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Como preparar seus filhos para o mundo? Quais são os valores que importam na vida? O que é certo? E o que é errado? Capitão Fantástico é uma espécie de tese sobre questionamentos básicos da humanidade. E o que chama mais a atenção na obra de Matt Ross é a capacidade de dar voz a todas as visões, ainda que conduzidas pela personagem de Viggo Mortensen.
Ben vive com seus seis filhos em uma floresta. A maneira de sobrevivência da família é bastante rústica. Eles caçam, escalam montanhas, aprendem a lutar, plantar. Mas também estudam os principais filósofos e pensadores, aprendendo sobre tudo um pouco e tendo uma visão anti-capitalista. A rotina, no entanto, é interrompida por um acontecimento trágico, fazendo-os ter que encarar o mundo, expondo diferenças e conflitos.
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Uma coisa é um adulto se retirar da sociedade, a outra são crianças serem criadas à parte dela. O método de Ben e sua esposa não era errado, mas também não era certo. Era apenas um ponto de vista. O filme nos dá ele como porta-voz daquela história e acabamos criando empatia com ele, "vilanizando" o sogro, talvez. Porém, momentos são mostrados onde nem tudo era perfeito quanto Ben queria. Seus filhos estavam preparados para sobreviver, tanto fisicamente quando intelectualmente, porém, não emocionalmente.
O mundo é cruel, o capitalismo é selvagem, sem querer defender filosofias aqui, apenas constatando realidades. É preciso malícia para viver nesse mundo. Ainda que com boa índole, é preciso compreender como ele funciona, como as pessoas agem. Isso os filhos de Ben não tinham. Por mais que eles fossem criados com preceitos verdadeiros e francos, sem tabus em relação ao sexo ou ao suicídio, por exemplo, eles não estavam preparados para as pessoas, vide o encontro do primogênito com uma garota.
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Fazer pensar é algo que vemos Ben estimulando o tempo todo nos filhos. Como quando ele pede para a filha dizer o que está achando do livro Lolita. A beleza do roteiro de Matt Ross está nesses pequenos detalhes que acabam por nos ajudar a raciocinar também a obra que estamos vendo. Assim como em Lolita, temos aqui uma visão, a de Ben. Somos conduzidos por ela e muitas vezes nos questionamentos sobre suas escolhas, nos aproximando e afastando ao mesmo tempo dele.
Matt Ross nos faz pensar também em imagens. São diversos momentos fortes, como a já citada expressão dos garotos vendo os primos jogando videogame. Ou quando vemos a maneira orgânica com que um simples batuque se torna uma comunhão familiar através da música. Ou ainda um dos momentos mais fortes do filme, quando a música do Guns n´ Roses, Sweet Child O' Mine, é tocada de uma maneira acústica, casando perfeitamente com a mensagem da cena. A letra de Axl Rose e companhia nunca me pareceu tão bela quanto nesse momento.
Capitão Fantástico é um filme que nos faz pensar e sentir ao mesmo tempo. Talvez como os teóricos do Teatro Épico nunca imaginassem ser possível. A emoção aqui não nos anestesia, mas é forte, intensa e nos envolve, ao mesmo tempo em que somos convidados o tempo todo a refletir sobre ela. Uma experiência intensa e incrível, ainda que Ben não fosse aceitar esses meus adjetivos simples para descrever sua trajetória.
Capitão Fantástico (Captain Fantastic, 2016 / EUA)
Direção: Matt Ross
Roteiro: Matt Ross
Com: Viggo Mortensen, George MacKay, Samantha Isler, Frank Langella
Duração: 118 min.