim, o filme não falha enquanto entretenimento leve. Como já foi dito, as cenas de luta são envolventes e bem orquestradas, umas mais inspiradas que outras, mas no geral há um bom balé de espadas e corpos. Destaque para uma luta no gelo e outra nos telhados na parte final. Há ainda a demonstração de controle nos treinamentos de Snow Vase e a cena na floresta onde Yu Shu Lien demonstra toda a sua potência.
Uma produção OK, no entanto, fica aquém da obra e impacto que representou O Tigre e O Dragão no início do século, e isso acaba nos decepcionando. A sensação de que esta é uma continuação feita apenas para ganhar dinheiro em cima da fama do antecessor. Ou criar algum tipo de efeito simbólico para a Netflix que abriu de vez a guerra contra os estúdios. Da mesma forma como Beasts Of No Nation, o filme está sofrendo boicote nas salas de cinema, tendo dificuldade de distribuição fora do sistema stream próprio.
Há uma luta interessante que quer quebrar rótulos e barreiras de uma empresa que já foi uma locadora de vídeo, passou a produtora de séries e agora longa-metragens, não se conformando apenas com o reconhecimento de televisão, mas querendo também as salas de cinema. Não sei onde isso chegará, mas este filme reforça a sensação de que, enquanto as séries originais estão sendo bem recebidas por público e crítica, os filmes ainda possuem um longo percurso de aceitação e apuro de qualidade.
De qualquer maneira, é um entretenimento curioso e com alguns destaques pontuais, mas que se configura mesmo em uma continuação desnecessária de um filme que marcou a história do cinema.
O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino (Crouching Tiger, Hidden Dragon: Sword of Destiny, 2016 / China / EUA)
Direção: Woo-Ping Yuen
Roteiro: John Fusco
Com: Donnie Yen, Michelle Yeoh, Harry Shum Jr., Natasha Liu Bordizzo, Jason Scott Lee
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino
2016-03-11T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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