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Juliana Antunes
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Baronesa
Baronesa
Grande vencedor da Mostra Tiradentes de 2017, o documentário Baronesa foi o escolhido para encerrar o 6º Olhar de Cinema de Curitiba e não poderia ter escolha melhor. Em um festival tão diverso quando o da capital paranaense, onde o olhar político e social é sempre privilegiado, o filme de Juliana Antunes cai como uma luva, uma maneira de refletir sobre tudo que foi visto na última semana.
O documentário acompanha a vida de Andreia e Leidiane, duas moradoras de uma favela local que está em guerra de gangues rivais por causa do tráfico. Isso assusta e incomoda Andreia que quer se mudar para um terreno que invadiu no fictício bairro de Baronesa. Já Leidiane parece não se importar, convivendo e aceitando sua realidade com quatro filhos, um marido preso e um futuro incerto.
Apesar de ser um híbrido (ficção e documentário), a linguagem do filme é literalmente o conceito de "mosca na parede" do movimento do cinema direto, onde teoricamente a câmera não interfere na rotina dos retratados, expondo-os de maneira extremamente íntima, como se não estivesse ali. Assim, acompanhamos a rotina daquelas pessoas, flagrando momentos delicados como uma problema sério com uma das crianças que chega a incomodar diante da gravidade da mesma e da reação de mãe e tia diante do acontecido. Temos também momentos líricos, como uma brincadeira com água ou conversas divertidas entre Andreia e Negão, um rapaz que está sempre por ali.
A presença de Negão, no entanto, não tira o caráter extremamente feminino da obra. O que chama atenção, já que o universo da favela costuma ser retratado de maneira tão masculina, até pela violência e disputas existentes. A inversão do olhar que traz simbologia até mesmo no título da obra e do bairro fictício constrói uma observação única sobre a situação da mulher da periferia, seus pensamentos, anseios e dores sofridas. Um universo onde o homem está sempre ausente, preso, morto ou em risco.
Presenciar o pensamento de Andreia é fascinante e assustador ao mesmo tempo. Seu raciocínio diante da realidade que vive, tudo que já sofreu, inclusive abuso sexual na infância, os medos, os anseios. A maneira como diz ter se fechado ao amor, mas cria um vínculo afetivo com Negão. A preocupação com seu irmão preso que é retratada em uma singela cena de escrita de uma carta. A maneira como coisas simples se tornam tão caras em uma realidade dura como aquela. Não é de se estranhar que ela queira fugir dali, que anseie por algo novo, seguro. E que esse local seja fictício, como se algo assim não lhe fosse permitido de fato.
Há, talvez, apenas algumas questões éticas com uma abordagem tão explícita que invade a privacidade daquelas pessoas. Ainda que não saibamos o quanto tem de ficção e realidade, há uma "verdade" em cena que vem da própria experiência de mundo daquelas personagens. Por mais que a presença da câmera modifique o cenário e por mais que a equipe do documentário conduza algumas situações, vemos em tela uma experiência viva. E muitas vezes através de uma lente que assusta, como pessoas cheirando cocaína, confessando crimes, treinando tiros em coletes à prova de bala, além da já citada cena com as crianças. Isso sem falar em um susto que nos coloca dentro da realidade daquele local de uma maneira extremamente chocante, por mais que tenha sido uma simulação.
De qualquer maneira, Baronesa é um documentário poderoso, avassalador em diversos aspectos, que nos deixa pensando sobre a realidade de tantas mulheres como Andreia e Leidiane. É impossível assistir a tudo aquilo de maneira passiva.
Filme visto no 6º Olhar de Cinema de Curitiba.
Baronesa (Baronesa, 2017 / Brasil)
Direção: Juliana Antunes
Roteiro: Juliana Antunes
Com: Andreia Pereira de Sousa, Leidiane Ferreira, Gabriela Souza, Felipe Rangel dos Santos
Duração: 73 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Baronesa
2017-06-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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