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John Gordon Sinclair
Susanna Nicchiarelli
Trine Dyrholm
Nico, 1988
Nico, 1988
Christa Päffgen foi uma roqueira alemã, mais conhecida como Nico, e associada à banda The Velvet Underground da qual fez parte por um breve período. O maior mérito do filme de Susanna Nicchiarelli é não tentar construir uma cinebiografia da cantora, mas se concentrar em um período específico com sua última turnê pelo mundo, construindo uma bela experiência de personagem.
A atriz Trine Dyrholm faz um excelente trabalho de construção dessa persona em decadência, vivendo de um passado que não suporta, buscando ainda ali o seu caminho. Com um discurso pessimista de quem não se importa mais com a música, Nico se destrói e reconstrói em cena, viciada em heroína, irritada com entrevistas de pessoas que realmente não a conhecem, cercada por músicos amadores e com dificuldades financeiras. Mas traz também pessoas que a amam e admiram como o empresário que a acompanha e posteriormente o filho que havia abandonado.
É curioso que em seu show mais complicado é que podemos ver sua verdadeira potência no palco. Potência essa que é alimentada pela vibração da plateia que realmente a conhece e admira, cantando suas canções e vibrando com os acordes da melodia. Com esses pequenos momentos de êxtase, o filme não apenas resgata aquilo que a artista representa como discute a verdadeira motivação daquilo tudo. A eterna busca por aceitação e sonhos que nunca param de existir.
Sempre carregando um gravador portátil, em determinado momento Nico diz que busca o som de sua infância, de Berlim sendo bombardeada ao final da guerra. Esse é o espírito libertário que o rock representa, independente da questão política. E isso que borbulha dentro daquela mulher vista como exótica que parece não mais se encaixar no mundo em que vive. Um rascunho do que fora, mas também um ser completo que tem seus próprios desejos e vontades que vão além das expectativas do outro.
O resgate de sua relação com Ari, o filho que foi criado pelos sogros e está sempre tentando o suicídio, é outro ponto forte da obra. Porque traz também muito do que foi e do que é Nico naquele momento. Uma garota que engravidou muito jovem e que tinha uma vida incerta, mas que não deixa de ter um laço de afeto com aquele ser que também anseia por seu carinho. Chama a atenção a relação entre os dois de falta e preenchimento constante, construídas em pequenas cenas como o encontro no hospital.
Repleto de números musicais, o filme é construído em um tom melancólico e reflexivo que as próprias músicas da cantora suscitam, mas trazem também paradoxalmente uma vontade de viver. Sua estrutura road movie acaba nos envolvendo e tornando próximos a essa artista enigmática.
Nico, 1988 não é um filme perfeito, mas encontra em suas variações de ritmo e humor um encanto próprio coroados pela bela interpretação de Trine Dyrholm, força maior da experiência.
Nico, 1988 (Nico - 1988, 2018 / Itália)
Direção: Susanna Nicchiarelli
Roteiro: Susanna Nicchiarelli
Com: Trine Dyrholm, John Gordon Sinclair, Anamaria Marinca
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Nico, 1988
2018-09-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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