Superpopulação, escassez de recursos, só um filho permitido por família. Não podemos dizer que seja algo tão absurdamente distante se pensarmos na realidade da China. Porém, a ficção científica dirigida por Tommy Wirkola põe um molho a mais nisso ao criar efeitos colaterais de alimentos geneticamente modificados que faz nascer muitos gêmeos. O plano proposto por Nicolette Cayman, interpretada por Glenn Close, é a criptogenia dos irmãos à espera de um futuro melhor.
O universo ficcional presente na obra é extremamente rico. Porém, o roteiro de Max Botkin e Kerry Williamson não parece querer aprofundar temáticas, mesmo personagens. Tudo parece se resumir a se divertir vendo Noomi Rapace sete vezes na tela. É que a atriz sueca interpreta Karen Settman, ou melhor, as sete irmãs que compõem sua persona. Divididas entre os dias da semana, elas tem o seu dia para sair de casa e "interpretar" Karen. Porém, tudo se complica quando Segunda não volta para casa no horário habitual.
O título óbvio conduz, então, na trama investigativa. Porém, esta também está subordinada à trama de ação em que se transforma a narrativa em determinado momento. E tudo parece se tornar frágil tal qual o esquema criado pela personagem de Willem Dafoe, avô das crianças. Não é difícil deduzir onde está Segunda a partir de algumas pistas iniciais. O roteiro tenta criar uma virada ao explicar o motivo na resolução, mas isso não convence, nem tira a sensação de uma boa ideia desperdiçada. Não que o filme seja ruim. É envolvente, principalmente em sua primeira parte, quando passado e presente se intercalam. E mesmo quando se torna uma correria, com direito a tiro, lutas e explosões, há um ritmo que nos prende, curiosos com o desfecho. Mas tudo isso acaba sendo extremamente vazio, quando tinha elementos para aprofundar não apenas o universo quanto as personagens.
Noomi Rapace cumpre o seu papel, ou papéis. Cada irmã tem uma personalidade diferente facilmente identificável, não apenas pelo figurino e penteado. A postura, o olhar, o modo de se portar, tudo nos convence de estarmos vendo sete mulheres diferentes. O efeito especial também é bem feito, nos dando a sensação delas estarem ali interagindo uma com a outra. Porém, ficamos com seus estereótipos. Tudo é muito superficial, não dá para saber de fato quem são elas. O mesmo acontece com a personagem de Glenn Close. Quase como um ser exótico que lembra em algum aspecto lembra Tilda Swinton em Okja. Virou quase uma alegoria, sem muitas nuanças do que seja aquela mulher, o que ela pretende de fato, se tem sentimentos, remorsos. E, principalmente, se realmente acredita naquilo que fala sobre o possível futuro.
Onde está Segunda? tinha potencial para muito mais. Nada de inovador, já que bebe na fonte de diversas ficções científicas, ainda assim promissor e criativo. Porém, tudo acaba se resumindo à correria e tentativas de nos enganar com mistérios óbvios e outros truques. Tendo, inclusive o clichê de troca de irmãs em determinados momentos. Uma pena.
Onde está Segunda? (What Happened to Monday?, 2017 / Reino Unido)
Direção: Tommy Wirkola
Roteiro: Max Botkin, Kerry Williamson
Com: Noomi Rapace, Glenn Close, Willem Dafoe, Marwan Kenzari
Duração: 123 min.
