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Géza Morcsányi
Ildikó Enyedi
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Zoltán Schneider
Corpo e Alma
Corpo e Alma
Sonhos. Encontros de almas. Um cervo e uma cerva passeiam por uma paisagem de neve, buscam comida, buscam um ao outro para sobreviver ao frio e à solidão. Essas cenas que literalmente perpassam a trama de Corpo e Alma são mais que metáforas, acabam demonstrando a essência de seus protagonistas.
Endre e Mária. Ele parece cansado, sem mais acreditar no sentido das relações humanas. Ela, autista, nunca soube lidar muito bem com isso. A partir de olhares instigados, vão se aproximando. E quando descobrem que seus sonhos (literais e não desejos) são iguais, percebem que há uma ligação maior do que eles próprios supunham. Relacionar-se torna-se quase uma obrigação, e como toda obrigação incomoda e assusta.
A diretora Ildikó Enyedi constrói esse incômodo em imagens. Sempre buscando ângulos inusitados, costurando esses dois mundos de maneira própria, intercalando com o próprio gado a ser abatido no abatedouro em que trabalham. Há uma certa assepsia nos cenários, além de cores de cores frias passando um pouco das personalidades dos dois protagonistas, mesmo o sangue não parece tão vivo em tela, apenas quando há uma mudança de comportamento.
A neve em que os cervos passeiam durante o sonho dos dois também traz esse cenário sempre frio, pouco convidativo, o que não deixa de ser curioso, já que os animais parecem seguir em seus instintos uma aproximação. Há uma busca do outro pelo olhar, pelo cheiro, pelas atitudes que demonstram que, no fundo, ambos não querem estar sós.
O fato de Mária ser autista e não saber lidar tão bem com as emoções, ajuda nessa concepção estranha e bela ao mesmo tempo do encontro dessas duas almas. A maneira racional como ela lida com a ideia das emoções não deixa de ser curiosa. Inclusive em suas idas ao psicólogo infantil, demonstrando um certo apego a uma ajuda familiar, já que o próprio profissional insiste para que ela procure um especialista em adultos.
Ainda assim, parece que tudo no filme é tão calculado nessa concepção perfeita que não consegue acessar as emoções. Nem mesmo uma cena extremamente forte em determinado momento consegue impactar a ponto de nos envolvermos com aquelas personagens. Pode ser exatamente a intenção da diretora, mas a sensação é que somos meros espectadores daquela trama, o que torna a experiência mais difícil.
De qualquer maneira, Corpo e Alma é uma obra bem realizada que chama a atenção em sua proposta de apresentar um inusitado caso de amor.
Corpo e Alma (Teströl és lélekröl, 2017 / Hungria)
Direção: Ildikó Enyedi
Roteiro: Ildikó Enyedi
Com: Géza Morcsányi, Alexandra Borbély, Zoltán Schneider
Duração: 116 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Corpo e Alma
2018-02-27T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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