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O Shaolin do Sertão
O Shaolin do Sertão
Depois do sucesso Cine Holliúdy, era esperado que Halder Gomes continuasse sua trajetória com comédias populares com um jeito regional. O Shaolin do Sertão não é falado em "cearensês", e mescla humoristas locais com de outras regiões, mas continua trazendo o tempero nordestino para o resto do país em uma aventura divertida, ainda que com alguns problemas de ritmo.
O filme se passa na década de oitenta e é interessante como a estética dos antigos VHS é misturada na trama através dos sonhos de Aluisio Li, um padeiro que sonha em se tornar mestre de Kung Fu. Com uma fita de Bruce Lee guardada em seu quarto junto a diversos posteres e referências à cultura oriental, ele se imagina em cenários chineses nas situações mais engraçadas, mas na vida real não consegue aplicar um único golpe e é sempre ridicularizado. A vida de Aluisio muda quando chega a notícia de que um campeão de luta livre irá à cidade desafiar possíveis adversários. Ele resolve, então, aceitar o desafio buscando um professor para ingressá-lo nas artes marciais.
As referências de filmes de Kung Fu são muito divertidas, pois brinca com as situações sem deixar de demonstrar o quão sério isso é para o protagonista. Trazer Falcão para ser seu instrutor e a maneira no mínimo diferente com que ele treina é um dos pontos altos da trama. Ao mesmo tempo, por mais que tudo pareça uma enrolação traz significados interessantes para essa mistura de culturas.
A saga do Shaolin do Sertão, no entanto, poderia ser melhor trabalhada. A economia narrativa não parece tão acertada aqui nesse roteiro, faltando fôlego para justificar a duração, principalmente porque gasta muito tempo na luta final tornando-a cansativa e repetitiva. A própria estrutura da cidade e da disputa política poderiam ser melhor trabalhada para que isso não acontecesse.
De qualquer maneira, o filme se fia no talento dos seus humoristas. Principalmente no talento de Edmilson Filho que consegue demonstrar sua versatilidade em uma personagem completamente diferente de Cine Holliúdy, mas também com um toque regional e com uma temática parecida: o sonho, a luta e o cinema. Destaque ainda para Falcão, Frank Menezes como um político oportunista e Fafy Siqueira como a mãe de Aluisio. Já Dedé Santana está caricato e bem distante dos bons momentos dos Trapalhões.
As brincadeiras com o cinema geram também momentos divertidos e bem construídos como quando Shaolin se consulta com o seu "Bruce Lee" em uma simulação com direito a fala falseando chinês e legendas deixando a situação ainda mais engraçada. Isso sem falar nas cenas construídas para ilustrar a imaginação de Aluisio.
Halder Gomes consegue brincar e se levar a sério ao mesmo tempo, o que é algo interessante de observar em seus dois filmes. Ambos seguem a mesma premissa de trazer o regional para o mundial através da paixão pelo cinema. Nisso está a seriedade que emprega na obra. Mas, ao mesmo tempo, não se leva completamente a sério, criando piada para tudo e construindo uma estética própria. Como disse, um filme divertido. Quem gostou de Cine Holliúdy provavelmente aprovará este também.
O Shaolin do Sertão (O Shaolin do Sertão, 2016 /Brasil)
Direção: Halder Gomes
Roteiro: Halder Gomes, L.G. Baião, Edmilson Filho
Com: Edmilson Filho, Fábio Goulart, Bruna Hamú, Dedé Santana, Marcos Veras, Fafy Siqueira, Falcão, Frank Menezes
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Shaolin do Sertão
2016-10-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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