O Contador
Em sua estrutura principal, O Contador é parecido com diversos filmes de ação e espionagem que temos por aí. Tem agentes caçando um homem. Esse homem tem várias habilidades e aparatos. Tem uma garota que vira vítima e precisa ser protegida. Tem reviravoltas. Mas tem um detalhe, o protagonista é portador da Síndrome de Asperger, uma forma leve de autismo.
Essa peculiaridade de Christian Wolff, vivido por Ben Affleck, faz toda a diferença na obra, porque parece que Gavin O'Connor e o roteirista Bill Dubuque querem passar uma espécie de mensagem sobre os portadores da doença. Uma tentativa de acabar com o preconceito de que são incapazes, talvez. Principalmente pelas cenas finais da obra.
Isso traz questões positivas e negativas para a trama. As negativas são relacionadas à necessidade de uma mensagem ou algo parecido. Principalmente na resolução, que nos dá algumas sensações estranhas. Já as positivas estão nas possibilidades de aprofundamento psicológico do personagem, que o filme não explora tão bem, é verdade, mas traz sempre paralelos entre o presente e o passado, assim como os "TOCs" desenvolvidos pelo protagonista para conseguir se concentrar.
O fato é que, apesar da questão do autismo, O Contador é um filme bastante tradicional de espionagem com um agente especial super forte e hábil para lutar e fugir dos inimigos. A diferença é que ele tem um trabalho como contador de diversas organizações criminosas e sua principal habilidade é ajudar a encobrir possíveis golpes.
O roteiro cria um plot questionável ao fazer Christian, esse homem "frio e calculista", extremamente metódico e distante emocionalmente de pessoas, mudar seu planejamento de segurança para ajudar uma jovem que acaba de conhecer. A contadora Dana Cummings, vivida por Anna Kendrick, é o estopim de um acontecimento que leva o contador a ter que fugir, mas ele resolve ajudá-la também, já que ambos ficam na mira de uma facção criminosa.
Não que isso mude o rumo dos filmes de ação em geral, afinal, como já disse, todos parecem querer colocar uma mulher no papel da vítima a ser salva pelo herói. A questão é que o anti-herói Christian não se encaixa exatamente nesse perfil. E o filme acaba sendo conduzido por um caminho raso tendo aberto tantas possibilidades mais interessante devido às características de seu protagonista. E nisso, nem estou entrando no mérito da reviravolta final.
De qualquer maneira, Gavin O'Connor conduz o filme em um ritmo envolvente, com muitas cenas de ação e algumas coreografias bem orquestradas, sem perder o sarcasmo e ironia em alguns detalhes, como quando o casal de clientes assiste a uma ação. Ou na luta final, quando parte das cenas são vistas pelas câmeras de segurança por determinado personagem. Ben Affleck também consegue se encaixar bem na personagem sem emoção, com uma expressão quase sempre igual.
O Contador é, então, um filme sem grandes atributos, mas também sem grandes problemas. Uma obra de ação mediana que tinha potencial para mais, só que acaba ficando estranha por não embarcar a fundo naquilo que parecia se propor que era discutir as possibilidades de pessoas autistas conviver em sociedade.
O Contador (The Accountant, 2016 / EUA)
Direção: Gavin O'Connor
Roteiro: Bill Dubuque
Com: Ben Affleck, Anna Kendrick, J.K. Simmons, Jon Bernthal
Duração: 128 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Contador
2016-10-20T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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